A crise é hoje evocada pelas empresas para justificarem autenticos atentados aos direitos mais elementares dos trabalhadores.
Quanto maiores são as empresas, os cortes nos direitos laborais servem para justificar, pelas respectivas administrações, medidas que visam salvar as referidas empresas, não própriamente de prejuízos mas de quebras nos lucros ... E esta é uma tendência que se tem vindo a tornar consistente e constante!
A AutoEuropa tem o estatuto de maior empresa exportadora portuguesa. Daí que goze de medidas de tratamento excepcional por parte do governo. A perspectiva de defesa dos postos de trabalho tem merecido também, por parte da respectiva Comissão de Trabalhadores, de acções tendentes a conquistar os trabalhadores para pacotes de medidas que mereçam também a concordância da Administração da empresa ligada à VW.
No entanto, parece que a unanimidade que tem sido conseguida na AutoEuropa, por parte de trabalhadores e adminsitradores, tem significado uma crescente cedência por parte dos trabalhadores, os quais, de cedência em cedência, acabam sempre periódicamente por ficar entre a espada e a parede quanto à garantia da manutenção dos seus postos de trabalho e quanto a direitos elementares como o pagamento de horas extras.
É neste quadro que deve ser entendida a recusa dos trabalhadores em aceitarem mais um Pré-Acordo Laboral ... por voto secreto, como que os trabalhadores disseram BASTA! Já chega de ceder, ceder e ceder, sempre do mesmo lado e sempre para se ficar entre a espada e a parede!
Os trabalhadores da AutoEuropa e a sua Comissão de Trabalhadores não podem ser acusados de "irresponsabilidade" ou de qualquer outra coisa ... já cederam o suficiente! Será que a Administração, que representa os interesses da VW, também já cedeu o mesmo ou está, como sempre, à espreita de oportunidade para deslocalizar a unidade da AutoEuropa para um qualquer outro país com mão-de-obra mais dócil?
É também sintomático o unanimismo nacional por parte do governo, por parte da líder da oposição, por parte do presidente da Agência Portuguesa para o Investimento, Basílio Horta ... a crise funciona sempre como pretexto para crucificar os trabalhadores, lançando-se sempre acções de chantagem sobre a continuidade e a preservação dos seus postos de trabalho, quando os níveis de rentabilidade de uma empresa não satisfazem os chamados "accionistas"!
É claro que esta é uma tendência que tem de ser invertida ... vai sendo tempo dos trabalhadores não serem tomados como meras peças de uma engrenagem ... neo-liberal!
1 comentário:
Solidariedade activa com os trabalhadores da Autoeuropa e de todas aquelas onde lhes fazem a chantagem do emprego!
Reparaste que o Carvalho da Silva (e muito bem) denunciou o facto de que nesta empresa a massa salarial (global) representar cerca de 5% dos custos de produção apenas? Então a exigência partronal de fazer os trabalhadores laborar aos sábados sem que esse trabalho fosse remunerado como trabalho extraordinário, surge como aberrante ou extravagante... se nos colocamos numa persepctiva de sobrevivência da empresa: mas, tal «faz todo o sentido» se nos colocamos na perspectiva de aproveitar para retirar o máximo de «regalias» ou seja de direitos!!! Nomeadamente, que o trabalho para além do tempo fixado por contrato deve ser remunerado como extraordinário...
Solidariedade,
Manuel Baptista
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