tribuna socialista

segunda-feira, janeiro 18, 2010

PRESIDENCIAIS EM DEBATE ...

No Facebook tem estado a decorrer, desde meados de Dezembro último, um debate sobre as eleições Presidenciais "PRESIDENCIAIS: COMO UNIR AS ESQUERDAS? ALEGRE A MELHOR OPÇÃO?". (o acesso ao Facebook pressupõe registo de quem quer ter acesso. É fácil e gratuito!)

Não é um debate promovido por opinion-makers, personalidades mediáticamente conhecidas ou à espera de um qualquer lugar. Quem o promoveu e quem nele intervém são activistas com várias opiniões. Todos consideram que é importante debater para se tentar chegar a uma conclusão, a uma convergência. Não se está a discutir a "salvação do Mundo", mas busca-se uma oportunidade política que seria histórica, importante e, em muitos aspectos, decisiva para se desbravarem outros caminhos.

Convidam-se todas e todos a visitarem e participarem nesse fórum! Seja qual for a opinião à esquerda ...

Fica, para conhecimento, as duas últimas intervenções no referido debate, no caso, entre o editor deste blogue, João Pedro Freire, e o Prof. Elisio Estanque.

Elisio Estanque escreveu

Quatro breves notas: 1- se o pessoal deste forum é (realmente) de esquerda, quero ver em quem irão votar numa luta a dois (mais que provável), entre Alegre e Cavaco...
2 - até concordo que Carvaho da Silva podera vir a ser um bom presidente no futuro (mas nao tinha, agora, condições para entrar na corrida);
3 - nao consigo entender que gente tão bem informada nao compreenda que "unir as esquerdas" implica aceitar a diferença, ser democrata (antes do mais) e perceber que não há nenhum candidato "perfeito";
4 - se querem um candidato "puro", não para ganhar, mas sim alguem "anti-sistema" só para reconstruir uma imaginária "esquerda", que reconstrua a vanguarda popular (para quê?... de novo a Cuba da Europa?.. um Chavez?)... então ao menos deixem de dizer que pretendem a unidade....
sinceramente, na minha humilde opiniao, tudo isto são delirios, e em alguns casos de ex-apoiantes de Alegre ressaibiados por ele não ter entreado na loucura que pretendiam....

João Pedro Freire respondeu:

Prof. Elisio Estanque,
Se bem notar, este fórum foi criado com o intuito de se discutirem caminhos, politicas e programas que pudessem constituir espaço para uma candidatura unitária de todas as esquerdas. O "culpado" disto foi o meu camarada Francisco Louçã quando, em meados de Dezembro, resolveu declarar a uma televisão que o "melhor candidato" à esquerda seria Manuel Alegre.
À partida e à esquerda, todos os nomes são "bons" ... é preciso é saber o que é que defendem e com o que defendem que convergências podem ou não criar.
No entanto, o que está a acontecer - na imprensa e nalguns sectores do PS e do BE - é, desde muito cedo, apresentar um cenário, apresentado como inevitável, de confronto (novamente!) entre Cavaco e Alegre. Mesmo muito antes de se saber se um e outro seriam candidatos. Ora isto não representa nenhum contributo sério para um debate que se pretenderia viesse a concluir numa candidatura de unidade de todas as esquerdas.
Mesmo o prof. Estanque, agora com roupagens alegristas muito mais nitidas, também já usa o possível (re)embate "Cavaco vs Alegre" como "argumento".
Manuel Alegre acaba por declarar a sua disponibilidade, não como consequência de qualquer vaga social de esquerda, mas após a pressão dos seus próprios apoiantes, MIC e Ops!, a que se juntaram alguns dirigentes do meu partido, o BE.
Gostaria de saber as razões que o levam a escrever que Carvalho da Silva "nao tinha, agora, condições para entrar na corrida". Agora ? que condições ?
Ora e mais uma vez, este tipo de afirmações não contribui para nenhum debate político. É, isso sim, o "argumento" tipo dos que se ficam pela discussão das eleições como a escolha entre nomes que constam de uma espécie de catálogo.
Num debate político à esquerda aceito e respeito todos os argumentos, seja aqui, seja na blogosfera, seja em qualquer fórum. Nunca coloquei qualquer nome como condição para participar num debate!
Tenho uma referência que não a escondo: Salvador Allende. Um socialista que cometeu erros, mas que soube criar uma convergência histórica à esquerda - a Unidade Popular - e com essa convergência quis mudar, em liberdade, o seu País, num sentido democrático e socialista. O que na altura se dizia no Chile, é pena, que não se repita hoje em Portugal, a propósito das Presidenciais: não se trata de mudar um Presidente, trata-se de mudar um País!
E é por causa dessa mudança NESTE País que seria muito importante saber o que é que as esquerdas pensam da actual governação do PS. E agora o que é que Manuel Alegre pensa. A última entrevista de Manuel Alegre ao Expresso foi tudo menos esclarecedora relativamente a este ponto!
José Sócrates, na sua governação, ora com o apoio do PSD ora com o apoio do CDS, é um elemento de divisão à esquerda. Por isto: não pode unir a esquerda, actos, políticas e atitudes que são claramente de direita!
Não, não estou mesmo nada disposto a fazer campanha ao lado de quem produz e conserva o actual Código Laboral, ao lado de quem está no governo há tanto tempo a só ter tempo para ser de "esquerda" nos períodos de campanha eleitoral! Em que é que José Sócrates se diferencia, nas políticas , de Cavaco Silva? A única diferença (!) é só no modo como um e outro gerem as suas guerrinhas institucionais ...
Há argumentos que não esperava de si ... "vanguarda popular", "Cuba", "Chavez"! Caro Prof., não sou leninista, sou socialista e a minha acção é norteada por por este objectivo "nem liberdade sem socialismo, nem socialismo sem liberdade"! E é por isto que gostaria de ver num debate, os candidatos a candidatos darem a sua opinião sobre o capitalismo sob a forma de "economia social de mercado", sobre a NATO, sobre uma democracia que não se ficasse pelo funil do parlamentarismo liberal, sobre um governo que produz politicas de direita e procura aí apoios,quando tem um Parlamento com um maioria de partidos das esquerdas ...
Para concluir: ao lê-lo fico com a sensação de que a recandidatura de Manuel Alegre tem muito mais a ver com medição de forças de sensibilidades dentro do PS e de quem quer gravitar nesse universo, do que com a busca de uma convergência plural à esquerda. Gostei muito mais do que se passou na primeira candidatura de Alegre ... e votei nele!
Nunca votei à direita e assim me manterei no futuro!

2 comentários:

Nuno Cardoso da Silva disse...

O Prof. Elísio Estanque usa o habitual truque de acusar quem não pensa como ele de querer voltar ao projecto de construir uma "Cuba" na Europa.

Ora o problema é haver quem se intitule de esquerda mas sem querer fazer política de esquerda. Não se pode ser de esquerda sem ser anti-capitalista. Não se pode ser de esquerda e aceitar a precarização dos vínculos laborais. Não se pode ser de esquerda e aceitar uma globalização que promove a exclusão social. Não se pode ser de esquerda e não promover a nacionalização integral da banca. Não se pode ser de esquerda e defender as parcerias publico-privadas para a gestão de hospitais públicos.

Se todos os que se dizem de esquerda fossem realmente de esquerda, a união da esquerda seria fácil, e haveria em Portugal uma alternativa ao capitalismo e ao domínio do poder político pelo poder económico. E haveria um candidato às eleições presidenciais que promovesse as alternativas de esquerda. Coisa que Manuel Alegre nunca fará, porque lhe falta a coragem das convicções. Com ele como Presidente a linguagem mudaria, as políticas não.

Francisco Gonçalves disse...

Sobre as notas breves do Prof. Elísio Estanque, gostaria de referir…
1 - Não sei se o pessoal do fórum é (realmente) de esquerda, mas é uma boa questão, pois há tanta gente a dizer que é disto e daquilo, que eu começo a duvidar se para além da etiqueta que muitos gostam de ostentar, existe na sua vida alguma rotina de SOLIDARIEDADE, pois é isso que define a Esquerda…
2 - Também não sei a que propósito aqui aparece o Carvalho da Silva como possível “futuro” candidato?!? Só se for a Secretario Geral do PCP, esse seria um desafio sério… haja coragem!!!
3 - Que “unir as esquerdas” implica aceitar diferenças, não criar a ilusão do candidato “perfeito”, parece-me evidente, já não me parece claro que o António Vitorino aconselhe o Alegre a deslocar-se para o centro… mas está explicado, se não há nenhum candidato “perfeito”, também não haverá baixinhos “perfeitos”…
4 – Se alguns ex-apoiantes de Alegre andam ressaibiados por ele não ter puxado dos galões perante a “face oculta” duns quantos colegas de partido, acho muito bem, já o contrário me causa espécie…
Continuo a achar que a lógica das Esquerdas para as próximas eleições não deve nem pode estar focalizada no candidato da Direita, mas sim nos Portugueses, é a eles que temos de oferecer o nosso melhor, caso contrário não se queixem do descrédito dos Portugueses nos políticos em bom abono da abstenção. Eu sei, tal como no futebol, o que conta é o resultado…