Manuel Alegre deu uma entrevista ao Expresso, a qual sai na edição de hoje.
É uma entrevista algo estranha e que deveria preocupar quem vê Manuel Alegre como o melhor nome para uma candidatura presidencial de convergência das esquerdas.
Nesta entrevista, Alegre consegue, de certeza, receber o acordo das esquerdas nas críticas a Cavaco Silva. Mas isso é fácil e, hoje em dia, já não aquece nem arrefece. Cavaco já nem a unidade do seu campo politico consegue!
Ao longo da entrevista, é visível que Alegre não consegue libertar-se da sua ligação ao PS, mesmo que, a seguir, repita cem vezes que não está refém do seu partido.
"A minha relação é com o PS. É uma relação familiar" diz Manuel Alegre. É claro que também diz que "o PS devia negociar à esquerda. Tentei quebrar esse tabu". Mas conclui sempre dando a entender que a relação mais forte a até determinante - "Uma candidatura é uma decisão pessoal e um acto de independencia. Mas para vencer, obviamente que o apoio do PS é importante. Se alguém se candidata é para ganhar." - é com o PS. Aliás, na citação que se transcreve da entrevista, Alegre faz uma revelação que não deve ter pesado na sua última candidatura e, a qual, acaba por ser elucidativa da sua dependência face ao PS. Ou seja, se na última eleição presidencial até se candidatou contra a posição oficial do PS, será que já sabia que nunca iria ganhar ou que nunca atingiria o tal um milhão de votos ?
Outra declaração de Alegre é muito pouco esclarecedora. À pergunta "Em questões económicas, PCP e BE têm visões muito diferentes das do PS", responde assim "O PS aceita a economia de mercado, não está claro que os outros partidos de esquerda a aceitem. Constato que é dificil entenderem-se". Manuel Alegre não revela a sua opinião/posição sobre essa tal "economia de mercado", i.e. o capitalismo. O que seria importante, esclarecedor e motivador de debate à esquerda. Remete-se, isso sim, para um plano algo presidencial sem ainda o ser! O que não o impede de voltar a criticar os privilégios da Banca ... só que, quem é que não os critica, neste momento, numa posição meramente formal? O essencial é, de facto, saber qual a posição perante um sistema que tem possibilitado ciclicamente crises, corrupções e privilégios. E Manuel Alegre fica-se por um posicionamento bonapartista, acima das posições existentes, sem revelar a sua ...
Manuel Alegre parece, neste momento, sobretudo apostado em garantir o apoio, não do PS, mas da sua direcção e do governo - "O governo está lá e não vejo alternativa" - .
Nesta entrevista, Alegre não acrescenta uma única ideia que possa contribuir para uma movimento social à esquerda que se mobilize para uma candidatura presidencial de unidade das esquerdas. Na sua primeira candidatura presidencial, isso não acontecia. Demonstrava iniciativa política e independência nessa iniciativa. Agora, parece deixar isso para as direcções partidárias, a começar pela do PS, da qual, na prática, parece não se conseguir libertar!
João Pedro Freire
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