Quando as preocupações imediatas dos que se dizem "à esquerda" se reduzem

à discussão de lugares em listas ou a tentativas de contratação do tipo futebolistico, isso quer dizer que "à esquerda" o parlamentarismo também começa a ser mais importante que a discussão de políticas e de programas e a luta de classes é algo a que já não se liga muito.
Antes de mais, convém reafirmar que debates sérios entre correntes de esquerda em Portugal, não tem existido. Mesmo entre os que se dizem da esquerda socialista - espaço que corta transversalmente a esquerda do PS, o BE, a Renovação Comunista e muitos e muitos sem partido - o debate está muito reduzido ao grupo de cada um e nunca se viu algo a que pudessemos chamar de debate inter-grupo/inter-correntes ou qualquer coisa do género.
Os militantes de cada partido, grupo ou movimento parece que pertencem a cada direcção, não por culpa, só, das direcções, mas porque os próprios militantes também se põem muito a jeito!...
À esquerda, a política não deveria estar reduzida a um jogo de xadrez e, muito menos, a uma guerra do tipo clubes de futebol. A intervenção nos movimentos sociais, no processo de luta de classes, que origina programas e políticas, deveria ser o que determinaria o debate!
Claro que não é nada assim, e, quem pensa uma coisa destas, acaba por ser considerado "lunático", "idealista" e outros piropos do género ...
Já aqui defendemos a importância das esquerdas terem capacidade para definirem uma alternativa de democracia e de socialismo de poder. Já aqui apelámos, muitas vezes, ao diálogo e discussão sérias entre partidos, correntes, grupos e militantes das esquerdas.
No entanto, em véspera de eleições, o que agora surge, é um grande ruído entre dirigentes à esquerda sobre convites cruzados a militantes de um partido para integrarem as listas de outro partido.
É claro que o modo como são feitos determinados convites a troco de contrapartidas, revelam muito o carácter e a visão política de quem os fez! Mas os comentários posteriores, as acusações cruzadas, o ruído deveriam ser breves, muito breves ... toda essa algazarra perturba o debate que se quer, perturba e afugenta muita gente que já não suporta, aquilo a que a opinião pública chama de "guerras entre políticos" ...
Falamos sobre o possível/hipotético/certo convite que o PS dirigiu à bloquista Joana Amaral Dias a troco (ao que dizem!) de traficâncias no poder de Estado.
Não vemos grande problema no convite de um partido a um militante de outro partido. No caso da Joana Amaral Dias, até, ao que parece, recusou o convite. Ponto final, parágrafo!
Também não vemos grande problema no convite a Miguel Vale Almeida, ex-bloquista há três anos, que, no caso, aceitou integrar as listas do PS.
O que está em causa, foram as possíveis contrapartidas que o ACTUAL PARTIDO NO GOVERNO terá oferecido a Joana Amaral Dias para aceitar um lugar de eleição certa nas listas desse partido. Isso, a ter acontecido, é, de facto, traficar influência no aparelho de Estado por parte de um partido que, nos últimos quatro anos, ocupou (!) esse aparelho estatal.
Mas ... a Joana Amaral Dias NÃO ACEITOU!
O que seria muito interessante era ouvir, ela mesmo, a Joana Amaral Dias a contar o que aconteceu! Seria uma forma de se acabar com a algazarra e podermos discutir, à esquerda, programas, políticas e diferenças!