tribuna socialista

quarta-feira, abril 07, 2010

250 MILITANTES BLOQUISTAS QUEREM UMA CONVENÇÃO EXTRAORDINÁRIA!

As eleições presidenciais serão em Janeiro de 2011. É certo que ainda falta tempo, mas estão, desde já, a provocar debate à esquerda. Mais concretamente no espaço da esquerda socialista. Neste espaço político, o Bloco de Esquerda é a força de referência. O Bloco tornou-se, logo em Dezembro de 2009, a primeira força política a manifestar vontade de apoiar um candidato que ainda não o era, Manuel Alegre, através de uma entrevista do seu coordenador, Francisco Louçã, a um canal de televisão. Daí até à confirmação dessa vontade como posição oficial do partido foi um instante.

O debate, entretanto, surge não por iniciativa da direcção política bloquista, mas antes pela acção de grupos de militantes que questionaram a posição de Louçã e depois da Mesa Nacional. O debate sobre a questão presidencial estava apagado desde a última Convenção Nacional. E nessa Convenção, o que foi aprovado não se referia a nenhum nome, mas apontava caminhos alternativos: ou uma candidatura que fizesse convergir as esquerdas ou então um candidato oriundo do próprio Bloco.

Primeiro um documento com mais de 60 assinaturas e agora uma petição que já vai perto das 250 assinaturas, a iniciativa de militantes bloquistas, discordantes do modo como a direcção bloquista lidou com esta questão, levou a direcção política e o próprio Francisco Louçã a convocar reuniões nas principais estruturas do Bloco a nível nacional, no sentido de explicar, após decisão tomada, o apoio a Manuel Alegre.

Ao dia de hoje, o que existe quanto a candidaturas localizadas formalmente à esquerda?

Há duas candidaturas, a de Manuel Alegre e a de Fernando Nobre, e, o Bloco é o único partido que já tomou posição perante uma delas. Ou seja, de acordo com o aprovado na última Convenção Nacional bloquista, as coisas até estão a pender mais para o lançamento de uma candidatura de alguém oriundo da área do BE: nem Manuel Alegre, nem Fernando Nobre, conseguem fazer convergir nas suas candidaturas a maioria das esquerdas!

A ser assim, porque razão a direcção política do Bloco preferiu tomar uma decisão tão cedo? E se a quisesse tomar, a partir da sua interpretação da deliberação da última Convenção Nacional, porque não envolver préviamente todos os militantes através de um grande debate nacional?

É claro que uma direcção política tem o direito de definir políticamente a acção do partido que dirige. Foi para isso que foi eleita! Mas não pode, nem deve, tomar decisões que provoquem divisões sérias e graves, porque partem de interpretações e não de dados objectivos. Isso também deveria ser o papel de uma direcção política: utilizar a democracia interna como motor de unidade, como forma de enquadrar divergências sem provocar rupturas graves!

A direcção política do Bloco contribui, neste momento, através da persistência numa teimosia política, para a discussão do que deve ser o exercício da democracia no seio de uma organização política da esquerda socialista.

O Bloco de Esquerda, quanto aos seus Estatutos, é, de facto, o partido mais democrático existente em Portugal. Por exemplo, nenhum vai tão longe no direito de tendência organizada. Mas questões políticas importantes, como as presidenciais, demonstram que ainda há muito a debater sobre o conceito de democracia interna. E esse debate tem de trazer à luz do dia, a capacidade para se questionar, sem complexos nem fantasmas, se por democracia interna se entende o "centralismo democrático" leninista, mesmo que em versão soft, ou então se opta decididamente pelo desenvolvimento do conceito de partido-movimento assente numa estrutura horizontal, democrática e federativa das correntes que convergem na esquerda socialista.

Neste momento, no Bloco existem formalmente duas tendências organizadas: a Esquerda Nova e a Luta Socialista. Não existem mais correntes organizadas! A actual maioria do Bloco, constituida pela convergência do PSR, UDP e Politica XXI, entretanto transformados em "Associações", não é tendência organizada, nem é a convergência de tendências organizadas. Até parece que a maioria se serve dos Estatutos para motivar o aparecimento de tendências para serem devidamente controladas à posteriori ... Sobre esta realidade, não há própriamente grande transparência por parte da maioria conjuntural.

Sobre esta questão sugere-se a leitura deste texto inserido no boletim da Rede Luxemburguista Internacional, sobre o partido homólogo do Bloco, em França, o "Novo Partido Anticapitalista".

250 militantes do Bloco de Esquerda já assinaram o pedido de convocação de uma Convenção Nacional Extraordinária. No entanto, estatutáriamente, são necessários 10% dos militantes bloquistas. E, desde logo, aqui coloca-se uma questão: como é que uma direcção política pode ignorar um movimento que está a aumentar de dia para dia? Como pode ignorar que há um número considerável de militantes que quer discutir uma questão concreta, as presidenciais?

Sabe-se que a direcção política do Bloco, tem procurado dificultar a acção desses militantes que querem a Convenção Extrarodinária. Não será esse um comportamento anti-democrático e até anti-estatutário?

Os militantes bloquistas estão unidos quanto à acção que desenvolvem nomeadamente contra o governo Sócrates e as suas politicas. É uma unidade que só pode sair prejudicada se continuar a persistir a teimosia de não se discutir as presidenciais em Convenção Nacional. Porque uma unidade séria e forte vive também da capacidade de saber discutir as divergências que vão surgindo.

Uma Convenção Extraordinária discutirá as Presidenciais, não discutirá nem a linha política do Bloco, nem a eleição de novos orgãos dirigentes. À Convenção Extraordinária serão apresentadas todas as propostas sobre o assunto "Presidenciais". E até pode acontecer que seja ractificada a posição da Comissão Política. Então, a posição de apoiar Alegre sairá mais reforçada e os militantes bloquistas até se sentirão mais identificados com ela.

João Pedro Freire
militante do B.E.

3 comentários:

Nuno Cardoso da Silva disse...

Mais uma vez louvo a tua coragem e coerência. De facto, só pode haver democracia em Portugal quando essa democracia for praticada em todas as estruturas políticas e não-políticas do nosso país. Oxalá te oiçam.

Um abraço

Nuno Cardoso da Silva

João Pedro Freire disse...

COMENTÁRIO RECEBIDO, POR MAIL, DO BRASIL. A SOLIDARIEDADE INTERNACIONALISTA NESTAS QUESTÕES É SEMPRE BENVINDA. PRINCIPAMENTE POR PARTE DE QUEM JÁ EXPERIMENTOU EXPERIÊNCIAS DE LUTA POR DEMOCRACIA INTERNA EM ORGANIZAÇÕES POLÍTICAS DA ESQUERDA SOCIALISTA. O MAIL RECEPCIONADO VEM DIRIGIDO A TODOS A/O(S) DEPUTADA/O(S) DO BLOCO DE ESQUERDA NA ASSEMBLEIA DA REPUBLICA:
"Os militantes do Coletivo da Conlutas de Lorena, São Paulo, Brasil solidarizam-se com a iniciativa do setor de aderentes do BE de convocar Convenção Extraordinária para discutir as próximas eleições presidenciais em Portugal, pois entendemos que tais questões devem ser resolvidas pela base militante das organizações políticas da classe trabalhadora.
O desrespeito à democracia operária é marca do burocratismo estalinista e social-democrata e portanto tais métodos devem ser abolidos de nossas organizações.
Senão vejamos: no Brasil a direção do PT paulatinamente usurpou o poder de mando da base militante do partido e tornou-se mero aplicador das políticas neoliberais iniciadas por Collor e FHC, pois passaram os burocratas a defenderem os seus interesses.
Nos sindicatos dirigidos por esta casta burocrática através da CUT os mesmos métodos de desrespeito às decisões da base são utilizados diariamente, traindo a luta e às necessidades do trabalhadores.
O PSOL no Brasil não comunga de problemas diferentes, mesmo postulando-se ruptura e superação ao PT de Lula.
Seus parlamentares e figuras públicas defendem na mídia, nas lutas e nas ruas políticas diferentes daquelas que a maioria dos militantes votam em congressos, e assim atiçam novamente as desilusões com a esquerda.
Caso gritante são as posições de Heloísa Helena em relação ao seu posicionamento contra o aborto e à união civil de homoafetivos, contra a vontade e o voto de quase a totalidade de seu partido e da esquerda socialista brasileira, entre outros casos. Saibam parlamentares que nosso voto não é maior do que nossa luta, mas que esse voto pode sim deixar de sê-lo seu, a partir de sua traição à democracia operária e à luta. Façam das instâncias partidárias e midiáticas da organização que constroem local plural para as idéias e o debate da esquerda socialista. Sem mais, esperamos honestamente que revejam os rumos que tomam após terem avançado politica e eleitoralmente nos ultimos anos."

Paco Fernández disse...

Joao y demás camaradas (soy Paco):
He puesto el texto en el FLI
http://luxemburgism.forumr.net/politics-politica-politique-politica-f1/250-militantes-bloquistas-querem-una-convencao-extraordinaria-t605.htm
Estas situaciones ya las viví cuando era militante de Izquierda Unida en la primera mitad de los 90. Y responden siempre a lo mismo (unos controlan el poder y el resto "pinta muy poco"). Y acaban siempre de la misma forma: los militantes de base terminan yéndose, salvo que estén dispuestos a aguantar lo que sea.
SALUD