tribuna socialista

sábado, agosto 29, 2009

A OUTRA ESQUERDA ... opinião de Nuno Cardoso da Silva

O Nuno Cardoso da Silva enviou o texto que se publica, no qual defende o PCTP/MRPP. Nuno Silva não é militante deste partido, mas defende-o fortemente!

TRIBUNA SOCIALISTA edita-o, numa perspectiva de provocar debate.

Fica, no entanto, claro que a opinião do TRIBUNA SOCIALISTA é radicalmente diferente das posições defendidas por aquele partido. Não somos "marxistas-leninistas", somos anti-estalinistas, somos libertários, temos uma concepção de socialismo que está nos antipodas da concepção que o MRPP ainda parece defender ... pelo menos, não temos conhecimento de nenhuma (auto) critica relativamente ao modelo chinês, não só o actual, mas também o que vigorou com Mao Tse-Tung.

João Pedro Freire

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A OUTRA ESQUERDA: O PCTP/MRPP (*)

Numa sociedade em crise, num clima de exclusão social e de pobreza crescentes, só a esquerda manifesta preocupação e vontade de corrigir esses desvios. A direita é essencialmente darwinista, glorifica o confronto e o sucesso dos mais fortes, despreza todos aqueles que parecem nada ter a contribuir do ponto de vista estritamente produtivo.

Só que esquerdas há muitas. Ou, pelo menos, há muitos que se dizem de esquerda, defendendo as coisas mais díspares. Optar pela “esquerda” é assim mais difícil do que parece. A esquerda é o Partido Socialista? É o Bloco de Esquerda? É o Partido Comunista Português? Ou será talvez um PCTP/MRPP, do qual as pessoas gostam de fazer troça, baseada em opções em tempos feitas?

O PCTP/MRPP classifica-se a si próprio de marxista-leninista, e há no seu seio ainda quem venere Estaline e Mao, embora em número cada vez menor. O MRPP teve uma influência significativa imediatamente após o 25 de Abril, altura em que nele militavam pessoas como Durão Barroso, Ana Gomes, Saldanha Sanches, Fernando Rosas, e tantos outros que depois foram aterrar noutros partidos. A postura fortemente crítica do MRPP relativamente ao PCP – ao qual apelidavam de “social-fascista” – esteve certamente na origem da proibição do MRPP concorrer às eleições, o que levou ao seu declínio a prazo. Com efeito, num clima ainda pré-democrático, com um eleitorado ainda não fixado em opções partidárias, impedir o MRPP de concorrer às eleições era obrigar a maioria dos que nele iriam votar a fazer outras opções que, com o tempo, se foram consolidando. Ao fim de alguns anos, o eleitorado potencial do MRPP tinha-se fixado noutras opções, e o MRPP deixou de ser uma ameaça aos partidos situacionistas (os que tinham sido aprovados pelo MFA).

No entanto o MRPP sobreviveu, adoptou o nome de Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP) e, sem perder o seu cariz marxista-leninista, foi aceitando o princípio do pluralismo democrático, tornou-se mais tolerante das opiniões diversas, e tornou-se num partido respeitador dos princípios democráticos, sem no entanto abandonar completamente o vocabulário mais revolucionário. A ditadura do proletariado já só é figura de retórica, e pouco se distingue do princípio geralmente aceite do governo da maioria.

Havendo tantas alternativas de esquerda, então porquê votar num PCTP/MRPP que ainda não conseguiu eleger um só deputado, embora o número crescente de votos que tem vindo a conquistar anunciem um próximo sucesso, talvez já em Setembro, em Lisboa?

A falência clara do sistema capitalista – apesar das tentativas para nos fazer acreditar que a actual crise não é estrutural, mas conjuntural -, aconselha a que se abandone esse sistema perverso e se opte por um sistema realmente socialista, embora bem distante do centralismo soviético. As próximas eleições deveriam dar um sinal claro nesse sentido. O problema está em que os partidos ditos de esquerda, com assento parlamentar, se foram habituando a conviver com o modelo capitalista, que já não põem em causa, e que apenas querem humanizar. Erro táctico capital. O capitalismo não pode ser humanizado, porque ele se baseia numa concorrência feroz que só beneficia os mais fortes. A sacrossanta eficiência produtiva é construída à custa da exploração de quem trabalha, e isso é inaceitável. A justiça social exige alguma perda de eficiência produtiva, no sentido de que não pode ser construída à custa da redução dos salários reais. E esta é, no entanto, um dos principais instrumentos do capitalismo agonizante.

Só o PCTP/MRPP demonstrou que não pactua com um sistema intrinsecamente injusto. O PCTP/MRPP não se satisfaz com um capitalismo de rosto humano, quer um socialismo construído na socialização dos meios de produção, mas sem centralismo estatal, sem constrangimento da liberdade de produzir, sem violação dos princípios democráticos. É evidente que uma transformação deste tipo exigiria uma ruptura com o actual sistema, mas sempre apoiada na vontade maioritária do povo português.
Eleger um deputado do PCTP/MRPP não vai permitir essa ruptura a curto prazo, mas permitiria uma intervenção política ao mesmo tempo crítica e pedagógica, que tornasse mais difícil ao próximo governo continuar a enganar os portugueses, e os fosse esclarecendo quanto às alternativas ao actual sistema de injustiça e exploração.

(*) Nuno Cardoso da Silva

10 comentários:

Anónimo disse...

João Pedro, louvo a tua paciência!
:-)
Abraço,

Paulo F. Silva

João Pedro Freire disse...

O Nuno Cardoso da Silva deveria comentar também o seu texto com os dirigentes do PCTP para ver qual a opinião deles.
Também gostaria de saber o que é que o Nuno vê de semelhante entre o PCTP e círculos libertários com quem tem discutido.
Respeito, com sempre, as opiniões diferentes das minhas, mas considero a posição do Nuno algo "naif" e/ou então meramente provocatória.
Por último, acusa os actuais deputados dos partidos de esquerda, representados no Parlamento, de "conviverem com o sistema capitalista". Acho esta acusação algo sectária e sem sentido. O que faria um deputado do MRPP (!!!!) na AR? Como é que UM DEPUTADO não "conviviria" com o "sistema capitalista" ?
Caro Nuno, também é preciso saber ter os pés bem assentes no chão para pudermos mudar a realidade!

Nuno Cardoso da Silva disse...

Calma! Conviver, no sentido que lhe dei, não era certamente o convívio social. Era o convívio político em que as noções burguesas vão sendo absorvidas na prática dos partidos de esquerda. Por isso o Louçã fala da remuneração do capital como se fosse a coisa mais normal para um verdadeiro partido de esquerda.

Quanto à minha colaboração com o PCTP não é uma adesão acrítica às suas teses. Continuo a ser essencialmente um socialista libertário que recusa toda a forma de estatismo. Mas considero que as questões levantadas pelo PCTP merecem a atenção de todos, e considero que um deputado do PCTP na AR seria de grande importância para preparar uma evolução para fora do sistema capitalista. Digo ainda mais: um deputado do PCTP seria muito mais útil do que mais um deputado do BE, do PS ou do PCP. Um deputado a mais para qualquer destes partidos não significa nada na AR. Um deputado do PCTP traria uma forma de crítica política que nenhum dos outros partidos faz.

É exactamente por não ser sectário que posso apoiar a candidatura do PCTP, e que posso criticar o que qualquer partido de esquerda faz ou diz. O que me move são as ideias. E se fosse o BE que fizesse propostas que eu considerasse como as mais válidas e eficazes, no quadro actual, e podem ter a certeza que eu votaria no BE. Ser socialista libertário é ser livre, pelo que nunca me deixarei enrolar em lealdades ou disciplinas partidárias, nem nunca defenderei, por solidariedade com o "Partido", coisas que sei estarem erradas.

João Pedro Freire disse...

Calma? Será que é possível alguma calma, quando se vê alguém que diz ser "socialista libertário" a apoiar uma proposta "marxista-leninista" com base numa argumentação que é um autentico BRANQUEAMENTO do que é ser "m-l" ?
A única calma só pode vir da constatação de que essas propostas não recolhem apoio junto de quem pode mudar social e politicamente alguma coisa.
Repare Nuno: apoia o PCTP, mas vai dizendo que há por lá alguns que continuam a venerar Estaline, mas ... só serão alguns; depois, fala da "ditadura do proletariado", mas ... isso parece que é só fraseologia; depois vem o "pluralismo" o qual parece que passou a ser tolerado pelos MRs, etc, etc ... para rematar com a sua afirmação de "socialista libertário", porque é "livre" de recursar ou de admitir isso tudo!
Acha que é sério?

Nuno Cardoso da Silva disse...

Caro João Pedro,

Não percebo. O BE também tem os seus estalinistas e os seus marxistas-leninistas. E esse pluralismo até pode ser saudável, embora não ajude muito à coerência política. Porque é que no PCTP não poderão conviver marxistas-leninistas, maoistas, libertários e até alguns próximos da teologia da libertação? As soluções práticas que são ventiladas no PCTP são em grande parte consensuais para todas essas correntes, embora as preferências ideológicas possam ser diversas. Ninguém em seu perfeito juízo pode pensar voltar atrás aos métodos bolchevistas. O socialismo do futuro tem de ser consensual, o que não exclui algum radicalismo. Haverá sempre nostálgicos de épocas passadas, mas o socialismo do futuro terá de ser livre e democrático. E nunca ouvi nada da boca de dirigentes do PCTP que me levem a pensar que isso não é entendido e aceite.

Por muito que isso o espante, os militantes e simpatizantes do PCTP não comem criancinhas ao pequeno almoço. E se o Garcia Pereira chegar à AR, vão todos ver que a oposição do PCTP nada tem de reaccionária. O marxismo-leninismo está amarrado a uma época, que não é a nossa. Não há nada nesse marxismo-leninismo que seja relevante para os nossos tempos, pelo que não vale a pena inventar papões.

Continuo a dizer que o Garcia Pereira seria mais útil na AR do que o nono deputado - ou o décimo, ou décmo-primeiro... - do BE. Que aliás ninguém conheceria e que pouco mais faria do que levantar-se ou não se levantar conforme as instruções da direcção do grupo parlamentar.

João Pedro Freire disse...

O pluralismo no BE é algo que está reconhecido nos Estatutos. No BE a recusa dos modelos soviético e chinês, é consensual. No BE há um percurso de dez anos, em que as experiências politico-ideológicas diversas souberam evoluir para uma posição socialista de esquerda, com a recusa do capitalismo e das politicas neo-liberais.
O PCTP parece que se mantém IMUTÁVEL, nas práticas, nos estatutos, nos programas, menos ... no seu actual líder que precisa de conciliar o prestigio de bom advogado, com os seus apetites pessoais pelos mares e com práticas politico-ideológicas que sabem ser mantidas com a devida distância.
E depois essa de que o PCTP até "alberga" socialistas libertários ... bem, de certeza, que não é para levar a sério!
Se sim, então experimente defender as suas posições libertárias no próximo congresso MRPP!

Nuno Cardoso da Silva disse...

Já escrevi textos no forum do PCTP que revelam as minhas tendências libertárias, e até já referi Bakunine como uma das minhas referências. Pois até agora não fui insultado, agredido, expulso ou proibido de aparecer. Pelo contrário, fui convidado a integrar as listas de candidatos do PCTP...

João Pedro Freire disse...

Então, experimente agora organizar uma "tendência socialista libertária" dentro do PCTP ... com tanta tolerância e tanta liberdade, até fico curioso!...

Nuno Cardoso da Silva disse...

O socialismo libertário é o único possível. Façamos uma combinação: eu tentarei converter o PCTP num partido libertário, e o meu caro amigo fará o mesmo relativamente ao BE... Vamos a ver quem será mais bem sucedido. :)

João Pedro Freire disse...

Até parece que isto é um "jogo" ...
Considero encerrado este "debate" ...
O Tribuna Socialista continuará a ter a sua posição de sempre!