2010-10 Greves na França: Entrevista
Jornal Causa Operária, 24 de outubro de 2010
Causa Operária – Você pode se apresentar? (idade, profissão, organização que faz parte)
Nicolas Dessaux – Tenho 38 anos, sou arqueólogo e trabalhei durante dez anos na prefeitura de Lille. É um lugar muito simbólico, pois a prefeita é Martine Aubry, secretária-geral do Partido Socialista, o principal partido da esquerda. Provavelmente será candidata nas próximas eleições presidenciais em 2012, contra Nicolas Sarkozy. Eu sou um dos gerentes do departamento de SUD as autoridades locais, que faz parte do sindicato Solidariedade, uma união radical.
Também sou um membro da “l’Initiative communiste-ouvrière”, uma organização formada recentemente por militantes franceses e belgas próximos dos Partidos comunistas-operários do Irã e do Iraque. Sou conhecido, sobretudo, como um militante internacionalista, por ter criado a Associação ”Solitarité Irak” em apoio ao movimento operário e organizações de mulheres no Iraque.
Causa Operária – Como foi organizada a última greve, na terça-feira?
Nicolas Dessaux – Terça-feira, 12 de outubro, foi um marco para o movimento em defesa das aposentadorias. O governo esperava mobilizar mais fraca, mas foi forçado a admitir que havia 20% a mais de manifestantes. De acordo com os sindicatos, havia 3,5 milhões de pessoas nas manifestações. O governo contesta esses números, mas um sindicato da polícia foi obrigada a denunciar as mentiras do governo, que falsifica os números fornecidos por seus próprios funcionários!
O que estava em jogo no 12 de outubro era conseguir passar das jornadas de ação a uma greve por tempo indeterminado. Por dez anos, houve manifestações todos os meses e, depois, em um ritmo mais acelerado a partir de setembro, mas não uma greve contínua. A maioria dos sindicatos se opôs. Hoje, em um número crescente de empresas a base quer entrar em greve e, de agora em diante,é um movimento real. A próxima jornada de ação, no dia 16 de outubro, terá lugar em um clima de grevesprorrogáveis efetivas.
Causa Operára – Em quais setores há uma maior mobilização?
Nicolas Dessaux – Geograficamente, a região de Marselha, o maior porto do sul da França, é a mais ativa. Há particularmente o porto industrial de Fos-sur-Mer, onde mais de 50 navios petroleiros não puderam desembarcar. Além disso, onze das doze refinarias francesas estão em greve, por isso o governo teme a paralisação do país por falta de estoques de gasolina. A RATP, ou seja, o metrô parisiense, que faz circular todos os dias milhões de trabalhadores, também está em greve por tempo indeterminado. O efeito é imediato, uma vez que as pessoas não podem mais ir ao trabalho. Na SNCF, ou seja, os trens, o movimento é irregular, mas muitos trens e estações ferroviárias estão bloqueados. Estes são três setores estratégicos.
Em segundo lugar, há as várias greves em outros setores, na indústria, na educação, nas prefeituras, e o movimento está apenas começando a se expandir. Alguns setores adotam modos flexíveis de greve, por exemplo, uma ou duas horas por dia, ou tempo de greves para a ação. Isso permite que os empregados evitem perder muito no salário, mantendo a pressão e impondo prejuízos aos patrões.
Finalmente, nos últimos dias, os secundaristas aderiram ao movimento, e algumas universidades também. Este é um fenômeno novo: antes os estudantes entravam em greve contra as reformas na educação. Hoje, estão se mobilizando, como partido da classe operária, sobre questões trabalhistas. Eles sabem que eles terão um futuro precário e que quanto mais os velhos trabalhares, mais haverá desemprego. Seus slogans dizem claramente. Nós vimos esta tendência se iniciar em 2007, no movimento muito duro contra o “Contrato do Primeiro Emprego”, que havia forçado o governo a recuar. (...)
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