

Podia ter acontecido noutro dia qualquer ... a gravidade teria sido a mesma! Mas por ter acontecido
precisamente no dia 25 de Abril, passados 33 anos de 1974, o significado é ainda mais notado!
Primeiro foi o ridiculo, da Polícia ter mobilizado homens para protecção do cartaz que o grupo de extrema-direita chamado de "PNR" tem no Marquês de Pombal, em Lisboa. Um cartaz racista ali diante de uma manifestação que comemorava o fim do regime que esse grupo defende e gostaria de voltar a impor. Qual o espanto de se terem arremassado tomates podres ao cartaz? O que defendia a Polícia e, principalmente, quem ordenou que a Polícia li estivesse?
Depois no fim da manifestação a investida da Polícia perante pessoas afectas ao movimento "Não Apaguem a Memória" que quereriam dirigir-se para a sede do tal "PNR"... A Polícia parece que só viu "provocadores"que "terão agredido" agentes seus. O que é contestado pelos jovens que foram detidos (e hoje libertados com a medida de Termo de Identidade e Residência) e que têm uma versão contrária.
É claro que a versão da Polícia é a versão da Polícia. Não tem de ser mais verdadeira que a versão daqueles que foram detidos.
O que fica é que em pleno dia de comemoração dos 33 anos de Abril de 1974, a Polícia foi acometida, nesse mesmo dia, de um muito estranho excesso de zelo na defesa de um grupo de extrema-direita racista e fascista e da sua propaganda! ...
Fica uma posição de Francisco Raposo, membro do movimento "Não Apaguem a Memória":
"Liberdade de Expressão" etc e tal
A "liberdade de expressão" reivindicada pelo PNR é a da intolerância, ódio e violência, como as "performances" dos seus apaniguados têm vindo a realizar - nas claques de futebol, como nas "caças" ao imigrante, ao gay ou ao anti-fascista.
Mas, garante da "Liberdade Expressão", lá substituiu a PSP os "pobres" dos skin-nazis que, - diz quem viu , com cães de combate - ostensivamente vinham a guardar o cartaz do Sr Pinto colocado no Marquês de Pombal, de ovos e outros actos de expressão gráfica do descontentamento por tanta "expressiva" liberdade de violentar quem não pensa como o PNR, os Skin-nazis e grupos afins.
Indignada com os "expressivos" tomates lançados ao cartaz por alguns jovens que não se conformam que os "expressivos entertainers" promovam o ódio racial e a xenofobia, a "Autoridade" fez uso da violência legal para repor "a lei e a ordem" no Marquês.
Claro que não só de tomates se expressa a indignação – aliás, seguindo os conselhos do Sr. Silva, o Mais Alto Magistrado da Nação, na sua oratória no Parlamento na comemoração do 25 de Abril, um jovem, usou gotas de água para expressar-se no "debate de ideias" que o PNR promove diariamente no Marquês. Logo de imediato dois briosos homens da nossa corporação de Segurança, avançaram para interceptar o "criminoso" que maculou a propriedade privada.
Apenas a pressão de jovens e menos jovens, entre os quais o signatário, impediu que um dos agentes passa-se à prática a sua "liberdade de expressão" e não fizesse a prometida performance, sibilada, como não quer a coisa, ao "meliante": "parto-te o focinho todo". A coisa ficou por aí…mas guardado estava o bocado…Dando forma à letra do discurso já referido do nosso Mais que Tudo, Sr. Cavaco, cerca de 500 cidadãos, após o cortejo das Comemorações Populares do 25 de Abril, decidiram – vá-se lá saber porquê?, neste Dia da Liberdade - expressar livremente a sua opinião num acto colectivo que consistiu em marchar da Praça da Figueira ao Camões, dando a sua parte no debate de ideias que o Capo do PNR pretende levar a cabo.
Tudo bem, liberdade e tal, a coisa lá marchou sem incidentes de cabo a pavio, isto é no percurso escolhido.Como é natural tudo que começa, tem um meio e um fim, e no fim, bem no fim é que a PSP, "expressivamente" adereçada tipo RoboCop, decidiu dar o seu contributo às comemorações do 25 de Abril numa performance dinâmica e pujante.
Esperou pacientemente que um grupo dos que marcharam para o Camões desce-se a Rua do Carmo, e toca de fazer cair o "Carmo e a Trindade" de forma a "Não Apagar a Memória" da actuação da polícia no 25 de Abril de …73.
Diz quem viu, e eu já não estava lá, que uns Skin-nazis vieram expressar as suas ideias por detrás dos "críticos literários" da PSP. Os que vinham do Camões encetaram a réplica e iniciaram o debate – neste caso, e todos os que ouvi, concordam, a metodologia era apenas verbal. Mas parece que o debate foi súbita e dinamicamente interrompida pela chegada, simultânea de um lado e do outro do grupo vindo do Camões, dos RoboCops, na característica manobra "performativa" conhecida como cerco, com "argumentos" de gestão de debates de ideias conhecidos como bastões, botas cardadas, - utilizadas para expressarem o prazer de serem balanceadas contra os corpos do cercados, - e outros adereços cénicos. Diz quem viu, que já com skin-nazis a recolherem aos bastidores, a "critica literária" continuou com variantes por toda a Rua do Carmo, Rossio, Praça da Figueira.Resultado. Doze cidadãos levados a conhecer, em "visita cultural", as instalações da PSP e com "visita de estudo" marcada às celas do Governo Civil e ao Tribunal de Instrução Criminal, dezenas de cidadãos "autografados" nas costas, braços, pernas, cabeças, pelos "garantes "da "Liberdade de Expressão" da Calçada da Ajuda. Como nota final, a jornalista da SIC que visitou as referidas instalações, ali para os lados da Gomes Freire não foi autorizada, pelo oficial de serviço, a usar a Liberdade de Informar visualmente do ajuntamento de "mais de 3 cidadãos" que pretendiam saber se a "liberdade estava a passar por ali". Pelos visto, não estava.
Estou com franca curiosidade de saber o que é que o Sr. Magalhães, Encenador Máximo dos "performers" da "Lei" vai expressar-se sobre este acto de "debate de ideias".Suspeito, mas é só suspeição, que será qualquer coisa como "Estado de Direito etc e tal". A ver vamos.
Um espectador parcial.
Francisco d'Oliveira Raposo - Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa e membro do Movimento "Não Apaguem a Memória" (a título pessoal)