tribuna socialista

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

73.000 - 26.000 = 47.000 !... Por onde andam estes socialistas?

O PS (que já teve o seu símbolo como se exibe na imagem!) inicia hoje mais um Congresso Nacional.


Desde logo, uma primeira curiosidade para quem assiste de fora: será um Congresso do PS ou um Congresso do partido do governo?


São duas situações muito diferentes. O PS ainda é o partido de muitos trabalhadores, de muitas pessoas que se referenciam ao socialismo democrático e a causas novas e históricas das esquerdas. O partido do governo é práticamente uma espécie de agência de carreiristas, de seguidores acríticos, de quem poderia ser deste partido ou de qualquer outro, desde que também pudesse ser governo!


A conta que faz o título desta posta tem muito a ver com o que dizemos. Entre os inscritos no PS e os que votaram em José Sócrates, há uma imensidão de 47.000 que não participaram nas votações primárias para o Congresso que hoje se inicia.


Serão abstencionistas crónicos? Serão apoiantes de Manuel Alegre que resolvem mostrar o seu descontentamento com uma atitude abstencionista? Serão meros inscritos que nunca participam, como vai acontecendo um pouco por todos os partidos? Serão professores, trabalhadores desempregados, trabalhadores precários, trabalhadores de empresas em crise, ... ?


A realidade é que José Sócrates entra neste Congresso com 96% dos votos que valem sómente 36% do partido!


Toda a gente (que é do PS e que não é do PS) sabe que debate é coisa que não existe ... É certo que esta falta de debate não é exclusiva do PS. Mas o que se passa no PS, é um sistemático efeito de eucalipto que todo o debate seca, sempre que está no governo ... e quanto mais tempo está, pior é esse efeito de eucalipto!


José Sócrates e a sua direcção só se lembram do aparelho partidário (e não própriamente dos militantes, o que também é diferente!) quando se realizam os Congressos Nacionais. Da mesma forma que só se lembram das pessoas em geral (ao ponto de apelarem à "tradicional base social de apoio" do PS!!), quando se realizam eleições. A estas lembranças ciclicas e oportunistas, juntamos mais uma: depois de governarem à direita em nome de correções de deficits e outras coisas do género, tentam agora "corrigir" súbitamente com acenos "à esquerda" ao Congresso e às pessoas em geral!


Mas se todos repararmos bem, esses "acenos à esquerda", nunca modificam o essencial das políticas e orientações neo-liberais:
  • dentro do PS, parece que se resumem a timidas medidas de contentamento da "ala esquerda mediática" (porque devem existir outras tendências mais basistas, mais sociais, só que menos mediáticas) : eutanásia, casamentos entre pessoas do mesmo sexo, mais uns lugarzitos nas listas eleitorais ...

  • no governo: a palavra "social" volta ao vocabulário governamental, só que ... não se percebe se não é a própria crise a obrigar o governo a fazê-lo ...

Os socialistas do tempo a que se refere a imagem que reproduzimos, lembram-se do que é que significaria uma verdadeira mudança de políticas para a esquerda: mais debate político e ideológico nas bases que frequentam núcleos e secções, mais e melhor democracia a todos os níveis da sociedade, saber qual a vontade dos trabalhadores deste País em vez de só se olhar para os empresários, defender o Serviço Nacional de Saúde mesmo que isso aumente o déficit público, reintroduzir o controlo das gestões empresariais pelos trabalhadores, ...

A isto, certamente que José Sócrates responde com temporais e conjunturais "esquerdas modernas" que se ajoelham à economia de mercado, quando os tempos são de vacas gordas, para, depois, em vacas magras, pintarem a mesma economia de mercado com pinceladas de "social" que nada altera, nada modifica e continua a provocar crise e mais crise!

O Congresso Nacional do PS acabará por ser uma espécie de festa de confirmação de um líder que fala, fala, fala, com música de fundo, mas que parece que vive num mundo que é o dele e o dos seus amigos mais próximos, mas que esbarra com a realidade que os trabalhadores e os jovens vão sentindo no dia-a-dia ...

Não será muito simpático afirmar que uma alternativa de esquerda socialista precisa dos militantes socialistas do PS mas não da sua direcção governamental-sócratica. Mas esta é a realidade dificil que é preciso trabalhar políticamente!

É por aqui que passa a tal distinção entre "Congresso do PS" e "Congresso do partido do governo". Uma distinção que vale, talvez, 47.000 aderentes/militantes do PS!...

1 comentário:

Anti PS Neoliberal disse...

Parabéns por esta posta, estou inteiramente de acordo, a história dos últimos 30 anos do PS têm vindo sistematicamente a ser "apagadas", quer da memória colectiva quer individual do PS, nomes como Lopes Cardoso, Augusto Pereira de Oliveira, Catanho de Menezes, Titto de Morais e outros, já pouco o nada dizem a este PS Governo que nada tem a ver com o PS militante.

Vou fazer uma chamada de atenção no meu blog para esta posta.

Um abraço