tribuna socialista

sexta-feira, junho 20, 2008

CAMARA DO PORTO: UNIDADE DAS ESQUERDAS ... SIM! MAS COMO?

O debate com vista à intervenção nas próximas eleições autárquicas parece ter chegado - e ainda bem! - a algumas correntes das esquerdas.

O dirigente do Bloco de Esquerda (BE) , João Teixeira Lopes, deu a sua opinião favorável a uma acção unitária das esquerdas para desalojar Rui Rio da Câmara Municipal do Porto. Uma convergência baseada numa espécie de "programa mínimo" das esquerdas ou num programa do tipo "menor denominador comum" das esquerdas. Agora, outro dirigente do BE, João Semedo, deputado pelo Porto, veio contestar a posição de Teixeira Lopes, considerando que a sua proposta é "contrária" à posição oficial do seu partido ao mesmo tempo que discorda do caracter de excepção que gozará a autarquia do Porto no quadro nacional da intervenção do Bloco.

Desde um ponto de vista da esquerda socialista, ambas as posições parecem incapazes de produzir qualquer solução de esquerda vitoriosa contra o desastre do executivo de direita da autarquia portuense.

João Teixeira Lopes insiste numa fórmula que revela sempre um dos grandes problemas para a definição de uma alternativa de esquerda a qualquer coisa, sejam autarquias, sejam o governo: as esquerdas quando se unem parece que abdicam de tentarem a definição de programas políticos globais alternativos à direita e ao seu modelo de sociedade. Algumas esquerdas ficam sempre por mínimos que acabam por não produzir nenhuma proposta significativamente alternativa à direita e ao ao seu modelo capitalista.

João Semedo cai naquilo que é um dos problemas das esquerdas muito dadas às jogadas e joguetes parlamentares: acabam por defender as deliberações directivas do seu partido como uma espécie de "centro da terra" ou como a "verdadeira estratégia" ... resultado, qualquer tentativa de unidade ou de convergência esbarra sempre na "doutas" estratégias definidas pelas sapientas direcções nacionais!...

Cada autarquia tem as suas especificidades, mas, parece que é um facto, que autarquias como Lisboa e Porto, acabam por ter uma importância e uma repercussão políticas que assumem consequências nacionais. Pela sua dimensão geográfica, pela concentração populacional, pela influência económica, ... , o que se passa no Porto e em Lisboa não fica por aí!

São concelhos que deveriam merecer um esforço de convergência à esquerda. Uma convergência capaz de produzir programas alternativos de esquerda e não só "mínimos" ou "denominadores comuns", que fosse capaz de motivar diálogos e pontes à esquerda e não respostas que só olham para o umbigo ou que só produzem reacções "clubísticas".

As esquerdas deveriam ponderar sempre qual a sua capacidade para produzirem, em conjunto, movimentos sociais capazes de originarem alternativas políticas de verdadeira mudança. Isto é bem mais importante que a contagem de votos de cada partido de esquerda tomado individualmente!

No Porto, é inegável que o BE, o PCP e o PS podem criar uma alternativa à gestão de direita de Rui Rio. Mas uma alternativa que consiga e saiba discutir e definir um programa muito claro de gestão autarquica social, de esquerda e profundamente democrático. E, para isso, há outros sectores sociais, independentes e até correntes sem expressão parlamentar e/ou autarquica, unidos na critica ao liberalismo e aos seus efeitos, que deveriam ser chamados a participar!

Em Lisboa, a unidade existente entre o PS e o BE, cria uma situação muito diferente do Porto. O Bloco parece que ainda não se libertou do desgaste produzido por uma aliança com o PS que ninguém percebeu , nem dentro do próprio BE, e, como consequência, do tipo tentativa de libertação de um sentimento de culpa, os seus dirigentes querem agora generalizar a todo o País, uma deliberação do tipo "mas vale sós que mal acompanhados"! A posição de João Semedo, é tipica disto mesmo!

Através das posições do BE, quanto a Lisboa e quanto ao Porto, pode-se ver como:
  • é muito dificil qualquer discussão séria à esquerda para a definição de uma alternativa das esquerdas com um programa socialista;
  • as esquerdas com representação parlamentar continuam a dar muito mais importância aos jogos parlamentares do que à influência dos movimentos populares e sociais.

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