Hesitei antes de escrever esta nota. Como militante do Bloco de Esquerda, considerava que o assunto Presidenciais merecia, antes de mais, um debate sério dentro do BE. Pelo menos, teria lugar o debate no pós-eleições que nunca houve antes das Presidenciais. Mas, mais uma vez, é o camarada Francisco Louçã que dá a conhecer a sua posição como "Líder do Bloco de Esquerda" sobre o resultado das Presidenciais. E tal como fez antes de todo o processo das eleições presidenciais, é muito provável que a sua posição escrita no DN de hoje, passe a ser também a posição de todo o Bloco de Esquerda. Já que o Líder recorre a um diário que não é do BE, então, como militante de base, recorro a uma rede social, que é de acesso livre e democrático. Tenho também esse direito!
Desgraçadamente, o debate envolvendo todas e todos dentro do Bloco de Esquerda, será, mais uma vez, adiado e prevalecerá a posição do Líder como a posição de toda a organização, com o controlo, do alto do pedestal, de uma maioria que, cada vez mais, se vai esquecendo que há minorias que têm opinião e que têm/teriam todo o direito de expressarem essa opinião. Expressarem essa opinião em todos os foruns do Bloco, sem excepção!
Sobre o que o camarada Francisco Louçã escreveu hoje no DN, há muito pouco a dizer. O PS que Louçã critica é o mesmo PS de Sócrates que apoiou Alegre. Sócrates não é diferente de Vital Moreira, tal como não é diferente de António Vitorino. E o que também é verdade é que a "esquerda" do PS, tal como a "direita" do PS, estiveram de mãos dadas a aprovar o OGE de 2011 que o Bloco, muito justamente, recusou.
Essa "esquerda" e essa "direita" do PS nada têm a ver, nem chegam lá, com o sentir de muitos socialistas que sentem na pele as consequências das politicas de austeridade. Essas "sensibilidades" têm só a ver com as lutas intestinas existentes no seio do partido de Sócrates, nas guerrinhas de acesso ao poder partidário ...
Quanto a Manuel Alegre, convém recordar que ele também apoiou o tal OGE. E foi mais longe! Nunca se mostrou arrependido por ter tomado tal posição, durante toda a campanha eleitoral. E só por muita distracção é que o camarada Louçã, a direcção política bloquista e o esquerda.net é que não repararam que Manuel Alegre sempre meteu os pés pelas mãos quando, durante a campanha eleitoral, era questionado sobre as politicas governamentais. A sua resposta era a abstracção ou então, ele mesmo, Manuel Alegre, justificava as politicas governamentais.
A minha critica a Manuel Alegre já vem de antes destas eleições. Depois das eleições no PS, em que Alegre participou como candidato a secretário-geral, deixou os milhares de militantes que o apoiaram à espera que Manuel Alegre avançasse, como prometeu, com uma corrente organizada. O mesmo aconteceu, depois das eleições presidenciais de 2006, em que Manuel Alegre nunca quis ou não soube ou teve medo de avançar com um sinal de organização para o "milhão de votos" que só lhe encheram a boca.
Manuel Alegre, no PS, perante a sua base social e eleitoral, nunca teve a coragem para dar um sinal de corte com as políticas a que se dizia opor... na retórica! E uma forma de se opor, seria ou organizar uma corrente de esquerda no seu Partido ou cortar com o seu Partido criando uma organização alternativa. Nem uma coisa nem outra!
Depois das últimas eleições presidenciais e com o PS a reafirmar o sentido neo-liberal e as políticas de austeridade, não se conhece de Manuel Alegre, mais uma vez, nenhuma critica, nenhuma iniciativa!
Que "unidade de esquerda" pode promover Manuel Alegre com esta prática continuada de nunca tomar posições quando as pessoas mais estariam à espera delas?
Manuel Alegre seria, de facto, muito importante à reorganização do espaço da esquerda socialista se tomasse uma posição frontal e clara sobre as políticas e o governo do PS. E, neste momento, essa posição passaria necessáriamente por uma ruptura com um partido que deixou, há muito, de representar o que quer que seja à esquerda ou até por referência ao socialismo democrático!
Só por teimosia politica é que Francisco Louçã e a direcção politica do BE podem persistir na conclusão de que "Manuel Alegre era o melhor candidato para desafiar a reeleição de Cavaco Silva e que mereceu o apoio de quem nele confiou."
Persistindo neste tipo de conclusões, a direcção politica e o Líder, não enfrentam, não respondem à realidade que foi e que é a divisão profunda no Bloco de Esquerda POR CAUSA do sentido que impuseram a toda a organização.
João Pedro Freire
militante do Bloco de Esquerda
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