tribuna socialista

terça-feira, setembro 21, 2010

SUÉCIA: AS ESQUERDAS JOGAM NO PARLAMENTO, A EXTREMA-DIREITA GANHA NAS RUAS!

Olof Palme em 1968: tempos aureos da social-democracia sueca ...
A coligação de direita voltou a ganhar na Suécia, a extrema-direita elegeu 20 deputados (5,8%) e a social-democracia (a menina querida da Internacional Socialista!) teve um dos piores resultados de sempre.

O que é que isto demonstra, numa perspectiva de esquerda?

Selecionamos este extracto de texto retirado do blogue "O grande Zoo", de Rui Namorado, membro da corrente "Esquerda Socialista" do PS:

"Nos dois anos decorridos, quer no plano nacional, quer no plano distrital, a vida do PS continuou, no essencial, a repetir aquilo que tinha vindo a ser. Os partidos integrados no Partido Socialista Europeu e na Internacional Socialista mantiveram-se perigosamente estagnados, tendo escandalosamente desaproveitado a dramaticidade e a gravidade da crise do capitalismo, que entretanto se desencadeou, como factores impulsionadores de uma renovação e intensificação do seu protagonismo. Na Europa, nenhuma outra parte da esquerda se mostrou capaz de substituir o PSE como pólo institucional, com virtualidades de alternativa à direita dominante; e não se abriu a porta a uma cooperação consistente e sistemática do PSE com as outras esquerdas, sem prejuízo de uma ou outra tímida excepção. Em Portugal, a conflitualidade entre o PS e as outras esquerdas acentuou-se."

De um modo geral, concordamos com o que é escrito pelo Rui Namorado. Ressalvamos, no entanto, um aspecto que não é secundário: o PS de Sócrates é hoje um partido distante de qualquer acção de esquerda, tanto nas políticas como nas acções que implementa. Não sendo de esquerda, grande parte dos seus militantes são imprescindíveis para uma alternativa socialista de poder. Esta contradição existente no PS português, é também o que se passa nos restantes partidos da Internacional Socialista: algo de esquerda, quando estão na oposição, claramente alinhados com o neo-liberalismo quando são governo!

Mas também é verdade que à crise da social-democracia europeia, não se vislumbra qualquer alternativa oriunda de outras esquerdas. De um modo geral, as esquerdas tradicionais europeias - social-democracia, partidos comunistas e novas esquerdas (ex-trostquistas, ex-maoístas, etc) - têm vindo a mergulhar em jogos parlamentares, esquecendo o que se passa nas ruas, nos locais de trabalho e onde as pessoas moram. Afundados nos jogos parlamentares, essas esquerdas deixaram de conseguir dialogar entre si, nunca mais falaram em alternativas de poder resultantes de convergências políticas entre si. Insultam-se, olham para o umbigo e deixam as ruas à mercê dos populismos e da demagogia reacionária e xenófoba da extrema-direita.

No plano europeu, as correntes maioritárias das esquerdas continuam a reduzir a sua acção e o seu discurso a precupações meramente nacionais, quando a actual dimensão da acção social e política deveria ser europeia. Nesta matéria, a Europa tem estado a ser construída segundo um padrão anti-democrático, de colocação da vontade popular e cidadã à distância, um modelo político muito próximo do que a direita neo-liberal tem defendido também nos espaços nacionais em que é governo. Mas do lado das esquerdas, continua a fazer falta uma acção concertada no plano europeu, não só entre os deputados no Parlamento Europeu, mas sobretudo no desenvolvimento de acções sociais e políticas com dimensão europeia.

As esquerdas europeias precisam também de fazer uma aposta clara na dimensão europeia, libertando-se do colete de forças que são os espaços nacionais e as posições soberanistas-patrioteiras ...

Nos planos nacionais e europeu, o modelo de representação política falhou. A chamada "democracia liberal europeia" não motiva a participação popular e cidadã. Coloca essa participação num funil por onde só passam, em última instância, os chamados "políticos profissionais", criaturas que só se chegam a quem os elege, nos períodos de campanha eleitoral. Há um excesso de representativismo na acção política que restringe e, às vezes, inibe outras formas de exercicio da democracia. Tudo isto cria espaço para todas as formas de populismo, os quais acabam sempre no discurso de condenação de toda e qualquer forma de acção política ... Os partidos da social-democracia europeia (como o PS português) têm enormes responsabilidades no crescimento dos populismos, já que continuam a elogiar a "democracia liberal europeia", como se não houvesse democracia para além desse funil ...

No plano económico e financeiro, mesmo em plena crise, mesmo depois das explosões ocorridas no sector financeiro, a social-democracia europeia continua atada ao que chama de "economia de mercado", ou seja, o capitalismo. Ensaiam criticas ao neo-liberalismo, mas as soluções (!) que preconizam situam-se sempre dentro do quadro capitalista neo-liberal. Parece que não aprendem com as lições da crise, parece que não vêm ou não querem ver, as consequências sociais deste modelo económico e financeiro: mais desemprego, mais precariedade, ataques aos direitos sociais, banca voltada para a satisfação dos seus próprios accionistas, mas predadora em relação aos clientes que vivem do seu trabalho!

As esquerdas precisam de mais ousadia e mais coragem políticas! É urgente uma alternativa de democracia, de socialismo, de busca de um novo modelo económico e financeiro liberto! Os populismos e o avanço da extrema-direita combate-se com muito mais intervenção social, combate-se com mais democracia a todos os níveis, combate-se com uma alternativa europeia ao actual modelo anti-democratico, anti-social e neo-liberal.

No próximo dia 29 do corrente, a Jornada Europeia contra as medidas de austeridade é uma boa oportunidade para se começar a concretizar essa alternativa de dimensão europeia.

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