tribuna socialista

sábado, fevereiro 28, 2009

BLOCO DE ESQUERDA: UMA REALIDADE JÁ COM 10 ANOS!

O Bloco de Esquerda fez por estes dias, 10 anos de idade!

Goste-se ou não do Bloco, o certo é que é uma experiência política única em Portugal e até no plano internacional. Grupos, militantes, partidos e correntes com percursos, experiências e culturas diferentes, à esquerda, souberam convergir com um êxito político visível!

Mesmo olhando o Bloco pelo lado dos que mais o criticam, é, de facto, notável que trotsquistas, estalinistas, comunistas reformadores, marxistas, socialistas e independentes de esquerda, tenham conseguido em 10 anos realizar um percurso de convergência, onde a discussão e a democracia conseguiram tornar o Bloco de Esquerda como uma referência insusbstituivel no espaço da esquerda socialista!

Haverá ainda muito caminho a percorrer e a desbravar, mas a experiência colectiva do Bloco e a individual de cada bloquista, são contributos valiosissimos num momento em que em Portugal e na Europa se fala em reorganização do espaço da esquerda socialista!

PS: afinal ... onde está a tal viragem à esquerda?

A direcção sócratica do PS enveredou definitivamente pela linha da história da madrasta da Bela Adormecida: haverá alguém mais esquerda do que eu?

Ontem José Sócrates bateu à direita, bateu à esquerda e até bateu nos tais fantasmas das "campanhas negras" ... teve que se conter para não começar a zurzir para dentro do PS ... lá afirmou que dentro do seu partido "não há excluídos, nem silenciados"!!.... Ficou muito bem para as camaras televisivas, num momento em que o seu discurso, já tinha direito a música de fundo! A realidade de Sócrates é mesmo virtual ...

Hoje, António Costa resolveu afirmar, nunca o fazendo explicitamente, que para as eleições para a Câmara de Lisboa contará com uma lista recheada de independentes como José Sá Fernandes ... é claro que não disse isto, mas de tanto desancar no Bloco de Esquerda e noutras esquerdas, deu mesmo para perceber! ... A não ser que surja alguma reedição de aliança à direita ... não há é já nenhum "socialismo" para meter na gaveta, o que até facilita as coisas!

Tudo vai acontecendo num Congresso onde o pluralismo é sempre na proporção de 96% para os "bons" da direcção e do governo, uns 2% para os "menos bons" de uma moçãozeca alternativa (!...) e mais 2% para o que der e vier ...

Vamos a ver é se com tanta decência, a direcção do PS não acaba por arranjar um grande "sobressalto cívico" já nas eleições europeias!

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

73.000 - 26.000 = 47.000 !... Por onde andam estes socialistas?

O PS (que já teve o seu símbolo como se exibe na imagem!) inicia hoje mais um Congresso Nacional.


Desde logo, uma primeira curiosidade para quem assiste de fora: será um Congresso do PS ou um Congresso do partido do governo?


São duas situações muito diferentes. O PS ainda é o partido de muitos trabalhadores, de muitas pessoas que se referenciam ao socialismo democrático e a causas novas e históricas das esquerdas. O partido do governo é práticamente uma espécie de agência de carreiristas, de seguidores acríticos, de quem poderia ser deste partido ou de qualquer outro, desde que também pudesse ser governo!


A conta que faz o título desta posta tem muito a ver com o que dizemos. Entre os inscritos no PS e os que votaram em José Sócrates, há uma imensidão de 47.000 que não participaram nas votações primárias para o Congresso que hoje se inicia.


Serão abstencionistas crónicos? Serão apoiantes de Manuel Alegre que resolvem mostrar o seu descontentamento com uma atitude abstencionista? Serão meros inscritos que nunca participam, como vai acontecendo um pouco por todos os partidos? Serão professores, trabalhadores desempregados, trabalhadores precários, trabalhadores de empresas em crise, ... ?


A realidade é que José Sócrates entra neste Congresso com 96% dos votos que valem sómente 36% do partido!


Toda a gente (que é do PS e que não é do PS) sabe que debate é coisa que não existe ... É certo que esta falta de debate não é exclusiva do PS. Mas o que se passa no PS, é um sistemático efeito de eucalipto que todo o debate seca, sempre que está no governo ... e quanto mais tempo está, pior é esse efeito de eucalipto!


José Sócrates e a sua direcção só se lembram do aparelho partidário (e não própriamente dos militantes, o que também é diferente!) quando se realizam os Congressos Nacionais. Da mesma forma que só se lembram das pessoas em geral (ao ponto de apelarem à "tradicional base social de apoio" do PS!!), quando se realizam eleições. A estas lembranças ciclicas e oportunistas, juntamos mais uma: depois de governarem à direita em nome de correções de deficits e outras coisas do género, tentam agora "corrigir" súbitamente com acenos "à esquerda" ao Congresso e às pessoas em geral!


Mas se todos repararmos bem, esses "acenos à esquerda", nunca modificam o essencial das políticas e orientações neo-liberais:
  • dentro do PS, parece que se resumem a timidas medidas de contentamento da "ala esquerda mediática" (porque devem existir outras tendências mais basistas, mais sociais, só que menos mediáticas) : eutanásia, casamentos entre pessoas do mesmo sexo, mais uns lugarzitos nas listas eleitorais ...

  • no governo: a palavra "social" volta ao vocabulário governamental, só que ... não se percebe se não é a própria crise a obrigar o governo a fazê-lo ...

Os socialistas do tempo a que se refere a imagem que reproduzimos, lembram-se do que é que significaria uma verdadeira mudança de políticas para a esquerda: mais debate político e ideológico nas bases que frequentam núcleos e secções, mais e melhor democracia a todos os níveis da sociedade, saber qual a vontade dos trabalhadores deste País em vez de só se olhar para os empresários, defender o Serviço Nacional de Saúde mesmo que isso aumente o déficit público, reintroduzir o controlo das gestões empresariais pelos trabalhadores, ...

A isto, certamente que José Sócrates responde com temporais e conjunturais "esquerdas modernas" que se ajoelham à economia de mercado, quando os tempos são de vacas gordas, para, depois, em vacas magras, pintarem a mesma economia de mercado com pinceladas de "social" que nada altera, nada modifica e continua a provocar crise e mais crise!

O Congresso Nacional do PS acabará por ser uma espécie de festa de confirmação de um líder que fala, fala, fala, com música de fundo, mas que parece que vive num mundo que é o dele e o dos seus amigos mais próximos, mas que esbarra com a realidade que os trabalhadores e os jovens vão sentindo no dia-a-dia ...

Não será muito simpático afirmar que uma alternativa de esquerda socialista precisa dos militantes socialistas do PS mas não da sua direcção governamental-sócratica. Mas esta é a realidade dificil que é preciso trabalhar políticamente!

É por aqui que passa a tal distinção entre "Congresso do PS" e "Congresso do partido do governo". Uma distinção que vale, talvez, 47.000 aderentes/militantes do PS!...

terça-feira, fevereiro 24, 2009

JORNALISTAS PELO DIREITO AO TRABALHO!

Dia 4 de Março, os jornalistas do Grupo Controlinveste ( Jornal de Notícias, Diário de Notícias, O Jogo, 24 Horas) afectados pelo despedimento colectivo vão parar 24 horas!

Está em causa, também aqui, o direito ao trabalho que este sistema não consegue assegurar aos trabalhadores de qualquer sector de actividade económica.

Por todo o Mundo, as notícias sucedem-se sobre despedimentos porque os patrões precisam de manter determinadas margens de lucros ...

Já não há paciência, não pode haver mais paciência, para tremenda injustiça e desplante!

Os trabalhadores têm todo o direito de se apoderarem das empresas, das fábricas, dos postos de trabalho para se acabar com esta crise! Um direito que deveriam exercer, mesmo antes do Estado, através de governos que só sabem agir dentro dos parametros deste sistema, intervir ... Sim, porque até se poderia aproveitar as eleições para colocar os partidos da crise em expressiva minoria!

No dia 4 de Março, os 122 trabalhadores da Controlinveste ameaçados de despedimento colectivo merecem toda a nossa solidariedade! E assim também nos solidarizamos com todos os outros milhares que já estão no desemprego ou que caminham para lá ...

EROTISMOS & LIBERDADE ...






A PSP de Braga resolveu agir a pedido de mentes que não dão a cara, para apreender livros que ostentavam o quadro de Gustave Courbert que também reproduzimos ...
Para as mentes que não dão a cara, a pintura em causa é "pornográfica" e, como tal, a Polícia sente-se com autoridade para esconder a vagina e as pernas da senhora do século XIX!
Em vez de nos determos em explicações sobre o que representa a vagina ou o que é erotismo e pornografia, preferimos deixar mais duas imagens ancestrais (!) onde se exemplifica aquilo que pode ser a "A origem do mundo" , a obra de Gustave Courbet que se serve da natural parte da senhora do século XIX. Mas até pode nem ter nada a ver com a "origem do mundo" ... pode ser só prazer!
O entendimento destas coisas tem muito a ver com questões culturais ... com a liberdade que uma sociedade pratica para que a cultura seja algo que se respira! Já se pode perceber porque é que as tais mentes que não dão a cara, passam históricamente ao lado destas coisas ...

ZECA AFONSO CONTINUA POR AÍ ...

O homem desapareceu fez agora 22 anos! ...

Mas as músicas que transmitem afectos, memórias de lutas, apelos à combatividade, essas, continuaram, continuam e, de certeza, continuarão nestes tempos de crise capitalista ...

José Afonso, o Zeca, não é só um cantor como alguns querem fazer passar aos mais novos ... até já está em tops e cozem-se mil e uma versões com sonoridades que enojam! O Zeca foi um lutador, um militante que sabia o que queria, e, nos dias de hoje, certamente que estaria do lado de todas e todos aqueles que rejeitam esta sociedade de miséria e misérias e anseiam por dias de liberdade, de fraternidade, de socialismo!

domingo, fevereiro 22, 2009

DESEMPREGO: SÃO TRABALHADORES, SÃO PESSOAS ... NÃO SÃO NÚMEROS! ... E SABEM O QUE QUEREM!

Com a crise SOCIAL a bater à porta dos bancos - no sábado o Público noticiava que 2000 trabalhadores do sector financeiro português podem não ter os seus contratos de trabalho renovados ... - é oportuno o ponto de situação (possível!) sobre as empresas que têm vindo a despedir, a suspender produção, a praticar o chamado "lay-off" ...


Para o Governo e o patronato há uma espécie de contentamento pelo que se poderia chamar a "política do emprego possível", ou seja, como se o desemprego fosse uma inevitabilidade, então o que não é despedido já é considerado "muito bom" ...

Definitivamente, o governo e o patronato surjem de mãos dadas, como se alinhando pelo mesmo lado da barricada da crise. E essa convergência acaba por ser confirmada, quando para o primeiro-ministro José Sócrates as respostas para a crise passa por apelos a políticos e empresários ... esclarecedor e sintomático! ...

Desde o ínicio deste ano, a crise conta-se da seguinte forma quanto às suas consequências sociais:
  • Faianças Bordalo Pinheiro: 150 trabalhadores
  • Toyota Caetano Portugal: 360 trabalhadores
  • Tyco Eletronics Portugal: 1600 trabalhadores
  • PSA Peugeot-Citroen: 1400 trabalhadores
  • AutoEurpoa: 250 trabalhadores
  • Impala: 500 trablhadores
  • Mitsubishi: 350 trabalhadores
  • Controlinveste: 122 trabalhadores
  • Aerosoles: 1360 trabalhadores
  • Marcopolo: 220 trabalhadores
  • Jornal da Madeira: 20 trabalhadores
  • Borgstena: 112 trablhadores
  • Philips: 70 trabalhadores
  • Faurecia: 250 trabalhadores
  • Sonae Indústria: 42 trabalhadores
  • Delphi: 585 trabalhadores
  • Suberus: 300 trabalhadores
  • Ecco: 177 trabalhadores
  • Intipor: 140 trabalhadores
  • Santogal: 1400 trabalhadores
  • Euronadel: 182 trabalhadores
  • Frutinatura: 30 trabalhadores
  • Corticeira Amorim: 118 trabalhadores
  • Edscha: 180 trabalhadores
  • Tsuzuki: 100 trabalhadores
  • CPM: 60 trabalhadores
  • Fehst: 170 trabalhadores
  • Carfer: não divulgado o número de trabalhadores
  • Dinkin: 115 trabalhadores
  • AP- Amoníaco: 152 trabalhadores
  • Leoni: 700 trabalhadores
  • Coindu: 200 trabalhadores
  • Fleximpor: 73 trabalhadores
  • Toyota Salvador Caetano: 350 trabalhadores
  • Renault Cacia: 1100 trabalhadores
  • Sodecia: 104 trabalhadores

Entretanto o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) divulgou que, só em Janeiro deste ano, inscreveram-se nos centros de emprego 70.334 trabalhadores desempregados. O que represeenta um aumento de 27,3% em relação a igual mês de 2008 e um aumento de 44,7% relativamente a Dezembro !

São números que representam DRAMA SOCIAL e que exigem RESPOSTA URGENTE!

Desde um ponto de vista socialista, não se pode ficar por encolher de ombros perante a realidade. A actual crise só é inevitável e tenderá a ser cada vez pior, se as soluções se ficarem pelos parametros do sistema que proporcionou as condições para uma crise deste tipo.

Os trabalhadores precários (os tais que não entram sequer nos números oficiais sobre emprego), os trabalhadores contratados a prazo (que passam, nesta crise, rápidamente a precários!), os trabalhadores já no desemprego, os trabalhadores de empresas em crise, os trabalhadores a quem a crise ainda não afecta de uma forma tão evidente, todos e todos deveriam ser objecto de acções por parte do movimento sindical no sentido da sua organização para se estudarem, com esses trabalhadores, respostas à crise.

Auto-respostas, mas também respostas sociais e políticas que representem iniciativa trabalhadora perante uma crise que é a crise do sistema da especulação, da exploração, da miséria da maioria social!


terça-feira, fevereiro 17, 2009

O SIGNIFICADO DE "BOCADINHO" PARA O PATRÃO DOS PATRÕES...

Francisco Van Zeller considera que quando uma empresa dá lucros, e só nessa condição, "é um bocadinho vergonhoso" haver despedimentos.

Para o patrão dos patrões portugueses o despedimento é uma espécie de acto de gestão e, enquanto tal, será justificado (!) se uma empresa der prejuízo.

Ora, como é sabido, a grande maioria das empresas portuguesas (de qualquer dimensão) está formatada para dar quase sempre prejuízo (matérias que o fisco e o bolso de cada patrão poderão justificar melhor que este blogue!!!) ... logo os despedimentos parece que ficam justificados!

Van Zeller exibe o grau de sensibilidade social dos patrões portugueses: têm só um "bocadinho" ... na precisa medida do "bocadinho" em que justificam o despedimento mesmo quando há lucros!

Para um patrão é muito mais fácil despedir um trabalhador do que despedir uma máquina ou um computador ou até reconhecer que o método de gestão usado tem de ser revisto ou que aquele carrão estacionado à porta ou no parque da empresa poderia ser outro mais em conta ...

Despedir é um acto de gestão que quando é vergonhoso é só um "bocadinho" ...

INTEMPORALIDADES ...


«Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.»


Eça de Queiroz

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

HUGO CHÁVEZ: O POPULISMO ETERNIZA-SE!

A eternização no poder, o culto da personalidade, a totalitarização do discurso do "chefe" através de todos os media ... tudo isto, envernizado com medidas sociais até que o petróleo o permita, este é o modelo de "novo socialismo" de Hugo Chávez.

Com excepção dos que continuam a precisar de um "sol" para que os referenciais político-ideológicos não entrem em derrapagem, Hugo Chávez tenderá a convencer cada vez menos gente por esse Mundo fora e na Venezuela.

O socialismo, tal e qual é, não precisa de chefes, de líderes, de vanguardas, de iluminados. O socialismo precisa do contributo permanente e renovado de cada trabalhador e de todos os trabalhadores, das suas lutas e do seu movimento exigente e crítico.

O socialismo precisa de democracia e esta não se reduz a eleições do tipo plebicisto ao líder! Na democracia que o socialismo aprofunda, a revogabilidade dos cargos, das funções, dos eleitos é uma das componentes mais exigentes!

Chávez passa populisticamente ao lado de tudo isto!

domingo, fevereiro 15, 2009

DARWIN: 200 ANOS!


Fez no passado dia 12 de Fevereiro 200 anos do nascimento de Charles Robert Darwin – o pai da Biologia Moderna.

Apesar de ser um desconhecido entre a maioria da população, esta é provavelmente a única altura em que se ouve falar tanto deste grande Senhor que revolucionou a Biologia.

Sendo assim, elucidemo-los: afinal, quem foi Charles Darwin?

Darwin foi um cientista britânico do século XIX que embarcou numa viagem a bordo do navio HMS Beagle à volta do Mundo, com o objectivo apenas de fazer o reconhecimento da costa. No entanto, esta viagem revelou-se o desabrochar da teoria que formularia anos depois. Os inúmeros locais em que esteve forneceram-lhe dados biográficos e geológicos, sendo a sua passagem pelas Ilhas Galápagos a mais marcante, pela sua biodiversidade no seu estado mais natural. Sempre com um bloco de notas debaixo do braço, Darwin esboçava desenhos de diferentes espécies, tomava apontamentos de uma forma minuciosa e atenta.

Todos estes dados, posteriormente analisados já em Londres, permitiram-lhe formular uma das teorias mais polémicas de sempre – a Teoria da Evolução. De uma forma muito sucinta, esta teoria tem por base que as espécies actuais possuem um ancestral comum, evoluindo para novas espécies quando sujeitas a diferentes pressões ambientais; os “mais aptos” ao novo clima, ou seja, os que possuíam as características mais vantajosas reproduziam-se mais e assim aumentava o número de indivíduos, formando assim uma nova espécie.

Esta ideia pôs de parte a imutabilidade das espécies e a acção divina sobre a evolução do Homem. Daí que não tenha sido de esperar que a ideia de que o Homem tinha o mesmo ancestral que o macaco tenha sido alvo de chacota entre os líderes religiosos da época. Mesmo assim, Darwin continuou com as suas pesquisas e em 1849 publicou, numa obra integral, as suas conclusões resultantes da sua viagem que o levaram à Teoria da Evolução – A Origem das Espécies. Contra tudo e contra todos, Charles Darwin chocou a Igreja e revolucionou a forma de pensar de toda a ciência. Uma personalidade que vale a pena relembrar.

Joana Amorim Freire
estudante

SÓCRATES REELEITO NO SEU PARTIDO COM UM SCORE NORTE-COREANO ...

José Sócrates reeleito secretário-geral com 96,43 por cento dos votos

O resultado é bem norte-coreano! ... Embora em ano de eleições, seja um resultado que se pode repetir um pouco por todos os partidos com assento parlamentar. Os actos eleitorais de uma democracia que se reduz a eleições, tendem a transformar os partidos numa espécie de clubes onde os sócios se acantonam ... uns contra os outros!

Oposição? Pura e simplesmente ... sumiu!


Para este cenário, Manuel Alegre também deu o seu contributo quando afirma (de acordo com o Expresso desta semana) que "Não gosto de votar em eleições em que o meu voto não resolve nada".

sábado, fevereiro 14, 2009

DIAS LOUREIRO DEVE DEMITIR-SE DO CONSELHO DE ESTADO: mas para que serve este conselho?

SE há algo que as sucessivas burlas bancárias têm mostrado sem filtros, esse algo é a vida dupla dos administradores dos bancos ... gostam de se afirmar como exemplos para o comum das pessoas, mas fora dos holofotes dos media, nos meandros dos bastidores das gestões empresariais, fazem trinta por uma linha, não olham a meios, adoptam o principio de que o cumprimento da lei é para os outros ... Algo comparável a vicios privados e públicas virtudes!

Mas essa vida dupla, não é exclusiva dos gestores bancários ... as notícias que se sucedem, mostram também que não há fronteiras entre os negócios empresariais e os políticos que só se lembram das pessoas quando essas pessoas se reduzem a eleitores!

Lucros a qualquer preço, gestões danosas e habilidosas, promiscuidade entre políticos, futebol, empresas e o que mais se imagine, é algo que só acontece porque esta democracia é formal, reduz-se à letra e cultiva a distancia (grande, quanto maior melhor ...) entre quem "só" decide e quem é relegado ao plano de "só" executar o que foi decidido.

No aparelho de Estado que este formalismo democrático vive, surgem orgãos que só servem para consolidar esse mesmo formalismo democrático. É o caso do Conselho de Estado! Existe à margem da vontade democrática, existir ou não existir ninguém sentiria coisíssima nenhuma.

Dirão alguns dos partidários da sua existência, que é um orgão de "aconselhamento" (estamos todos muito sensibilizados com os doutos conselhos que, anos após anos, têm dado aos sucessivos Presidentes, isto para não falarmos nos resultados desses conselhos ...) do Presidente da Republica. Atente-se no exemplo desse conselhereiro de Estado que dá pelo nome de Dias Loureiro. Foi nomeado pelo Presidente Cavaco, está metido até ao pescoço no caso BPN, pelos vistos terá sido disléxico (!) na versão que contou ao Parlamento sobre os tempos em que foi administrador do BPN ... não se demite do "Conselho de Estado", o seu amigo Cavaco Silva não o afasta do dito "Conselho" e, nós os que andamos cá por baixo a apanhar com a crise, o que é que podemos fazer? Como sempre, esperar que Suas Excelências cozinhem as suas "verdades" e as suas relações pessoais nessas "verdades" ...

O Conselho de Estado não serve para NADA! Para já afaste-se Dias Loureiro, mas aproveite-se para acabar com esse furunculo que é o Conselho de Estado ...

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

OS 30 ANOS DA "REVOLUÇÃO" (!?) IRANIANA ...

Há 30 anos , em 10 e 11 de Fevereiro de 1979, consequência de um levantamento popular, os islamistas sucederam aos imperialistas para oprimirem os trabalhadores iranianos. Esta data é uma oportunidade para se fazer um balanço destes 30 anos e também para que a esquerda debata o que se passa no interior do Irão . Pomos à disposição alguns links sobre o Irão, e também, o testemunho (em inglês) de um comunista iraniano, Abbas Goya, que vive exilado no Canadá.
ALGUNS LINKS:
Women and revolution in Iran, et Lessons of the Iranian revolution, Raya Dunayevskaya (1979/80)
The change of rulers in Iran (Socialist standard, 03-1979)
The working class in Iran: some background - class struggles from 1979-1989, Mostafa Saber (1990)
The history of the Undefeated: a few words in commemoration of the 1979 Revolution, Mansoor Hekmat (1995)
Islamic fundamentalism: from Iran 1979 to today, A[njoman] Azad[i] (2001)
Imperialism, Islamists and Crisis: Iran’s Islamic Republic at Breaking Point, Ali Javadi (Against the current, 09/10-2003)
Iran: le dessous des cartes, Jean-Christophe Victor (2003)
Iran: Créons une organisation ouvrière en comptant sur nos propres forces, Mohsen Hakimi, Behrouz Khabaz, Bahram Dezki & Mahmoud Salehi (2005)
Iran: Tous unis contre le séisme social (Wildcat, été 2005)
Con il proletariato iraniano in lotta contro la feroce repressione della borghesia islamica (Pagine marxiste 01/04 2006)
Le lotte dei lavoratori iraniani (Battaglia comunista, 05-2006)
Iran: Révolution et contre-révolution (1978-1979) (Paul Hampton, Solidarity, 06-2006)
Iran: Luttes ouvrières et guerre (Échanges, 09-2006)
Campagne contre la répression antisyndicale en Iran (08-2008)
Iran: Le 20e anniversaire du « massacre des prisons » de 1988 (08-2008)
Iran: Human Rights in the spotlight on the 30th Anniversary of the Islamic Revolution (Amnesty international, 02-2009)

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

MÁRIO SOARES: ora diga lá, o que é isso de "ética" no capitalismo!


Mário Soares parece que não aprendeu com as origens da actual crise e com os seus próprios erros ... insiste na quadratura do circulo!

Além do mais não se consegue libertar de uma sua obsessão recente e que é a sua crença de que para além do governo Sócrates e desta maioria absoluta do PS só existirá o "caos" ...

Para Mário Soares, o "socialismo democrático" é um capitalismo avançado, é uma "economia de mercado" com regras éticas e políticas estritas ... mas será que Mário Soares também pensa que a actual crise é culpa de capitalistas "imorais" ou com "falta de ética"? Vai dai e ainda acaba por voltar a defender uma nova coligação "PS/CDS" (provávelmente até seria mais fácil num PS com direcção sócratica!?) para restaurar a "ética" dentro do sistema financeiro português!!!...

Depois de todos os ciclos de crise e de crescimento que se sucederam desde 1929, a actual crise capitalista mostra uma evidência: este sistema não é reformulável, reformável, com mais ou com menos ética. O grande desafio para quem se diz socialista, é este: ora vamos lá então mostrar às pessoas o que é isso de uma alternativa de socialismo!

De facto a Europa da "social-democracia" e do "socialismo democrático" conseguiu grandes avanços democráticos e sociais. Mas o que dá para ver é que esses grandes avanços aconteceram em momentos de boom capitalista ... agora, em plena crise, os grandes avanços passam a grandes recuos e os partidos da "Internacional Socialista" passam (confirmam!...) a gestores liberais da crise capitalista! Mesmo que apelem aos Berardos, aos Belmiros e aos Amorins para serem mais "éticos" e outras coisas que tal ...

A luta por um socialismo que seja democrático e libertário (a reafirmação da sua matriz fundacional, histórica e ideológica!) está na ordem do dia! Em plena globalização liberal-capitalista, no meio do turbilhão da actual crise ... mas que represente sempre um corte radical com o sistema capitalista liberal, neo-liberal, "ético" (?), ...

O socialismo é o socialismo, a barbárie é a barbárie ... chega de jogos de palavras!

T O L E R Â N C I A !

Formalmente a Igreja Católica já pediu desculpa pela Inquisição ... mas parece que, volta e meia,
volta a produzir actos e afirmações que
fazem perceber que a Inquisição estará no código genético das altas esferas eclesiásticas.

A Conferência Episcopal Portuguesa parece querer enfiar num guetto pessoas com orientação sexual diferente daquilo que se considera "normal"...

Para os próximos actos eleitorais, os Bispos portugueses não vão a votos, mas, qual tique totalitário, querem influenciar a consciência das católicas e dos católicos portugueses, proibindo-os/as (!!!) de votarem nos partidos que apoiem o casamento entre pessoas do mesmo sexo ... E, porque o fundamentalismo não escolhe latitudes, nem nacionalidades, nem cores da pele, lá temos nós, cá por esta terra, o que fácilmente se critica nos excessos muçulmanos!

Os Bispos revelam intolerância e um total egocentrismo, já que ignoram o que se passa no interior da Igreja Católica, onde não assumem, nem reconhecem, antes escorraçam, um crescente número de padres que se assumem como homossexuais.

No geral, os chefes de uma instituição que continua fechada, secreta ao mais alto nível (como os bancos a esse nível!), onde a democracia fica à porta, merecem que, em cada uma das três votações que aí vêm, o voto coloque os Bispos numa posição de total minoria social e política!

É isso o que merece tamanha INTOLERÂNCIA e TOTALITARISMO!

terça-feira, fevereiro 10, 2009

UM SONHO POR UM MUNDO MELHOR ...

A Margarida que ouvem é uma mulher lutadora no Bloco e fora dele. Durante a última Convenção Nacional do Bloco de Esquerda apresentou um excelente trabalho com suporte imagem que passa por ser um significativo Manifesto por um Mundo melhor com a luta de nós todos. Dentro e fora do Bloco ...
A Margarida é uma militante da corrente Esquerda Nova do B.E., a qual, desta vez, integrou a Moção/Lista B à última Convenção Nacional.
Ouçam, comentem e fiquem com vontade de discutir com militantes que pensam como a Margarida!

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Billy Bragg: a propósito da morte de Rachel Corrie

Uma grande voz a propósito do desaparecimento de uma mulher de causas!

Vale a pena ver, ouvir e ... pensar!

BLOCO DE ESQUERDA: A REORGANIZAÇÃO DA ESQUERDA SOCIALISTA PASSA POR AQUI!

A 6ª Convenção Nacional do Bloco de Esquerda confirmou este partido-movimento como uma referência política insubstituivel no espaço da esquerda socialista e uma parte activa para a definição de uma maioria social de esquerda que constitua a base para uma alternativa com programa e políticas democráticas e socialistas.


O Bloco de Esquerda - criado há dez anos como consequência da capacidade de convergência de militantes, correntes e partidos de diversas esquerdas - tem razão quando quer ter uma palavra na reorganização da esquerda socialista em Portugal. O espaço da esquerda socialista corta transversalmente parte do espectro político à esquerda em Portugal! Trata-se de uma realidade que se afirmará crescentemente ao ritmo do agravar da crise capitalista.


A maioria social de esquerda, a base para qualquer mudança política, social e económica que corte radicalmente com o neo-liberalismo e com o capitalismo, não é a soma de partidos, nem o resultado de acordos entre direcções partidárias. Mas também não deve ser uma fórmula ao abrigo da qual, tudo fica pela abstracção porque não há coragem de se chegar a algo de concreto.


A maioria social de esquerda tem de cortar transversalmente as bases sociais de todos os partidos parlamentares. É uma maioria que surge da convergência social de todos os que sofrem as consequências das políticas neo-liberais e da crise do sistema que origina essas políticas. Como tal, realiza a convergência social para além do que são os partidos tradicionais e para além do que permite o parlamentarismo liberal (há muita gente, muita gente, quase tanta quanto os murmurios dos "são todos iguais" ou "o que querem é ganhar o deles" que não se revê em modelos partidários do tipo agência de empregos, trampolins para lugares no aparelho de Estado ou tribunas de politiquês...)


É na capacidade de intervenção e acção junto dessa convergência social que surge a urgência da reorganização do espaço da esquerda socialista. Não como uma vanguarda (claramente os modelos de organização verticais, hiper-hierarquizados, modelares, profissionais... não mobilizam, não sensibilizam!) , mas como um espaço que tem revelado capacidade para compreender as dinâmicas dos novos movimentos e mobilidades sociais.


O Bloco de Esquerda irá, de certeza, crescer nas três eleições deste ano de 2009. Mas há, desde logo, um desafio que se coloca: como crescer, renovando-se permanentemente, incorporando sempre novas ideias, novas propostas? será que a organização está preparada para isso? Se o Bloco quer intervir decisivamente na reorganização da esquerda socialista tem de saber responder com sentido prático a estas questões!

Nos tempos de crise capitalista, num contexto de informação e tecnologias de informação globais, uma organização socialista tem de saber incorporar claros sinais de flexibilidade, de horizontalidade, de não-autoritarismo e hierarquização ao mínimo, em suma, tem de ser libertária! O tradicional partido deve passar a movimento, capaz de acolher os tradicionais militantes, mas também, grupos sociais que já intervêm na crítica prática às consequências das políticas e da crise capitalistas!

A esquerda socialista tem de afirmar-se como a expressão política - de alternativa! - do movimento de movimentos, dos trabalhadores, dos militantes e das pessoas, e, dos grupos sociais!

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

MEMÓRIAS DOS MEDOS DENTRO DO PS ...

O trauliteiro dirigente sócratico, Augusto Santos Silva, resolveu restaurar umadas péssimas tradições do PS: o papel algo policial e totalitário que o aparelho do partido tem sobre todos os seus militantes ...

Isso mesmo, o PS tem muitas tradições democráticas, mas também tem muitas outras tradições de partido com aparelho repressivo e tipo eucalipto quanto ao efeito que tem de secar quase todo o debate democrático e do direito de divergir!

E o que é mais interessante constatar, é que esse papel bloqueador que o aparelho exerce, ocorre sobretudo em momentos em que a direcção do PS, confundida com os momentos em que é também governo, teve/tem de enveredar por políticas de direita e com alianças que nada têm a ver com qualquer estratégia socialista (ex.: PS/CDS, PS/PSD, ...).

Santos Silva comporta-se hoje como o guardião do sócratismo e o seu principal comissário da propaganda. Repete em 2009 um cenário que já Salgado Zenha, no seu tempo, tinha denunciado quando se candidatou à Presidência da Republica contra a opinião do seu partido de sempre, o PS.

No tempo de Salgado Zenha, Manuel Alegre estava ao lado de Mário Soares, e não se lhe conhece nenhuma critica ao aparelho, na altura, soarista! Mas ... ainda bem que as pessoas mudam!

Antes de Salgado Zenha, quando este ainda estava de pedra e cal ao lado de Mário Soares (os tempos de "Soares e Zenha, não há quem os detenha"...), o aparelho já se tinha encarregado de fazer outras limpezas (!) ideológicas a grupos/correntes de militantes, dos quais os mais conhecidos foram, por exemplo, Aires Rodrigues e Carmelinda Pereira e, depois, Lopes Cardoso!

Parece portanto, que sempre que ser socialista perturba as direcções conjunturais do PS, lá vem inquisição e lá aparece um inquisidor-mor!...

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

A PROPÓSITO DA 6ª CONVENÇÃO NACIONAL DO BLOCO DE ESQUERDA ...

Antes de mais, uma explicação para esta posta: sou militante do Bloco de Esquerda e utilizo este veículo da blogosfera para divulgar a minha posição como apoiante de uma das Moções - a "B" - em discussão na Convenção Nacional que se realiza estes Sábado e Domingo, em Lisboa. Divulgo a minha posição, já que considero que pode contribuir para um debate que julgo importante e que ultrapassa as fronteiras do próprio Bloco de Esquerda: o debate em torno da urgente e necessária reorganização do espaço da esquerda socialista, como expressão política para uma maioria social de esquerda que ponha fim à máquina trituradora neo-liberal e anti-social.

Na Convenção Nacional do Bloco, estarão em debate três Moções, com propostas diferentes mas convergentes nos caminhos que propõem para os/as militantes do Bloco de Esquerda. Apesar de todas as insuficiências (normais) que ainda subsistem, os debates no Bloco de Esquerda podem ser considerados uma boa referência em todo o espaço político português. O próprio Bloco de Esquerda pode também ser considerado um bom exemplo quanto à possibilidade e capacidade de convergência de correntes políticas com experiências políticas e culturais diversas e diferentes. É bom lembrar isto, num momento em que se discute (por toda a Europa!) a reorganização do espaço da esquerda socialista. Como é importante salientar que a reorganização da esquerda socialista tem de beber a sua dinâmica na sua capacidade para estar onde estão as lutas sociais e a exigência de novas políticas e deuma nova concepção de poder.

Fica então a minha posição de militante do BE, delegado apoiante da Moção B "Construindo a Democracia, Por uma Maioria Social de Esquerda":


Antes de mais uma tentativa de caracterização da actual conjuntura: profunda crise financeira neo-liberal em rápida evolução para uma crise económica e social do sistema capitalista mundial. No plano nacional, a existência de um governo dito socialista com políticas neo-liberais e alinhadas com o patronato e o sector financeiro, poderá contribuir para a reformulação política do espaço da esquerda socialista. Trata-se de um processo que depende também da capacidade de influência (da parte, nomeadamente do BE) junto do movimento social e de massas. No entanto, a incapacidade de influência pode ocasionar algum protagonismo por parte da direita (PSD) ou de alguma solução populista.

É por isto que é importante debater as soluções políticas e organizativas que o BE – enquanto parte decisiva da esquerda socialista – proporá na sequência da sua próxima Convenção Nacional. São soluções que se devem interligar nos diferentes cenários dos processos das eleições legislativas, europeias e autárquicas.

Na opinião da Moção B, a definição de soluções socialistas para a presente crise depende muito mais da capacidade de intervenção e de influência junto dos movimentos e lutas sociais do que do protagonismo que se consiga no plano parlamentar ou dos acordos entre direcções partidárias à esquerda.

A intervenção e a influência junto dos movimentos e lutas sociais terão também uma influência decisiva na fractura do Partido Socialista, isto é, na influência das suas bases militantes que criticam abertamente as políticas sócraticas. Perante isto, Manuel Alegre é apenas um sintoma da existência de milhares de aderentes e simpatizantes descontentes do PS. E como sintoma que é, acaba por ser titubeante, contraditório e pouco consequente. Numa óptica de reorganização do espaço da esquerda socialista o que se pretende é a adesão das bases militantes do PS!

A reorganização do espaço da esquerda socialista, no qual o BE acaba por ser um excelente exemplo de sucesso da capacidade de convergência de correntes com experiências politicas e culturais diferentes, conseguido no cadinho das lutas sociais, é também uma parte do processo de definição daquilo a que a Moção B chama de “maioria social de esquerda”. Uma maioria constituída para além das somas aritméticas dos partidos, mas conseguida pela convergência consolidada dos movimentos sociais que querem novas políticas, novas experiências governativas, que cortem radicalmente com o capitalismo e apontem para um socialismo libertário, democrático e revolucionário.

A actual crise capitalista cria à esquerda, entre as esquerdas e em particular à esquerda socialista, uma oportunidade importantíssima para se proporem soluções que consigam reunir o apoio da maioria social e sejam mobilizadoras dessa maioria. Tem havido, desde logo, comum a todas as esquerdas na abordagem à presente crise, um dado preocupante: todas as “soluções” apresentadas têm passado pela tentativa de compromissos governamentais e parlamentares que ignoram a participação institucional dos trabalhadores de cada sector em crise.

No caso do BE, é aqui que reside um dos motivos para a crítica da Moção B quando referimos que a acção do Bloco tem estado demasiadamente subordinada e dependente da acção parlamentar. Na nossa opinião, esta dependência vai ter também repercussões na vida interna da nossa organização: as estruturas (núcleos e concelhias) acabam por ficar centradas na acção parlamentar e desviadas da intervenção junto das lutas e dos movimentos sociais que acontecem mesmo ao pé si, e, no plano da democracia interna esta torna-se muito formal numa organização que parece que só está interessada em reproduzir “clones” do seu coordenador.

O Bloco de Esquerda tem de voltar à irreverência e criatividade dos seus primeiros tempos, sabendo e conseguindo “correr por fora, de modo que nos permita, simultaneamente afirmar a nossa luta pelo Socialismo e tentarmos melhorar a vida das pessoas na sociedade capitalista em que vivemos.

A actual crise cria, desde uma perspectiva socialista, oportunidades para a apresentação de soluções que podem contribuir, no quadro das lutas sociais e laborais, para o processo de formação de uma consciência social para uma alternativa socialista. Soluções que não têm de estar submetidas às chamadas agendas parlamentares.

> Em alternativa à “nacionalização” ou estatização burguesa de bancos, porque não apelar à sua socialização, isto é, criando condições para o controlo da gestão dos bancos (todos!) pelos trabalhadores do sector financeiro? Repito que é espantoso como, por exemplo, no BPN e mesmo no BPP os trabalhadores dessas instituições foram completamente esquecidos, enquanto se continua a falar em gestão danosa, em corrupção, etc. O controlo da gestão pelos trabalhadores deveria ser também pedida para o Banco de Portugal.

> Organização dos trabalhadores vítimas do fecho de empresas, apontando-se soluções de economia social, em vez, dos parcos subsídios que servem para a abertura de cafés, pãos quentes e outras formas perpetuar a precariedade das suas condições de vida tirando qualquer capacidade critica de cidadania a esses trabalhadores. Por exemplo, motivar as estruturas locais do Bloco, nos locais em que o desemprego atinja valores com impacto social, à organização de sessões de formação sobre formas de economia social.

> Adequar a organização dos trabalhadores precários ao actual contexto de medo. Divulgação de formas de organização a partir de redes na net, envolvendo-se as actuais organizações, o movimento sindical e outras organizações que venham aparecer. Em toda esta acção é vital que os militantes tenham uma posição de colaboração activa e solidária em vez de busca do controlo …

No movimento organizado dos trabalhadores, a actividade dos militantes bloquistas nos sindicatos e nas Centrais Sindicais é pouco conhecida como corrente sindical que, na minha opinião, se deveria afirmar de forma autónoma e organizada. A intervenção dos militantes bloquistas nos sindicatos da CGTP e da UGT poderia também significar a introdução de novas ideias para o movimento sindical chegar aos trabalhadores do sector privado, das pequenas e médias empresas, buscando-se acções que motivem o retorno à solidariedade de classe num contexto de domínio de contratos individuais de trabalho, quando existem, e de precariedade.

Matéria importante para os subscritores da Moção B, é a democracia interna no Bloco. Não temos dúvidas em constatar que o BE é hoje o único partido, no quadro parlamentar, que possui o sistema de democracia interna mais avançado e regulamentado. Mas queremos mais, já que o nosso modelo não é o parlamentarismo, nem os partidos que se moldam segundo os mecanismos da chamada democracia liberal.

Para a Moção B, falar de democracia interna é falar de óleo para a engrenagem, é como falar de oxigénio para o corpo humano. É também criar condições para que o Bloco não seja “só” o “líder”, e, consiga estar sempre, por inteiro, em qualquer movimento e luta sociais, onde quer que se desenvolvam.

No plano da organização interna, consideramos que é vital que a informação, de cima para baixo e de baixo para cima, circule fluentemente, contribuindo para aumentar a capacidade de auto-mobilização a todos os níveis, concelhias, núcleos e militantes. Consideramos que, não obstante alguns progressos, é possível fazer mais. Uma sugestão: incentivo aos núcleos e concelhias para criarem fanzines de intervenção local! Estaríamos também a aumentar a discussão política que tem sido bastante reduzida ao nível de núcleos e concelhias. E a capacidade para se intervir resulta muito da iniciativa, a qual tem de partir da capacidade de planificação das intervenções, onde o elemento discussão é vital!

A democracia interna também é a livre organização de tendências. As tendências organizadas são também um motor dessa democracia. E são também uma tradição do movimento socialista internacional, nomeadamente aquele em que se integrou Rosa Luxemburgo, que sempre considerou a liberdade como parte integrante das organizações socialistas e do próprio socialismo.

Consideramos que as tendências organizadas no seio do Bloco devem ter mais liberdade e maior capacidade de intervenção interna e externa, sempre no respeito pelos Estatutos e pelas regras da democracia. Por exemplo, o aparecimento de mais pluralismo nas eleições intermédias da nossa organização seria uma consequência da prática da democracia interna e o contributo desta para maior vitalidade e dinamismo internos. Outro exemplo, é o incentivo, através da permanente divulgação (pela COC, nomeadamente), da candidatura de cada militante a delegado à Convenção Nacional, apoiando esta ou aquela moção, mesmo que, em cada núcleo esse militante seja o único candidato por essa Moção.

Pessoalmente considero que seria interessante que, num futuro próximo, o BE pudesse equacionar nos seus Estatutos a possibilidade de adesões colectivas. Também a possibilidade de grupos e movimentos sociais assistirem e intervirem em pontos específicos das Convenções Nacionais e em reuniões das estruturas intermédias. Seria uma forma de afirmarmos o BE como partido-movimento e estaríamos também a tentar, no século XXI, perante os movimentos sociais, aquilo que , no século XIX, o movimento operário e sindical concretizou ao organizar partidos políticos socialistas, como forma de terem um instrumento para influenciarem e mudarem o poder!

O Bloco de Esquerda como partido-movimento continua a ser um projecto original. Uma organização horizontal, não-autoritária, inclusiva e onde pluralismo é sinal de vitalidade e de capacidade de mobilização. Nesta perspectiva, defende-se que o Bloco deverá aproveitar todos os novos meios e tecnologias de comunicação e informação como forma de chegar e difundir a multitude dos novos movimentos e mensagens sociais. Neste caso, seria muito interessante que os espaços do Bloco na net fosse criada uma BElogosfera onde todos os blogues e portais que o quisessem, colectivos ou individuais, criassem links e, periodicamente, fossem organizados Encontros Abertos Temáticos.

Criando um “BE EM MOVIMENTO” e como forma de dinamizar permanentemente núcleos e concelhias, organizados por estes, poderiam ser organizadas sessões para discussão, a partir da exibição de exposições (nas sedes locais do BE) e da projecção de filmes.
Trata-se, na minha opinião, todas as ideias e propostas formuladas, de uma forma de se criar um BE com intervenção nas eleições para a Assembleia da Republica com capacidade de influenciar muito para além do mero circo eleitoral.

EUROPEIAS

As eleições europeias não devem ser consideradas como secundárias na sua importância política, relativamente às nacionais. Há hoje um conjunto de políticas nacionais que estão condicionadas pelo seu enquadramento europeu e, como tal, é muito importante que a esquerda socialista tenha capacidade para influenciar a dimensão europeia.

A Europa tem estado dominada por um modelo indefinido. Não se percebe se a sua organização é unionista, federal ou uma mera soma de Estados nacionais. A direita prefere levantar o “papão” do federalismo porque teme que uma resposta com coordenação internacional da esquerda – afinal aquilo que a esquerda socialista sempre pugnou! – possa ter mais êxito que o seu tradicional posicionamento nacionalista. Algumas esquerdas – mesmo entre a esquerda socialista – teme o federalismo, embora nunca o tenha discutido (pelo menos, nos anos mais recentes), porque identifica esse federalismo com uma organização que daria mais protagonismo aos Estados “mais fortes” … O que fica é um modelo indefinido que serve que nem uma luva ao neo-liberalismo de Durão Barroso, Merkl, Sarkozy e José Sócrates.

A ideia de uma Europa unida não é ideia da direita, mas um projecto avançado pela esquerda socialista no pós-guerra. E a esquerda socialista europeia propôs precisamente um modelo onde o relacionamento entre os Estados fosse feito num plano de total igualdade, sem imposições em função de qualquer dimensão, e sem qualquer lógica nacionalista. O “Movimento pelos Estados Unidos Socialistas da Europa” propunha um modelo federal que a chamada “guerra fria” impediu que tivesse continuidade, quanto mais não fosse, em relação à sua discussão e divulgação.

A discussão aberta sobre o tipo de organização europeia seria uma boa ideia a desenvolver no seio do Bloco de Esquerda!

Esta discussão encaixa numa outra ideia importante face ao caos em que o neo-liberalismo tem deixado o processo de unidade europeia: a refundação social e democrática da Europa!
Para essa refundação, a Moção B (à semelhança de muitas outras correntes socialistas europeias) considera que é fundamental a eleição de um Parlamento europeu com poderes constituintes que defina e aprove uma Constituição Europeia.

Até lá, é importante que se continue a rejeitar tudo o que impede a refundação democrática e social da Europa, como o “Tratado de Lisboa”, como as políticas de carácter xenófobo e anti-emigração, como a chamada Lei Bolkestein e o Tratado de Bolonha.

Uma especial atenção, deve ser dada à questão da NATO. A Nato não tem nada a ver com a ideia de uma Europa democrática, mas com uma lógica belicista de “guerra fria”. Como tal, o Bloco de Esquerda deveria vincar a sua posição de apelo ao fim da Nato, promovendo um debate nacional sobre o assunto e associar-se a todas as campanhas europeias sobre esta matéria.

AUTARQUICAS

As autarquias deveriam ser consideradas como o nível mais importante para a aprendizagem e formação democráticas. E nas autarquias, as freguesias são o local mais importante para o exercício de uma prática quase assente na democracia directa.

É certo que o modelo de representação popular nas autarquias está hoje muito moldado à imagem do parlamentarismo liberal e burguês, mas é possível desenvolver uma acção que aponte para um caminho diferente.

Os eleitos bloquistas deveriam permanentemente avançar com propostas que promovam práticas de democracia directa e participativa e obriguem as Assembleias e Executivos das Juntas de Freguesia a irem ao encontro das pessoas e dos seus problemas.

É aqui que também é vital que existam estruturas do Bloco, como núcleos, que se assumam como plataformas de apoio à acção dos autarcas bloquistas.

O apoio faz-se não só pela rápida informação das propostas nacionais do Bloco, mas também pela discussão permanente e democrática das principais questões autárquicas.
Esta discussão tem falhado e, por isso, aconteceram casos como o da Câmara Municipal de Lisboa (falta de discussão aberta, democrática e em tempo) e o da Câmara de Salvaterra de Magos (um exemplo de absoluta falta de informação a toda a organização sobre uma experiência autárquica).

Será importante que erros deste tipo não se voltem a repetir, embora seja preocupante o que parece voltar a repetir-se em Lisboa com a posição do Bloco para a respectiva Câmara: se avança sozinho, se apoia Helena Roseta … tudo novamente com toda a organização à espera de saber o que vai acontecer, sem poder intervir!

Teria sido interessante que face a uma posição definida pela Mesa Nacional do Bloco, as concelhias e os núcleos pudessem submeter essa posição nacional às condições específicas das realidades concelhias e de freguesia.

CONCLUSÃO

“Terminado o ciclo eleitoral, 2010 deve permitir que o balanço de 10 anos de Bloco de Esquerda sejam consubstanciados numa conferência sobre o funcionamento interno (…)
Como? Por exemplo, fazendo uma avaliação da prática do direito de tendência. Como? Por exemplo, organizando jornadas culturais, onde os aderentes possam debater ideias e traçar linhas orientadoras de acção, bem como divulgar iniciativas e contribuir, assim, com o seu exemplo, para fomentar outras, principalmente a nível local e distrital.
Devemos, até ao final de 2010, criar a oportunidade para aprofundar, (…), o debate sobre temáticas como o sindicalismo e a organização nos locais de trabalho, o relacionamento intergeracional ou a sustentabilidade ambiental no quotidiano degradado das cidades-dormitório.”
(in Moção B, ponto 12.)

terça-feira, fevereiro 03, 2009

NÃO TENHAS MEDO DE DIZER O QUE SENTES!...

Obrigado, Francisco Trindade!
De facto, uma imagem notável e muito útil, como exemplo, para os tempos que correm!

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

PARTIE DE GAUCHE: novo partido na esquerda socialista em França.

Foi constituido, em França, o PARTIE DE GAUCHE que se pretende localizar na esquerda socialista com uma perspectiva unitária.

Neste pequeno filme ouçamos algumas razões que levaram militantes da esquerda do Partido Socialista Francês a dar este passo.

É um bom motivo de reflexão para todos os que estão interessados no movimento de reorganização da esquerda socialista no espaço europeu!

Está em francês, mas vale a pena ouvir!