O cenário poderia ainda ser pior e continuariamos ainda a ver muitas cabeças pensantes e com responsabilidades nesta crise, a persistirem em análises que começam, duram e acabam, em como encontrar "razões" em algo que terá corrido mal ou em alguns empresários com menos escrupulos ... o mais importante, para essas cabeças, é não por em causa o sistema que, apesar de tudo, possibilitou-lhes num importante período de tempo, ganhos astronómicos.
Haverá também quem continuará a culpabilizar os salários pela "asfixia" das empresas ... esquecendo-se quem o faz, que esqueceu de esconder o automóvel de gama alta que ficou à porta da empresa!
A crise que temos é uma crise do sistema capitalista na sua fase globalizada e neo-liberal. Não é uma crise deste ou daquele empresário, desta ou daquela empresa ou de trabalhadores considerados malandros. É a crise de um sistema que apostou na desregulamentação, na escravização da mão-de-obra através de esquemas de precarização, contratos a prazo e exportação de mão-de-obra quase escravizada, que usou e abusou da especulação financeira, que tornou o comércio internacional uma selva densíssima, usando como armas para a sua dominação organizações como o FMI, o Banco Mundial, a OMC e um conjunto de Estados nacionais, com os EUA à cabeça, numa carruagem de que faz parte a China!
Este sistema capitalista está num estado que não é reformável ... todos os arranjos que se possam fazer, sómente adiarão o estouro final. Um estouro que não se dará em uma qualquer data préviamente marcada para o histórico "fim do capitalismo", mas que acontecerá, aos poucos mas depressa, pelo lado da tragédia social e humana!
Os tempos já não podem servir para analisar o que já está farto de ser analisado! São precisas soluções que tenham a coragem de propor um novo radicalmente diferente do que está a falir! E na busca dessas soluções, é vital, fundamental, decisivo, o contributo de todas e de todos os que são vítimas da actual crise. É preciso dar-lhes a palavra, o protagonismo ... sendo que, para isso, é também preciso reconhecer que as representações políticas tradicionais e baseadas no sistema liberal falharam em toda a linha ...
Os movimentos sociais deverão ter, em pleno século XXI, a mesma iniciativa política que o movimento operário teve no século XIX, avançando com novas formas de organização e intervenção para a mudança radical da sociedade num sentido socialista, libertário e profundamente democrático!
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