O texto que agora damos a conhecer é da responsabilidade de Alexandre Pinto e foi publicado primeiramente no Jornal do Centro.
O Alexandre Pinto é um militante do espaço da esquerda socialista, embora, neste momento, sem partido. Consideramos o seu texto como mais um bom contributo para a discussão sobre a reformulação/reestruturação/reorganização do espaço da esquerda socialista.
(*) Texto de Alexandre Pinto
Defendo a criação de um novo sujeito político em Portugal, chamem-lhe partido na designação ortodoxa, emergindo do espaço sociológico criado a partir das candidaturas pioneiras e emancipadoras de Manuel Alegre à Presidência da República e de Helena Roseta às Eleições Autárquicas Intercalares de Lisboa. Um Movimento Político dos Cidadãos organizado em rede, sem burocracias nem hierarquias rígidas e dogmáticas capaz de ser uma resposta política inovadora às novas exigências do século XXI e que não replique modelos ultrapassados dos outros partidos filhos da Revolução Industrial.
A crise e as suas exigências sociais exigem de nós respostas políticas enérgicas e inovadoras com capacidade de mobilizar aspirações e anseios dos cidadãos, profundamente desiludidos com o enorme fracasso das respostas dadas pelos partidos tradicionais ao longo dos últimos anos. A crise social exige de nós uma Nova Agenda Política com prioridades muito claras e de mudança.
Depois de três quadros comunitários de apoio, milhões e milhões de euros de ajudas alguma coisa de muito grave falhou. Portugal é hoje um dos países mais pobres da Europa. Mais de 18 por cento da população Portuguesa vive abaixo do limiar de Pobreza, com menos de 380 euros mensais. Este é um problema estrutural que ao longo da última década se tem arrastado, sem que se consigam implementar políticas com capacidade de alterar a situação. Ao mesmo tempo Portugal é o país que no contexto Europeu sofre de uma maior desigualdade na distribuição do rendimento e da riqueza – a parcela auferida pela faixa de 20 por cento da população com rendimentos mais elevados é 6.5 vezes superior à auferida pelos 20 por cento da população com rendimentos mais baixos, enquanto a média comunitária é de 4.6 e nos países Nórdicos não vai além dos 3,5. No último Relatório do Eurostat sobre a situação social coesão e igualdade de oportunidades, publicado em 2008, Portugal continua a ser o país com mais desigualdades no contexto da União Europeia. Quase um milhão de pessoas vive com menos de dez euros por dia e duzentos e trinta mil com menos de cinco euros.
Deve ser esta a prioridade política da Nova Esquerda. Mais de vinte anos passaram desde a entrada de Portugal na União Europeia. Depois de todo este tempo a Pobreza tem-se mantido estável em torno dos vinte por cento da população portuguesa: um em cada cinco portugueses é pobre. Temos que mudar este estado de coisas. Não nos devemos resignar e encolher os ombros aos inúmeros apelos manifestados por tantos cidadãos que hoje se sentem desiludidos com a política em Portugal. É este o momento para avançar, deixemos de protelar adiamentos, porque a grave crise social e económica que estamos a viver agrava ainda mais a sua exigência. Se não o fizermos estaremos a ser cúmplices de um silêncio de medo sofrimento e desespero de milhares de cidadãos neste País. Não há desculpas à esquerda!
JORNAL do CENTRO ed. 357, 16 de Janeiro de 2009
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