tribuna socialista

quarta-feira, setembro 29, 2010

HOJE É DIA DE LUTA EM TODA A EUROPA, CONTRA AS MEDIDAS DE AUSTERIDADE DOS RESPONSÁVEIS PELA ACTUAL CRISE!

29 DE SETEMBRO DE 2010 ... hoje é um dia histórico para o movimento dos trabalhadores europeus! Por toda a Europa, decorre uma Jornada de Luta contra as medidas de austeridade impostas por quem é responsável pela actual crise económica e financeira. Independentemente do seu balanço final, esta Jornada de Luta assume uma grande importância social e política, já que pretende ser uma resposta convergente de todos os trabalhadores europeus, seja qual for a sua nacionalidade, a políticas impostas pela Comissão Europeia de orientação neo-liberal e veículadas, nos planos nacionais, pelos respectivos governos.

A Jornada de hoje, decorre num momento em que os responsáveis pela crise pretendem aparecer como os únicos com capacidade para apresentar soluções para essa crise, apontando as iniciativas das esquerdas, dos trabalhadores e das suas organizações como "irresponsáveis" e que só agem "pela negativa". Nos planos nacionais, como em Portugal, com a direcção do PS, com o PSD e o CDS, os partidos alinhados com as soluções neo-liberais, têm também transmitido, com a ajuda da imprensa (controlada pelos grandes grupos económicos e financeiros), a mesma ideia, procurando criar uma estratégia de tensão junto da chamada opinião pública.

A Comissão Europeia, os governos nacionais europeus e os partidos que os suportam, têm alimentado uma mentira imensa junto de toda a opinião pública. Desde logo, porque quando falam em despesa pública "incontrolada" e, para a controlarem, recorrem a uma série de medidas e de políticas de cortes sociais, de privatizações a torto e a direito, de desregulamentação de toda a economia, tentam fazer esquecer que essas medidas nunca resultaram e já foram aplicadas, sem êxito, num  passado muito recente. Por outro lado, sempre que falam em "despesa pública incontrolada", não dizem que é o actual modelo económico, baseado em concorrência irracionais e, elas sim, incontroladas, que traz, em si, a razão para tanto descontrolo, irracionalidade e crise.

Os trabalhadores e os cidadãos em geral, têm todo o direito de reagirem aos ataques que visam os seus direitos sociais, arduamente conquistados, e, a sua qualidade de vida. Perante medidas injustas, é legitimo esperar que a primeira reacção popular e social, seja de "Não!" e de "Basta!".

Aqueles que só pretendem perpetuar o actual estado de coisas, é que alimentam a panaceia de que as Jornadas, como a de hoje, deveriam ser mais afirmativas e menos negativistas. O primeiro passo para uma alternativa, é a capacidade de se conseguir criar uma consciência social colectiva de rejeição de um modelo que não funciona e que gera crises atrás de crises.

O actual modelo politico e social do capitalismo, tem comportado também a criação de uma série de situações que são também  anti-democráticas. Por exemplo, a generalização dos contratos de trabalho individuais, a generalização de situações de precariedade e de contratos a prazo, visou também a destruição de uma consciência colectiva entre os trabalhadores. Foi uma forma, ao longo de anos, de enfraquecer os sindicatos e de criar, dentro de cada local de trabalho, climas perigosamente concorrenciais entre os trabalhadores, atados a esquemas de avaliação que acabam sempre por ser mecanismos de chantagem junto de cada trabalhador individualmente considerado.

Repetimos: por estas razões, Jornadas com dimensão europeia, como a de hoje, são extremamente positivas porque podem contribuir para se reconquistar uma consciência colectiva e, agora, de dimensão europeia junto dos trabalhadores e dos cidadãos europeus, em geral.

As medidas de austeridade, os cortes nas prestações sociais, a redução dos salários, a privatização de sectores fundamentais da economia, a manutenção de um modelo financeiro que implodiu, ... , são soluções que visam a preservação de um sistema - o capitalista ou economia de mercado - que trás em si, a principal razão endémica da tanta crise: uma concorrência irracional, uma incapacidade estrutural de planificar o que quer que seja!

Mesmo quando os defensores e executores do actual sistema, tentam avançar com simulacros de estatizações, tudo acaba por falhar porque limitam-se a transportar para o nível do Estado, o mesmo tipo de funcionamento de uma empresa. E nas empresas, segundo o modelo capitalista neo-liberal, a gestão esquece a participação dos trabalhadores e alimenta-se com base em práticas nada transparentes. Por isto, a economia de mercado é incapaz de criar e, muito menos, de desenvolver qualquer serviço público!

Os trabalhadores sabem, pela sua experiência, que é possível uma alternativa. Sabem também que esta crise para ser vencida precisa de um sistema de planificação democrática com a sua participação. Parem os governos e a Comissão Europeia de falar em "controlar", quando a única coisa que querem é abrir o caminho para a intervenção da tropa de choque do capitalismo internacional - FMI, por exemplo - para a preservação do actual sistema de crise e de irracionalidade. Parem também os iluminados ex-governantes de pedir cortes e mais cortes, quando toda a gente sabe que, no seu curriculum, não consta que alguma vez, quando eram governantes (nacionais e/ou europeus) tenham tido qualquer êxito nas medidas que aplicaram ... Chega de hipocrisia, de mentira e de caras-de-pau!

Uma outra Europa, construida com a participação democrática dos seus cidadãos, com uma Comissão Europeia eleita universal e democráticamente, certamente comportar-se-ia de um modo muito diferente daquela que é presidida por Durão Barroso.

Depois da Jornada Europeia de Luta contra a Austeridade, seria muito importante que as esquerdas anti-capitalistas, democráticas e socialistas, pudessem trabalhar numa alternativa politica, económica e social com dimensão europeia. É nesse sentido e para isso que só pode servir uma Jornada europeia, como a que se realiza hoje!

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