
Parece indiscutível que as "
reformas" que o governo Sócrates quer
impor à Função Pública, representam uma declaração de guerra a todos os que lá trabalham.
É impensável pretender-se reformar um sector com 700.000 trabalhadores, não ouvindo esses trabalhadores e as suas estruturas de classe. Este governo acena com a negociação com os sindicatos (
e não são as únicas entidades a envolver numa quadro de negociação ...) mas dá a entender que tudo já estará decidido.
José Sócrates, o seu governo e a actual direcção do seu partido, adoptaram como modelo de gestão aquele que é, hoje em dia, imposto pelas correntes neo-liberais: tudo é gerido como se fosse uma empresa cabendo à sua administração a implementação da matriz de procedimentos, regras e decisões. Aos trabalhadores está reservada a execução e ... nada mais! Ou cumprem ou são dispensados/despedidos/colocados na prateleira!
Os contratos individuais de trabalho, a sujeição a avaliações efectuadas por entidades impostas hierarquicamente, aumento de horas de trabalho diárias e/ou semanais, redução dos períodos de férias ... representam anos e anos de retrocesso e não significarão uma melhor Função Pública nomeadamente no que deveria ser avaliada quanto à prestação do serviço público.
A ideia que é, hoje em dia, imposta pelo pensamento único neo-liberal de que "
o privado é bom" e "
o público é desperdício" é
falsa! Quem trabalha no privado, sabe à custa de quê os patrões conseguem manter níveis de "
eficiência", "
produtividade" e "
sucesso". Muitas vezes, as leis do País ficam à porta das empresas privadas e qualquer trabalhador mais crítico pode ser confrontado com ameaças do tipo "
ou te portas como nós queremos ou não terás hipotese de lutar contra a empresa ... ès muito pequenino"!
A Função Pública precisa de ser reformada de alto a baixo!
É um facto! Mas reformar num sentido socialista não é o mesmo que reformar num sentido liberal.
Quem tem liderado governamentalmente ou ao nível das diversas direcções intermédias a
máquina da Função Pública? Quem a tem liderado numa perspectiva de serviço público? Quando se implementaram programas de formação profissional para a qualificação dos trabalhadores? Quando se avaliou de uma forma independente os níveis de produtividade na Função Pública? Quando se avaliou a eficiência das diversas direcções quanto à sua capacidade de gestão? ...
A reforma da Função Pública precisa do contributo crítico dos seus trabalhadores. Porque será que há tanto trabalhador desmotivado e desalentado? Porque será que a sua opinião, seja ela qual for, não é ouvida, avaliada, pensada?
No sector privado, nomeadamente nas grandes empresas, a gestão lembra muitas vezes uma qualquer realidade totalitária. Tudo está referenciado ao hierárquico. Dito de outra forma, tudo é imposto hierarquicamente . E no hierarquicamente imposto, lá estão também os jogos de influências, os favoritismos, enquanto se submete cada trabalhador a avaliações que não servem para medir o desempenho de cada um, mas servem, isso sim, para enquadrar todos e cada um numa perspectiva de custos ...
Um exemplo. O "Expresso" de Sábado passado, o2 de Março, encartava uma revista sobre "
As 25 melhores empresas para trabalhar em Portugal". Ou seja, a nata das empresas a operar em Portugal. Descontando o lado promocional do referido encarte, é curioso verificar que nessas empresas, surgem como "
pontos a melhorar" :
- favoritismo
- justiça na atribuição de promoções
- justiça salarial
- justiça na repartição dos lucros obtidos
- conciliação entre vida pessoal e profissional
Das 25 empresas citadas, sómente duas é que não tinham "pontos a melhorar". As fotografias exibiam sorridentes "quadros" ... mas quantos seriam trabalhadores não considerados "quadros"??...
Em todas essas 25 empresas, a gestão pertence a accionistas, a quadros, aos patrões, ... , não consta que os trabalhadores "não-quadros" tenham voto na matéria!
É este modelo de gestão que o governo Sócrates quer impor na Função Pública. Um modelo que assentará em previsíveis climas intimidatórios e onde o exercício dos direitos laborais estão ao nível de qualquer empresa privado: nível zero!
Para os trabalhadores, os tempos são de luta, de resistência!