O
Nuno Cardoso da Silva enviou o texto que se publica, no qual defende o PCTP/MRPP. Nuno Silva não é militante deste partido, mas defende-o fortemente!
TRIBUNA SOCIALISTA edita-o, numa perspectiva de provocar debate.
Fica, no entanto, claro que a opinião do
TRIBUNA SOCIALISTA é radicalmente diferente das posições defendidas por aquele partido. Não somos "
marxistas-leninistas", somos anti-estalinistas, somos libertários, temos uma concepção de socialismo que está nos antipodas da concepção que o MRPP ainda parece defender ... pelo menos, não temos conhecimento de nenhuma (auto) critica relativamente ao modelo chinês, não só o actual, mas também o que vigorou com Mao Tse-Tung.
João Pedro Freire
>>>>>>>>>>>>>><<<<<<<<<<<<<<<<<A OUTRA ESQUERDA: O PCTP/MRPP (*)
Numa sociedade em crise, num clima de exclusão social e de pobreza crescentes, só a esquerda manifesta preocupação e vontade de corrigir esses desvios. A direita é essencialmente darwinista, glorifica o confronto e o sucesso dos mais fortes, despreza todos aqueles que parecem nada ter a contribuir do ponto de vista estritamente produtivo.
Só que esquerdas há muitas. Ou, pelo menos, há muitos que se dizem de esquerda, defendendo as coisas mais díspares. Optar pela “esquerda” é assim mais difícil do que parece. A esquerda é o Partido Socialista? É o Bloco de Esquerda? É o Partido Comunista Português? Ou será talvez um PCTP/MRPP, do qual as pessoas gostam de fazer troça, baseada em opções em tempos feitas?
O PCTP/MRPP classifica-se a si próprio de marxista-leninista, e há no seu seio ainda quem venere Estaline e Mao, embora em número cada vez menor. O MRPP teve uma influência significativa imediatamente após o 25 de Abril, altura em que nele militavam pessoas como Durão Barroso, Ana Gomes, Saldanha Sanches, Fernando Rosas, e tantos outros que depois foram aterrar noutros partidos. A postura fortemente crítica do MRPP relativamente ao PCP – ao qual apelidavam de “social-fascista” – esteve certamente na origem da proibição do MRPP concorrer às eleições, o que levou ao seu declínio a prazo. Com efeito, num clima ainda pré-democrático, com um eleitorado ainda não fixado em opções partidárias, impedir o MRPP de concorrer às eleições era obrigar a maioria dos que nele iriam votar a fazer outras opções que, com o tempo, se foram consolidando. Ao fim de alguns anos, o eleitorado potencial do MRPP tinha-se fixado noutras opções, e o MRPP deixou de ser uma ameaça aos partidos situacionistas (os que tinham sido aprovados pelo MFA).
No entanto o MRPP sobreviveu, adoptou o nome de Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP) e, sem perder o seu cariz marxista-leninista, foi aceitando o princípio do pluralismo democrático, tornou-se mais tolerante das opiniões diversas, e tornou-se num partido respeitador dos princípios democráticos, sem no entanto abandonar completamente o vocabulário mais revolucionário. A ditadura do proletariado já só é figura de retórica, e pouco se distingue do princípio geralmente aceite do governo da maioria.
Havendo tantas alternativas de esquerda, então porquê votar num PCTP/MRPP que ainda não conseguiu eleger um só deputado, embora o número crescente de votos que tem vindo a conquistar anunciem um próximo sucesso, talvez já em Setembro, em Lisboa?
A falência clara do sistema capitalista – apesar das tentativas para nos fazer acreditar que a actual crise não é estrutural, mas conjuntural -, aconselha a que se abandone esse sistema perverso e se opte por um sistema realmente socialista, embora bem distante do centralismo soviético. As próximas eleições deveriam dar um sinal claro nesse sentido. O problema está em que os partidos ditos de esquerda, com assento parlamentar, se foram habituando a conviver com o modelo capitalista, que já não põem em causa, e que apenas querem humanizar. Erro táctico capital. O capitalismo não pode ser humanizado, porque ele se baseia numa concorrência feroz que só beneficia os mais fortes. A sacrossanta eficiência produtiva é construída à custa da exploração de quem trabalha, e isso é inaceitável. A justiça social exige alguma perda de eficiência produtiva, no sentido de que não pode ser construída à custa da redução dos salários reais. E esta é, no entanto, um dos principais instrumentos do capitalismo agonizante.
Só o PCTP/MRPP demonstrou que não pactua com um sistema intrinsecamente injusto. O PCTP/MRPP não se satisfaz com um capitalismo de rosto humano, quer um socialismo construído na socialização dos meios de produção, mas sem centralismo estatal, sem constrangimento da liberdade de produzir, sem violação dos princípios democráticos. É evidente que uma transformação deste tipo exigiria uma ruptura com o actual sistema, mas sempre apoiada na vontade maioritária do povo português.
Eleger um deputado do PCTP/MRPP não vai permitir essa ruptura a curto prazo, mas permitiria uma intervenção política ao mesmo tempo crítica e pedagógica, que tornasse mais difícil ao próximo governo continuar a enganar os portugueses, e os fosse esclarecendo quanto às alternativas ao actual sistema de injustiça e exploração.
(*) Nuno Cardoso da Silva