tribuna socialista

sexta-feira, agosto 26, 2011

O MEU CONTRIBUTO PARA O DEBATE COM BOAVENTURA SOUSA SANTOS ...

http://clix.visao.pt/carta-as-esquerdas=f618946

A "Carta às esquerdas" de Boaventura Sousa Santos é, na minha opinião, uma excelente contribuição para um debate com conclusões entre as esquerdas.



Sim, também sou de opinião que "A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas" ... é urgente é precisar o que é uma "democracia de alta intensidade". A experiência da minha própria militância e activismo social, tem-me levado a acreditar que a intensidade da democracia só atingirá o seu ponto alto quando a democracia fluir em formas assembleárias e de expressão directa. O representativismo tem vindo a significar um funil cada vez mais restritivo e ultra-selectivo no exercício da democracia.

Eu que sempre militei em partidos políticos à esquerda, como ainda o faço no Bloco de Esquerda, interrogo-me muito sériamente se os partidos políticos conseguem, nos dias da actual crise capitalista, ter capacidade de resposta e capacidade de mobilização social em nome de uma alternativa de mudança radical da actual sociedade.



Os partidos políticos como expressão de um representativismo e de um taticismo castradores, parecem-me ser crescentemente instrumentos de bloqueio para qualquer mudança social e política.

Considero, embora não tenha certezas, que a espontaneidade social poderá gerar novas expressões de organização com uma maior capacidade de mobilização e geradora de alternativas de poder.



As esquerdas ... é a elas que também me dirijo. Mas há esquerdas comprometidas com monstruosidades totalitárias e outras que, há muito, nada conseguem ver para além do capitalismo, com quem é, na minha opinião, perda de tempo qualquer tentativa de diálogo.

O diálogo entre esquerdas que, no século XXI, conseguem olhar para a História sem tabus, sem complexos e com capacidade critica e autocritica, deve ser feito, deve acontecer no plano da luta social, no seio dos novos movimentos sociais.



O capitalismo não serve, não é reformável, não é regulável! As esquerdas deveriam preparar para o capitalismo o mesmo fim que tiveram os regimes totalitários imprópriamente auto-designados de "socialistas"!

O que me preocupa, nas lutas em que participo e no meu dia-a-dia, é a falta de capacidade de resposta que as esquerdas exibem no momento de se apresentarem alternativas ...

Repito: essa capacidade de resposta tem estado muito mais próxima dos novos movimentos sociais, tipo acampadas, que têm ocupado e povoado muitas ruas e praças internacionalmente!



Escreve Boaventura Sousa Santos na sua "Carta às esquerdas": "O Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca." Parece-me uma ideia muito abstracta ... na minha opinião, o Estado no século XXI, é sobretudo um enorme aparelho burocrático de dominação e de controlo sobre a sociedade, os movimentos e as pessoas. Esse aparelho burocrático reproduz formas de dominação muito semelhantes em Portugal, na China, nos EUA, na Venezuela, na Alemanha, em Cuba, no Brasil ... e o mais dramático é que por todo o lado, ninguém parece conseguir introduzir-lhe democracia e transparência!

"Melhor Estado" é claro que sim, numa perspectiva de generalização e coordenação de serviços públicos ... mas também acrescento que para ser melhor, o Estado deveria delegar-se (!) nas suas competências numa rede de iniciativa autogestionária ... aí sim, teríamos a democracia em toda a sua intensidade!



Mais do que nunca, coloca-se nos nossos dias esta dicotomia: SOCIALISMO OU BARBÁRIE!

João Pedro Freire