Existem muitos activistas libertários … existirão assim
tantas organizações libertárias ?
Não! Não existem assim tantas organizações libertárias, no
sentido libertário do termo: transparência, horizontalidade, sem dirigismos nem
autoritarismos, permanente disponibilidade para os debates.
Uma percentagem elevada de organizações que se reclamam
libertárias, adoptam posturas e comportamentos dignos de células de partidos
lenino-estalinistas. Por exemplo, a disponibilidade para aceitarem abrir as
organizações a novos interessados no debate, é muito limitada e muito filtrada.
O próprio relacionamento de algumas organizações libertárias
com o movimento de massas é baseado em muita desconfiança. Quando a organização
de algumas manifestações não se encarrega de marginalizar objectivamente
organizações e activistas libertários, então são, muitas vezes, as organizações libertárias a adoptarem uma
postura de total afastamento, como se de uma “aldeia do astérix” se tratassem.
O relacionamento entre organizações libertárias do movimento
anarquista é muito semelhante, por exemplo, ao relacionamento entre
organizações trotskistas e estalinistas. É um relacionamento conflituoso, de
desconfiança. Algumas organizações libertárias consideram-se, por comparação
com outras, o “centro”, a “referência” do mundo libertário, sendo as outras
consideradas como “aberrações”. Os grupos libertários desfazem-se e
multiplicam-se ao mesmo ritmo do exemplo dado das organizações trotskistas.
Se a sociedade capitalista é exclusiva, alguns grupos e
organizações libertárias também têm comportamentos que criam exclusão. Por
exemplo, libertários vegan não toleram, não permitem mesmo, que num espaço
aberto de convívio possa coexistir quem não é vegan. Outros comportamentos
podem ser também apontados como assumidamente identitários de um figurino que
só parece admitir quem tem o mesmo comportamento.
Um libertário não aceita pertencer a um partido. Porque,
segundo ele, os estatutos condicionam a liberdade de acção individual. Mas será
que algumas organizações consideradas libertárias também não possuem “códigos”
e programas que condicionam a liberdade de acção dos seus aderentes ou membros?
E é legítima a pergunta: qual então a diferença entre os partidos (no abstracto)
e esses grupos considerados libertários? Será que esses grupos ditos
libertários nunca expulsaram ninguém ou então marginalizaram até o
marginalizado tomar a iniciativa de abandonar?
Pode um libertário pertencer a um partido? Pode, tal como
pode pertencer a uma organização considerada libertária! Neste ponto, o que um
libertário não pode nunca admitir é que a sua acção individual ou colectiva
possa ser dificultada e condicionada por qualquer estatuto, programa ou
princípio autoritário e vertical.
Este texto é uma proposta, uma sugestão, para um bom debate
que possa envolver libertários de todas as proveniências e experiências.
É uma reflexão no abstracto, já que não cita nem identifica
os nomes de qualquer grupo ou organização libertária.
Mas não é uma reflexão sem rosto. Quem a faz é militante de
um partido que se reclama como “partido-movimento”, o Bloco de Esquerda. É
militante partidário e considera-se socialista libertário. E como socialista
libertário não abdica de, no partido a que pertence, apresentar permanentemente
as suas ideias e propostas.
Não vejo nenhuma incoerência na minha militância no Bloco de
Esquerda e na minha acção socialista libertária. Dentro desse partido, nos
movimentos sociais, em diversos fóruns.
Exijo sempre liberdade. E ajo sempre com liberdade. É em
nome dessa liberdade que considero que a acção precede a organização e é nos
movimentos sociais, não condicionados, e nas lutas sociais e populares que
surgirão as melhores formas de organização com capacidade de provocar mudança
radical com sentido socialista e anti-capitalista.
Porto, 01 de Junho de 2012
João Pedro Freire
1 comentário:
Então como se pode ser libertário e por consequência anarquista e simultâneamente pertencer a um partido politico alinhado no sistema legal?! É que ou alinhas num sistema representativo, que por indirecto derrapa para uma falsa democracia ou enquanto libertário e anarquista só uma democracia directa e verdadeira te convence... Será essa partidarite a aceitação de uma solução de compromisso? O inicio do principio que se não os podemos vencer junta-mo-nos a ele? Ou mera sedução por jogar em duas equipas em simultâneo e ver quem ganha mais, ou até "capitalizar" nos dois lados. Pois não percebo!
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