O BES e todas as empresas que investem em Angola sabem perfeitamente qual a natureza do governo angolano e qual o grau da corrupção existente no aparelho de Estado e na própria sociedade angolana. Diriamos que as empresas portuguesas e as de outras nacionalidades sabem-no ... mas será que também não se servem disso para conquistarem ainda mais lucros?
Será que também não se servem de uma mão de obra paupérrima para lucrarem ainda mais? E será que já não existiram empresas , portuguesas ou de outras nacionalidades, que até deslocalizaram a sua actividade para Angola, precisamente porque se trata de um país com miséria, sem grandes meios de produção, com uma mão-de-obra desqualificada e pobre, mas ... com muita riqueza (petróleo, diamantes, ...) gerida (!) pela corrupção estatal e privada?
Depois há também um lado que merece ser analisado: o daqueles que tentam descobrir nas palavras de Geldof uma espécie de julgamento do processo de descolonização. São aqueles que nunca se deram bem com a realidade de países africanos independentes que já foram colónias portuguesas. São aqueles que gostariam de perpetuar aquela realidade, nem que para isso continuem a dizer que a guerra colonial era uma guerra ganha, etc, etc...
Estes autenticos dementes e reacionários que agora aplaudem o discurso de Geldof, descontextualizando-o, são os mesmos que berravam contra o governo do MPLA quando esse partido se afirmava "marxista-leninista", mas que agora perante o MESMO governo do MPLA até já revelam alguma condescendencia porque agora o MPLA já não é "m-l" ...
O que se passa em Africa quanto à miséria, não é exclusivo dos chamados PALOPs, mas é comum a outros países de influência francesa e inglesa. Em todos eles, reinam cliques que já têm muito pouco a ver com a realidade da génese dos movimentos de libertação. Hoje muitos países africanos são governados por despotas, por corruptos e por novos-ricos que buscam os seus modelos de enriquecimento precisamente nas chamadas sociedades ocidentais e liberais ...
O problema de África não é só um problema de fome. Há também um problema de falta de direitos e de respeito pelos povos africanos. Não há democracia nem autenticas liberdades democráticas. E estes problemas africanos não se resolvem com as conferências milionárias de Bob Geldof nem com os Live 8 ou Aid nem com caridadezinhas internacionais.
O que faz mesmo falta é um enorme movimento de libertação dos povos africanos contra os actuais despotas e corruptos, por direitos democráticos e sociais, por respeito pela realidade de cada cultura e de cada povo ... Isto, por exemplo, o governo de Angola não quer. Mas Bob Geldof também não compreende ...
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