tribuna socialista

domingo, setembro 16, 2012

UM MILHÃO DISSE: QUE SE LIXE A TROIKA !




Foi UM MILHÃO que ontem veio para as ruas respondendo a um apelo muito claro:

QUE SE LIXE A TROIKA
QUEREMOS AS NOSSAS VIDAS


Certamente que hoje, o tal dia seguinte à resposta popular, virão os comentadores de serviço com as suas interpretações redondas, cretinas e óbvias tendo em conta quem servem ...

Sócrates precisou de 7 anos para apanhar com a reprovação popular do 12 de Março ...
Passos Coelho e (convém não esquecer!!!) Paulo Portas precisaram de um ano apenas para terem a sua reprovação popular ...



Muita gente participou ontem, pela primeira vez, numa manifestação ... mas, convém ter isso em conta, há também muita gente que participou pela segunda vez numa manifestação: primeiro para dizer "Sócrates vai-te embora" e agora para dizer "Passos vai-te embora" ...









Há nisto uma reprovação clara, uma oposição muito precisa a um sucedâneo de partidos do centrão ou bloco central que mandaram o País e as nossas vidas para um nível zero sem precedentes ...
No dia seguinte que é o dia de hoje e os próximos que se seguirão, há uma mensagem que tem de passar: isto não vai lá com remodelações governamentais, isto não vai lá com austeridades, seja qual for a intensidade, ISTO PRECISA MESMO DE UMA RESPOSTA NOVA, COM POLÍTICAS DE JUSTIÇA SOCIAL QUE CORTEM COM A TROIKA E COM A AUSTERIDADE!



As muitas, muitas vontades que ontem desceram às ruas e praças deste país, de certeza, que sabem o que precisam para retomar um sentido de dignidade para as suas vidas, para cada um, para cada uma, para todos e todas !









Pessoalmente identifico esse sentido de dignidade com um
GOVERNO DE ESQUERDA
, um governo de todas as vontades que querem justiça social, que querem mais democracia, que querem mais liberdades, que não abdicam de sermos nós a decidir e não mais os acéfalos mercados e/ou os meninos-de-mão de troikas que nunca perceberam que a democracia não é uma folha de cálculo , mas pessoas concretas com vontade !

João Pedro Freire 

segunda-feira, setembro 10, 2012

EM BLOCO E À ESQUERDA … COMPROMETIDOS COM TODAS AS LUTAS, LOCAIS E INTERNACIONAIS, POR MAIS LIBERDADE, MAIS DEMOCRACIA, PELO SOCIALISMO!


TEXTO DE JOÃO PEDRO FREIRE PARA DEBATE NO BLOCO DE ESQUERDA PARA A VIII CONVENÇÃO NACIONAL.

UM DEBATE QUE SE PROPÕE TAMBÉM PARA FORA DO BLOCO ...

++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

1 – CAPITALISMO É CRISE … ESTA CRISE É CAPITALISMO!
Três marcos assinalam a resistência social e popular, nestes dias, a uma crise que dá pelo nome de capitalismo:
·         O chamado movimento occupy que é hoje uma realidade internacional;
·         A resposta popular grega nas ruas e nas urnas com a ascensão de um partido-movimento de esquerda e socialista, o Syriza;
·         A luta dos mineiros asturianos que culminou com uma marcha desde as Astúrias até Madrid, corolário de uma greve de mais de 50 dias, pela defesa de postos de trabalho, contra as reestruturações capitalistas, pela defesa dos seus espaços de vida.
São três fontes de lições que apontam caminhos para se repensar uma esquerda combativa, socialmente comprometida com todos os movimentos e lutas e politicamente apostada numa alternativa plural e unitária com sentido democrático, socialista e anticapitalista.
A crise capitalista tem motivado respostas sociais que contêm importantes contributos para novas respostas políticas à esquerda:
·         o social precede o político, com uma espontaneidade de onde emergem novas formas de organização, caracterizadas pela horizontalidade, pelo não autoritarismo, pela democracia assembleária;
·         os partidos de esquerda que resultam dessa resposta social, são sobretudo movimentos com capacidade para realizarem no seu seio, convergências plurais entre diversas correntes que aceitam essa convergência, mantendo a sua identidade politico-ideológica. É isto o que se passou e passa com o Syriza, na Grécia;
·         os movimentos sociais de resposta ao austeritarismo conseguem desenvolver convergências plurais, superando a incapacidade para essas convergências que os partidos políticos à esquerda revelam.
Dizíamos na Moção B apresentada à última Convenção Nacional: “Os tempos que correm são de crise do capitalismo e antigas formas de totalitarismo, mas também são tempos de afirmação de novos movimentos sociais. São novos movimentos sociais que se erguem contra a falência de uma democracia política que foi colonizada por um representativismo que deturpa a vontade popular e afasta-a de qualquer decisão política. São movimentos caracterizados por uma importante transversalidade social e política que marcam o encontro ou o reencontro de muitos sectores sociais com o protesto social, com a redescoberta das acções colectivas. (…) O social e o político são hoje realidades divergentes entre si. O social não se reconhece no político e o político, pura e simplesmente, ignora o social (…)”
À esquerda, o grande desafio perante a crise capitalista, é a capacidade de se recentrar a intervenção como forma de se conseguir abrir caminho para uma alternativa unitária de poder com sentido democrático, socialista e anticapitalista.
Na nossa opinião, a esquerda deve partir do social para o político e não o contrário. Ou seja, há uma crítica ao político que é sobretudo crítica à colonização que o neo-liberalismo capitalista fez do político. Os “políticos” passaram a ser profissionais, o que é uma aberração, já que políticos somos todos nós, a política passou a ser  uma agência de empregos e de favores, o parlamento passou a ser a expressão concentrada dessas caricaturas democráticas.
Os movimentos sociais têm sido autênticas escolas de refundação democrática. E é por isto que defendemos que o Bloco de Esquerda deveria ter uma intervenção prioritária e estratégica no plano social das afirmações e das vontades e só depois no político parlamentar.
2 – O BLOCO DE ESQUERDA
O Bloco de Esquerda é o único partido português que soube organizar a convergência plural à esquerda. A convergência entre quatro organizações de esquerda – PSR, UDP, PXXI e também a Ruptura/FER – e com centenas de activistas com percursos diversos, foi, a seu tempo, uma lufada de ar fresco notável.
Doze anos passaram desde a fundação e o percurso bloquista tem tanto de rico como de objecto para uma análise critica.
O Bloco de Esquerda começou por se definir como um partido-movimento. No entanto, hoje em dia, essa definição envolve uma séria tensão entre os que querem um Bloco como partido muito parecido com velhas e caducas experiências e outros que apostam mais no Bloco como movimento.
Essa tensão é sabido que é vivida no seio da maioria – PSR/UDP/PXXI – que tem dirigido o Bloco de Esquerda.
Tem-se falado muito num paralelismo entre o Bloco e o Syriza, na Grécia. Na nossa opinião, é mesmo só paralelismo, considerando que são duas experiências distintas com poucos pontos em comum. De comum, talvez a pluralidade de correntes no seu seio. Não muito mais!
Mesmo a pluralidade fundacional do Bloco, diminuiu, por exemplo, com a saída da Ruptura/FER e de outros militantes. Diminuiu e não aumentou, por exemplo, com a inclusão de mais correntes.
Este é um dado preocupante num momento em que se assiste, ao nível da resposta social à crise austeritária, a uma proliferação de grupos e organizações sem qualquer sentido político, mesmo com um discurso anti-político, mas, muitos deles, com um posicionamento claro na critica à austeridade e às políticas que são sua consequência. Deveríamos estar preparados para sermos INCLUSIVOS relativamente a esses grupos e organizações!
Objectivamente, os partidos fundadores do Bloco nunca contribuíram para que a pluralidade aumentasse. Conseguiram, em muitos momentos da vida do Bloco, impor processos que lembraram organizações onde o “centralismo democrático” impera.
A maioria imprimiu ao Bloco uma dinâmica que, “correndo por fora” nas palavras, atou toda a organização à acção parlamentar, descorando objectivamente intervenções, como Bloco, nos planos social, laboral e sindical.
O Syriza cresceu o que cresceu, fortemente ligado aos movimentos e lutas sociais. O Bloco decresceu porque, na nossa opinião, não soube ligar-se de uma forma visível, activa e não-controleira aos movimentos e lutas sociais.
O movimento operário internacional sempre foi plural no seu seio. São conhecidas as discussões que, desde sempre, percorreram todo o movimento operário. Falar de democracia interna, de direito de tendência, não é a descoberta da pólvora, nem uma cedência a qualquer “desvio burguês”, nem sequer um atentado à unidade de uma organização.
Como já dissemos, também hoje os movimentos sociais incorporam de uma forma espontânea, no seu seio, uma multitude de correntes, de experiências que só os tornam mais activos, mais vivos e combativos.
O Bloco de Esquerda não pode ficar só pelos Estatutos na defesa do “direito de tendência”. É um direito democrático que deve ser dinamizado como passo para que a discussão construtiva seja uma realidade e para que a própria intervenção nos movimentos sociais seja mais efectiva.
Na última Convenção Nacional defendemos e renovamos essa defesa: “A luta por mais e melhor democracia interna não deve estar separada da luta por uma outra orientação política para o Bloco de Esquerda, que corte com todos os resquícios de “centralismo democrático”, de verticalismo dirigista e vanguardista. Uma orientação que recolha inspiração nos novos movimentos sociais, que saiba abrir a organização a esses movimentos e grupos sociais e assim afirme vectores de liberdade, de democracia, de socialismo, em ruptura com o capitalismo e com qualquer forma de totalitarismo”.
O Bloco de Esquerda é, antes de mais, dos seus militantes, sem excepção. Mas como partido-movimento, o Bloco de Esquerda é também o espaço da convergência de todas as correntes e grupos que aceitem a nossa organização para se concretizar essa convergência na diversidade, na pluralidade! Desta forma, o Bloco recupera as melhores tradições do movimento operário e confunde-se com os melhores exemplos que surgem na espontaneidade dos novos movimentos sociais: democracia assembleária, não autoritarismo e organização horizontal!

3 - O BLOCO DE ESQUERDA COMO PARTE IMPRESCINDÍVEL DE UMA ALTERNATIVA UNITÁRIA DAS ESQUERDAS
É urgente a criação de uma alternativa de governo de esquerda que ponha fim a qualquer forma de austeritarismo, que interrompa as políticas de empobrecimento, que interrompa a série de governos sucedâneos do “centrão” e que inaugure uma nova época de políticas de justiça social e de desenvolvimento com a participação activa dos trabalhadores.
Na nossa opinião, essa urgência tem de implicar que se trabalhe na criação dessa alternativa, desde já, antes do próximo acto eleitoral. Não acreditamos, como infelizmente tem demonstrado a experiência histórica, em soluções unitárias à esquerda, só depois de ocorrido o acto eleitoral. A vontade unitária tem de se revelar antes e, estamos convencidos, a concretizar-se, essa alternativa conquistaria o apoio de uma clara e expressiva maioria social de esquerda.
O processo para essa alternativa é obviamente difícil e complexo. Todas as esquerdas – as políticas e as sociais - falam na necessidade dessa alternativa, mas nem todas revelam, na prática e no concreto, vontade para a realizar.
O Bloco de Esquerda não é “a” alternativa de esquerda. O Bloco de Esquerda é uma parte imprescindível dessa alternativa de esquerda. E é com este posicionamento que deve lutar e apelar para a concretização de uma alternativa unitária das esquerdas com sentido democrático, socialista e anticapitalista.
No processo para essa alternativa, ninguém, à esquerda, deverá ser excluído. Essa alternativa precisa muito mais de inclusões do que de exclusões. Mas, na nossa opinião, há um ponto que deverá ser diferenciador: queremos rasgar o memorando da troika, não queremos mais austeritarismo, seja com que intensidade for!
Quando falamos em esquerdas, referimo-nos tanto às que estão representadas na Assembleia da República – Bloco de Esquerda e PCP -, como aquelas que estão só no campo da intervenção social. Na nossa opinião, é possível um diálogo amplo e conclusivo entre as esquerdas, sociais e políticas, entre activistas. Essa possibilidade é também um enorme desafio.
Excluímos deliberadamente o PS, enquanto partido comprometido com o memorando da troika e com as políticas de austeridade e de ataque aos serviços públicos. Mas não excluímos o contributo, a participação e o activismo dos militantes do PS que se queiram associar a uma convergência social e política para um governo das esquerdas.
Se a direcção do PS assumisse claramente o corte com as políticas de austeridade e rasgasse o memorando da troika, esse seria um gesto que significaria mais força social e política para a constituição de uma maioria social de esquerda para uma alternativa de governo das esquerdas.
Defendemos a participação dos bloquistas, individualmente, e do Bloco de Esquerda, colectivamente, em todos os forúns onde se debata a formação de uma alternativa unitária das esquerdas. Como já dissemos, a unidade das esquerdas é uma urgência e para a sua concretização falta muito mais inclusão do que exclusões em nome de purismos ideológicos que nunca levaram a nada …

4 – NUM PARTIDO-MOVIMENTO A DIRECÇÃO É TODO O SEU COLECTIVO …

Eis que de um momento para o outro, o actual coordenador da direcção política do Bloco, resolveu introduzir a discussão da “renovação” da “liderança”. E fê-lo como a imprensa gosta: lançar nomes separados de políticas!
O Bloco de Esquerda não é uma monarquia nem propriedade de nenhum “líder”. Aliás essa figura de “líder” é estranha aos estatutos do Bloco e só ganhou força devido às exigências do circo parlamentar. Num partido-movimento como o Bloco de Esquerda todos os militantes são activistas e porta-vozes, por muito que isto não se enquadre nos esquemas do circo mediático e nos arquétipos da democracia liberal.
O actual “líder” do Bloco de Esquerda é, para todos os bloquistas, o coordenador da direcção política. A imagem de “líder” à semelhança de qualquer partido tradicional, em nada contribuiu ou contribui para tornar o Bloco de Esquerda um partido-movimento de activistas, militantes e porta-vozes do seu programa político. A imprensa habituou-se a reduzir o Bloco aos seus militantes mais conhecidos. Primeiro o “líder” e depois os deputados. Para além destes, a imprensa pintava sobre o Bloco um autêntico deserto.
É também uma verdade que a actual direcção política do Bloco cedeu às pressões da imprensa reduzindo, muitas vezes, a actividade bloquista à intervenção do grupo parlamentar. Esta não é uma crítica aos camaradas que são deputados. É uma crítica política às prioridades definidas pela direcção política do Bloco para a acção bloquista.
O espaço de intervenção prioritário do Bloco são as lutas sociais, são os movimentos sociais, é a intervenção com clareza no processo de luta de classes. E para esta intervenção o Bloco não precisa de “líder” à imagem de qualquer partido tradicional, não precisa de direcções bicéfalas que mais não fazem que contentar tratados de Tordesilhas entre correntes internas. O que o Bloco de Esquerda precisa é de reforçar essa intervenção social e a partir daí fazer de cada militante um activista e um porta-voz!
Desde um ponto de vista estatutário, não haverá nada a mudar. O coordenador da Comissão Política é o militante que encabeça a lista mais votada, em Convenção Nacional, à Mesa Nacional.
Não disfarcemos de “inovação” o que é somente uma cedência a acordos internos entre correntes que controlam a organização, ou seja, à margem da vontade militante, e uma cedência ao jogo mediático que quer tornar o Bloco “um partido como outros” …
Preocupemo-nos mais com a abertura do Bloco a mais activistas, a mais correntes do movimento social e deixemo-nos de cosméticas …

5 – NAS AUTARQUICAS … DO LOCAL PARA O NACIONAL PARA UMA ALTERNATIVA DAS ESQUERDAS
A intervenção nas autárquicas (freguesias e concelhos) deve ser estratégica para todo o Bloco de Esquerda. Consideramos que é um bom caminho para se partir do local para o nacional com o objectivo de se conseguir uma alternativa unitária das esquerdas assente numa maioria social das esquerdas.
No plano das freguesias, defendemos prioritária e estrategicamente candidaturas amplas das esquerdas, considerando mesmo, neste nível autárquico, o PS. Em muitas freguesias do interior do país, há claramente a identificação do PS com a esquerda e os seus militantes são referências de esquerda. Conseguindo a este nível candidaturas unitárias das esquerdas, incluindo o PS, estaremos certamente a dar passos decisivos para uma alternativa de âmbito nacional.
Defende-se também que o Bloco de Esquerda, em vez de apresentar uma lista ou apoiar uma lista unitária da esquerda, poderá apoiar simplesmente a intervenção independente de cidadãos que demonstrem possuir uma perspectiva claramente de esquerda.
Já no plano das Câmaras Municipais (Executivo e Assembleia Municipal), defende-se o mesmo, para as listas a apresentar, que se defende para um governo das esquerdas. Exclui-se o PS, enquanto partido que integra os apoiantes da troika. No plano municipal, uma lista unitária das esquerdas com o PS, correria sério risco de ser usada pela propaganda troikiana do chamado “consenso nacional”. O PS para ser considerado como parte de uma solução das esquerdas nas autárquicas, deverá rasgar previamente o memorando que subscreveu.
A intervenção do Bloco nas autárquicas deverá ser organizada e coordenada pelos núcleos e concelhias, sem intervenção dos órgãos nacionais.



6 – A DIMENSÃO INTERNACIONAL COMO PARTE FUNDAMENTAL NO COMBATE À CRISE.
Reproduz-se o que se editou sobre este tema na Moção B à última Convenção Nacional.
“A definição de uma alternativa democrática e socialista tem um espaço de afirmação nacional, mas, nos dias de hoje, é vital, imprescindível e inadiável que possua também uma forte vertente de afirmação europeia e internacional.
As alternativas à crise capitalista, nos planos europeu e internacional, não chegam a sê-lo se ficarem por perspectivas soberanistas e apologistas de uma qualquer “independência nacional”. Mais do que nunca, é preciso voltar a colocar na ordem do dia a necessidade da solidariedade internacional e da ligação de todas as lutas sociais e de classe para além das fronteiras e dos Estados nacionais. O capitalismo tem uma dimensão internacional. O socialismo tem de ter também uma dimensão internacional. No século XXI a afirmação da dimensão internacional das lutas e das alternativas deve suplantar qualquer dimensão nacional.
No plano europeu, o Bloco de Esquerda deveria propor uma nova organização internacional que agrupe todas as correntes, partidos e movimentos que se referenciem ao socialismo como alternativa internacional e não como subordinado a perspectivas soberanistas. Uma organização internacional que no seu programa e na sua acção privilegie a construção de uma Europa mais social, mais democrática, mais federativa e menos sujeita aos ditames dos Estados nacionais. O Bloco de Esquerda que é europeísta socialista e de esquerda, não pode ter uma acção, no plano europeu, atrofiada pelas visões soberanistas nacionais de outras correntes de esquerda que ainda não se conseguiram libertar do colete de forças do “socialismo num só país”.
A Europa por que o Bloco de Esquerda luta deve partir da eleição democrática e universal de uma Assembleia Constituinte europeia. Para a eleição dessa Constituinte europeia, o Bloco de Esquerda deveria apelar à constituição de uma organização europeia socialista, democrática e anticapitalista que tivesse também a ambição de eleger um governo europeu de sentido democrático e socialista.
O actual Partido da Esquerda Europeia não cumpre com estes objectivos, nem consegue desenvolver uma acção europeia com um sentido claro e compreensível para todos os europeus.”
A nova organização internacional que o Bloco poderia impulsionar teria de beber muita da sua inspiração na experiência do movimento internacional “occupy” , principalmente nos planos da acção e da organização . A esse movimento falta uma perspectiva política com sentido socialista e anti-capitalista.


7 – A PAZ MUNDIAL NÃO PRECISA DE BLOCOS POLÍTICO-MILITARES
O Bloco de Esquerda deve continuar a defender a saída de Portugal da NATO. Nesse sentido deverá associar-se e/ou ter a iniciativa de desenvolver acções populares, sociais e políticas que visem o desenvolvimento de uma consciência antimilitarista e anti-blocos político militares.
A Europa e o Mundo não precisam de mais aventuras belicistas que acabam sempre por terminar em tragédias humanas. A perspectiva socialista para a Paz Mundial é anti-guerra, é anti-blocos político-militares, é também anti-nacionalista, considerando que os Estados nacionais cumprem, cada vez mais, um papel artificial de divisão entre os Homens.

8 – NEM SOCIALISMO SEM LIBERDADE, NEM LIBERDADE SEM SOCIALISMO
O Bloco de Esquerda preconiza o socialismo como alternativa ao capitalismo e a todas as formas de totalitarismo. O socialismo que preconizamos é pluralismo político e social, é socialização da economia e não estatização abstracta, é justiça social, é justiça na economia, é justiça ambiental.
Para o Bloco de Esquerda, as realidades na China, em Cuba, na Coreia do Norte, na Venezuela, … , não são sinónimos de socialismo, mas de totalitarismos policiais institucionalizados ou em marcha acelerada para isso.
Saudamos a revolta popular árabe que pôs fim a regimes que, ao longo dos anos, se transformaram em aberrações do que originalmente representaram em matéria de libertação nacional. No Egipto, na Tunísia, da Líbia a queda dos regimes foram, na nossa opinião, avanços sociais inegáveis baseados numa acção popular sem precendentes. Da mesma forma que nos colocamos do lado popular na rejeição do regime de Assad na Síria. Rejeitamos liminarmente qualquer intervenção militar externa na vida destes países.
O Bloco de Esquerda considera que o socialismo precisa de liberdade como o corpo humano precisa de oxigénio.
O socialismo deve representar a auto-iniciativa popular e social, a auto-gestão das empresas, a auto-organização dos trabalhadores e dos produtores, a planificação democrática da economia. Estatização não é socialismo. Estatização não é necessariamente serviço público. Estatizar no quadro de uma economia liberal e capitalista é tão-só passar o controlo da propriedade do “primo” privado para o mesmo “primo” que também controla o Estado! Outra realidade seria a nacionalização dos sectores estratégicos da economia e das finanças, sob o controlo directo e democrático dos trabalhadores.

9 – A TERMINAR …
Este texto poderia ser uma Moção à VIII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda. Não é!
Fica como um contributo para o debate. Um debate que se tem de intensificar ao mesmo tempo que é preciso também reforçar a participação em todas as lutas sociais e laborais contra as políticas do auteritarismo tendo sempre presente também energia, muita energia para uma alternativa unitária das esquerdas para um governo de esquerda com políticas com sentido democrático, socialista e anticapitalista.
Se os bloquistas souberem intervir nos movimentos sociais, se souberem ser parte da auto-iniciativa popular e cidadã, então o Bloco de Esquerda reforçar-se-á como partido-movimento plural, aberto e parte imprescindível para a opção popular por uma alternativa das esquerdas.

João Pedro Freire
Núcleo de Matosinhos 




15 DE SETEMBRO: NÃO À TROIKA! RECUPEREMOS AS NOSSAS VIDAS!


sábado, julho 14, 2012

GREVE GERAL IBÉRICA ...

QUE MAIS RAZÕES, QUE MAIS MOTIVOS PRECISAMOS PARA PARAR TODA A PENÍNSULA IBÉRICA CONTRA O AUSTERITARISMO, CONTRA A REPRESSÃO ?




QUANTAS MANIFESTAÇÕES PRECISAREMOS DE FAZER PARA PASSARMOS À OFENSIVA? 
NÃO SOMOS OBRIGADOS A PAGAR DÍVIDAS QUE NÃO ASSUMIMOS!
REDISTRIBUAM OS MILHÕES QUE VÃO PARA A BANCA PARA O 

DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA!





NÃO MAIS CORTES SALARIAIS, NÃO MAIS CORTES NAS PRESTAÇÕES SOCIAIS!

PELA DEFESA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!

NÃO À BANCA VAMPIRA! POR UMA BANCA COMPROMETIDA COM O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO! SOCIALIZAÇÃO DA BANCA!





GREVE GERAL IBÉRICA PELO RESPEITO DA DEMOCRACIA, PELA DEFESA DAS LIBERDADES, POR POLÍTICAS DE JUSTIÇA SOCIAL!
"La indignación por el nuevo paquete de recortes anunciado el pasado miércoles por Rajoy y aprobado en el Consejo de Ministros, provocó entre la noche del viernes y la madrugada del viernes nuevas protestas espontáneas en varias ciudades españolas. En Madrid, la marcha, que se detuvo en las sedes de PP y PSOE y el Congreso de los Diputados, se saldó con nueve detenidos, según informa la Jefatura Superior de Policía de Madrid. Todos ellos fueron trasladados a la Brigada Provincial de Información donde se está tomando declaración. 
Convocados por el Movimiento 15-M a través de las redes sociales y bajo el hashtag #quesejodan (en relación a la expresión utilizada el miércoles por la diputada conservadora Andrea Fabra en el Congreso), miles de ciudadanos de movilizaron contra las últimas medidas del Ejecutivo, entre las que se encuentran la subida del IVA o la eliminación de la paga extra de Navidad de los empleados públicos. Las protestas de ayer se unen es la forma que ha elegido el movimiento 15-M para secundar las movilizaciones protagonizadas por los funcionarios en los últimos días.(...) , UN PUBLICO.ES 

http://www.publico.es/espana/439631/nueve-detenidos-en-madrid-en-las-marchas-contra-los-recortes

sábado, julho 07, 2012

CRIE-SE O "CAMINHO DOS MINEIROS ASTURIANOS" !

Há muitos Caminhos que vão ter a Santiago de Compostela ... caminhos milenares onde milhares se juntam para além das nacionalidades, das religiões, do sexo ... 





Crie-se também o CAMINHO DOS MINEIROS ASTURIANOS para que por anos e anos, muitos anos, milhares possam voltar a percorrer os mesmos quilómetros que hoje os mineiros percorrem no sentido de Madrid em defesa dos seus postos de trabalho, em defesa das suas vidas, em defesa dos seus!





Seria uma forma de prolongar a SOLIDARIEDADE, de manter viva a LUTA heróica, de prolongar nos anos a memória de quem não desiste de lutar!





CRIE-SE O "CAMINHO DOS MINEIROS ASTURIANOS !!!!!

sexta-feira, julho 06, 2012

CONGRESSO DEMOCRÁTICO DAS ALTERNATIVAS: UMA MÁ NOTÍCIA !

Olho com simpatia para a realização do Congresso Democrático das Alternativas. 
Uma simpatia que resulta da existência de várias correntes/partidos/pessoas com diversos percursos que aceitam questionar o memorando da troika e a austeridade que é sua consequência. 






Na apresentação deste Congresso, falou-se mesmo em "RASGAR O MEMORANDO" , acho até que não era colocado entre aspas ... 
Olhando para os seus subscritores, essa vontade era de aplaudir, vendo que existiam subscritores do próprio PS ...

Já disse e repito, uma convergência à esquerda para uma alternativa de governo precisa de:
* uma maioria social de esquerda ampla, muito mais inclusiva do que exclusiva:
* uma posição CLARA e OBJECTIVA sobre RASGAR O MEMORANDO DA TROIKA, a origem de todas as austeridades.

Só que, lendo hoje o Público, deparo com a seguinte afirmação da deputada do PS, Ana Catarina Mendes, que integra a comissão organizadora do Congresso:

"Eu aceitei estar na comissão organizativa, apesar de não concordar em absoluto com o manifesto. Eu considero que não se pode simplesmente rasgar o Memorando de Entendimento. Mas é possível mudá-lo."





ENTÃO, COMO É QUE É ?
É PARA RASGAR O MEMORANDO DA TROIKA OU SÓ PARA FAZER UMAS COMICHÕES À TROIKA ?
TAMBÉM É POSSÍVEL ASSINAR O MANIFESTO E COLOCAR-SE EM BAIXO UMA ESPÉCIE DE "DECLARAÇÃO DE VOTO" ?


Não sei porquê ... mas cheira-me um bocado ao que já vi na última candidatura presidencial de Manuel Alegre ...
 



João Pedro Freire 

DEMAGOCIA E LAVAGEM AO CÉREBRO ...


HABILIDADES ...

1 - Não pulo de contente com uma decisão habilidosa do Tribunal Constitucional ... 
Todos sabemos a percentagem de partidarização (exclusivo do dito "bloco central" ...) que reina na composição deste Tribunal que deveria verificar o cumprimento da Constituição da República.
SE a decisão do Tribunal tivesse sido declarar inconstitucional os cortes nos 13º e 14º meses, JÁ este ano, eu até aplaudiria e ficava contente com a capacidade de decisão pró-Constituição do Tribunal Constitucional.






Mas o que se passou foi completamente diferente e teve por cenário uma vontade que emerge, há algum tempo, deste governo, já que as contas correm mesmo mal, de estender o corte dos 13º e 14º meses a TODOS os trabalhadores, sejam ou não funcionários públicos.
Ora o que ontem aconteceu foi uma espécie de abrir de porta "constitucional" ao governo para, em obediência à troika e não à Constituição, reparar o desastre nas contas nacionais com a extensão do roubo dos salários a todos os trabalhadores deste País, em nome de uma oportunista "equidade" ...
O Tribunal Constitucional acabou por se revelar um orgão muito partidarizado pró-troika e que, no quadro das suas prioridades, observa, primeiro, fidelidade à troika e depois então à Constituição ... no que convém aos governos locais em funções (os quais têm sido sempre arranjos possíveis entre o "bloco central" ...) .

2 - Outro tema muito interessante: a renegociação da dívida ...
Parece que, de entre os apoiantes do actual governo e da troika, começam a surgir vozes que pedem a renegociação da dívida, no que diz respeito ao prazo para a pagar ...
Até parece que, da direita à esquerda (alguma!), dir-se-ia que a unanimidade parece ganhar forma quanto à "renegociação" ...






Também não fico NADA contente, nem pulo de contente ...
Reparem que hoje, Julho de 2012, a tal dívida resultante do memorando da troika, já não é a mesma que existia há um ano atrás. Hoje já está inflacionada com o chamado "serviço da dívida", i.e. juros resultantes de taxas agiotas, e o governo vive momentos de aflição porque a sua política acentua o desastre em vez de o resolver.
Portanto os actuais pedidos de "renegociação" por parte de gente pró-troika aparece como uma grande encenação para se arranjar forma de esbater o fracasso das políticas governamentais. Essa "renegociação" seria também uma forma habilidosa de imposição de mais austeridade, apresentada como uma espécie de "compensação", para um gesto classificado de "mais uma ajuda", por parte da troika ...

Não tenho nenhuma dúvida que qualquer solução para acabarmos com o actual desastre terá sempre de incluir o RASGAR DO MEMORANDO DA TROIKA !



João Pedro Freire 

sexta-feira, junho 01, 2012

NINGUÉM É MAIS LIBERTÁRIO QUE EU ...


Existem muitos activistas libertários … existirão assim tantas organizações libertárias ?

Não! Não existem assim tantas organizações libertárias, no sentido libertário do termo: transparência, horizontalidade, sem dirigismos nem autoritarismos, permanente disponibilidade para os debates.



Uma percentagem elevada de organizações que se reclamam libertárias, adoptam posturas e comportamentos dignos de células de partidos lenino-estalinistas. Por exemplo, a disponibilidade para aceitarem abrir as organizações a novos interessados no debate, é muito limitada e muito filtrada.



O próprio relacionamento de algumas organizações libertárias com o movimento de massas é baseado em muita desconfiança. Quando a organização de algumas manifestações não se encarrega de marginalizar objectivamente organizações e activistas libertários, então são, muitas vezes,  as organizações libertárias a adoptarem uma postura de total afastamento, como se de uma “aldeia do astérix” se tratassem.

O relacionamento entre organizações libertárias do movimento anarquista é muito semelhante, por exemplo, ao relacionamento entre organizações trotskistas e estalinistas. É um relacionamento conflituoso, de desconfiança. Algumas organizações libertárias consideram-se, por comparação com outras, o “centro”, a “referência” do mundo libertário, sendo as outras consideradas como “aberrações”. Os grupos libertários desfazem-se e multiplicam-se ao mesmo ritmo do exemplo dado das organizações trotskistas.



Se a sociedade capitalista é exclusiva, alguns grupos e organizações libertárias também têm comportamentos que criam exclusão. Por exemplo, libertários vegan não toleram, não permitem mesmo, que num espaço aberto de convívio possa coexistir quem não é vegan. Outros comportamentos podem ser também apontados como assumidamente identitários de um figurino que só parece admitir quem tem o mesmo comportamento.

Um libertário não aceita pertencer a um partido. Porque, segundo ele, os estatutos condicionam a liberdade de acção individual. Mas será que algumas organizações consideradas libertárias também não possuem “códigos” e programas que condicionam a liberdade de acção dos seus aderentes ou membros? E é legítima a pergunta: qual então a diferença entre os partidos (no abstracto) e esses grupos considerados libertários? Será que esses grupos ditos libertários nunca expulsaram ninguém ou então marginalizaram até o marginalizado tomar a iniciativa de abandonar?

Pode um libertário pertencer a um partido? Pode, tal como pode pertencer a uma organização considerada libertária! Neste ponto, o que um libertário não pode nunca admitir é que a sua acção individual ou colectiva possa ser dificultada e condicionada por qualquer estatuto, programa ou princípio autoritário e vertical.
Este texto é uma proposta, uma sugestão, para um bom debate que possa envolver libertários de todas as proveniências e experiências.


É uma reflexão no abstracto, já que não cita nem identifica os nomes de qualquer grupo ou organização libertária.

Mas não é uma reflexão sem rosto. Quem a faz é militante de um partido que se reclama como “partido-movimento”, o Bloco de Esquerda. É militante partidário e considera-se socialista libertário. E como socialista libertário não abdica de, no partido a que pertence, apresentar permanentemente as suas ideias e propostas.

Não vejo nenhuma incoerência na minha militância no Bloco de Esquerda e na minha acção socialista libertária. Dentro desse partido, nos movimentos sociais, em diversos fóruns.



Exijo sempre liberdade. E ajo sempre com liberdade. É em nome dessa liberdade que considero que a acção precede a organização e é nos movimentos sociais, não condicionados, e nas lutas sociais e populares que surgirão as melhores formas de organização com capacidade de provocar mudança radical com sentido socialista e anti-capitalista.

Porto, 01 de Junho de 2012
João Pedro Freire

terça-feira, maio 29, 2012

Queremos mesmo alinhavar um fato novo!

O chamado "Manifesto para uma Esquerda Livre" não acrescenta nada de novo ao debate entre as esquerdas. 
Questiona-se mesmo se o objectivo é introduzir debate à esquerda ou lançar um debate para reorganizar essa coisa híbrida que dá pelo nome de "centro". Como o centro gosta, ficando equidistante (!!!) entre a porrada da austeridade e as lambidelas de um desenvolvimento com a canga do capitalismo.






É nossa opinião que o grande desafio perante uma crise que dá pelo nome de capitalismo é mesmo discutir (uma discussão que é também a luta nas ruas, nos empregos, nas escolas, ...) para a criação de uma alternativa global que, para nós, dá pelo nome de socialismo. Referi-mo-nos mesmo ao socialismo e não a nenhuma das monstruosidades que se vestem com essa designação, mas que não passam de totalitarismos policiais, de um lado, e de liberalismo, do outro.


O referido Manifesto tem, no entanto, um dado que consideramos muito significativo e importante, que é a quantidade dos apoios já conseguidos e a transversalidade política desses apoios. É isto que dá importância, na nossa opinião, ao Manifesto.


Não temos nenhuma dúvida em afirmar que as esquerdas precisam de ganhar muito mais apoio social para que possam ser olhadas como alternativas.
O importante é que soubessem construir UMA ALTERNATIVA DE GOVERNO! 






Vai sendo tempo ... para muita gente boa e revoltada com as consequências das austeridades (quaisquer que sejam e seja qual for a sua intensidade!), que as esquerdas consigam, FINALMENTE, apresentarem, antes de eleições, uma alternativa para um governo. 


Há quem passe a vida a falar em "governo de esquerda" mas só saiba conduzir a sua bicicleta. Pois é ... depois quem é que acredita que, ao contrário da direita, as esquerdas conseguem unir-se numa alternativa?
Ora, o tal Manifesto reúne uma quantidade e uma transversalidade de apoios que não podem ser ignorados, nem hostilizados, numa perspectiva de construção de uma maioria social de esquerda. Ninguém à esquerda, que saiba olhar mais além que o seu umbigo, pode assobiar para o lado, como se o Manifesto não tivesse já um apoio importante e significativo. 






Defendemos o diálogo com os da "esquerda livre". Iremos a ele. Lembrando sempre que o tal governo das esquerdas que defendemos tem de ter um sentido democrático, socialista e anti-capitalista. Aqui neste país, mas também na Europa. 


Não queremos remendar um fato que já não tem conserto. Queremos mesmo alinhavar um fato novo!


domingo, maio 27, 2012

BLOCO DE ESQUERDA: PROPOSTA DE DEBATE PARA UMA MOÇÃO À VIII CONVENÇÃO NACIONAL.

Tribuna Socialista é um espaço socialista libertário interessado e comprometido com um debate amplo e conclusivo entre as esquerdas.
Desse debate a primeira conclusão que nos interessa, tendo a certeza que é possível se houver vontade política e social, é a criação de uma alternativa social e política para um GOVERNO DAS ESQUERDAS com um programa e políticas com sentido democrático, socialista e anti-capitalista.
Nessa discussão e para aquela alternativa, ninguém à esquerda pode ter a pretensão de ser mais do que o outro que participa na mesma discussão. Ninguém, só por si, entre as esquerdas é o suficiente para construir uma alternativa de governo apoiado numa maioria social de esquerda.
Todas as esquerdas, as políticas mas também as sociais, fazem falta a essa alternativa. Mas o sectarismo, a tentativa de vanguardismo, o insulto, não fazem falta e, por si, estarão excluídos!
O texto que se publica é parte de um debate que se inicia no Bloco de Esquerda, parte imprescindível para a construção de uma alternativa de governo das esquerdas, a propósito da próxima Convenção Nacional desse partido. É um texto para debate e, como tal, todos os contributos, criticas e opiniões, mesmo que provenientes desse partido serão benvindos.




ESTE É O ÍNICIO DO CAMINHO PARA
UMA MOÇÃO À VIII CONVENÇÃO NACIONAL DO BLOCO DE ESQUERDA


Na VII Convenção Nacional vários militantes bloquistas apresentaram uma Moção intitulada “Acrescentar liberdade, democracia e socialismo às lutas anti-capitalista e anti-totalitária”.
A Moção foi discutida durante a última Convenção, mas não originou nenhuma lista candidata à Mesa Nacional.
Fui o primeiro subscritor da referida Moção e é meu propósito e vontade apresentar nova Moção de Orientação à VIII Convenção Nacional do nosso partido-movimento.
A próxima Convenção Nacional está marcada para o próximo mês de Novembro e, até lá, o agudizar da crise capitalista provocará a multiplicação das lutas sociais, laborais e populares, originando estas o aparecimento de novos movimentos sociais e estes a criação de novas e múltiplas formas de organização social e política.
Até Novembro deste ano, por toda a Europa será questionado o modelo europeu imposto pela burocratas neo-liberais de Bruxelas coadjuvados pelos governos nacionais que se comportam como correias-de-transmissão da troika (FMI+BCE+Comissão Europeia). Seja pela expressão do voto democrático, seja pela expressão das lutas sociais e populares, há uma vontade de mudança que invade e invadirá toda a União Europeia. Para já, a luta do povo grego, nas ruas e na expressão de um voto claro de rejeição da troika e das suas políticas, com a adesão crescente às proposta do Syriza, tem liderado essa vontade de mudança na Europa. Nesse sentido está também a vontade democrática do povo francês e o agudizar das lutas sociais e populares em Espanha, na Alemanha e em Itália.
No plano internacional, defendi e continuo a defender, como basilar, a saída de Portugal da NATO. Como defendi e defendo a dissolução de qualquer bloco politico-militar em qualquer parte do Planeta. A Paz não se constrói com instrumentos de guerra.
A vontade de apresentação de uma Moção de Orientação à VIII Convenção Nacional decorre também da convicção que tenho sobre a actualidade dos vectores políticos que nortearam a Moção que apresentei à última Convenção Nacional. A nova Moção será, por isso, uma evolução da Moção submetida à última Convenção Nacional.



Relembro o que na altura se escrevia e que mantém plena actualidade: “Os tempos que correm são de crise do capitalismo e de novas e antigas formas de totalitarismo (ex.: o liberalismo securitário, os resquícios de regimes estalinistas e policiais, o liberalismo financeiro que impõe a financeirização de toda a vida, …), mas também são tempos de afirmação de novos movimentos sociais.
São novos movimentos sociais que se erguem contra a falência de uma democracia política que foi colonizada por um representativismo que deturpa a vontade popular e afasta-a de qualquer decisão política. São movimentos caracterizados por uma importante transversalidade social e política que marcam o encontro ou o reencontro de muitos sectores sociais com o protesto social, com a redescoberta das acções colectivas. E este é um dado extraordinariamente importante!”
Desde a última Convenção Nacional, tenho participado numa série de movimentos sociais, com a convicção de que é aí que mais e melhor se poderá contribuir para a criação de uma alternativa de governo com um sentido democrático, socialista e anti-capitalista.
A luta contra o actual governo de direita PSD/CDS será mais consequente e completa se souber acrescentar uma alternativa a esse governo. E é pelos movimentos sociais que se poderá levar o protesto até a uma alternativa de governo. Porque nas lutas sociais e laborais, nos movimentos sociais, tem-se conseguido uma convergência da pluralidade das vontades que protestam, que não se encontra no plano político-partidário à esquerda.



Todas as esquerdas falam de “governo de esquerda”, mas nunca se concretiza esse governo, nem na forma, nem no conteúdo, nem na concretização da alternativa.
Defendi um governo de esquerda na última Convenção Nacional. Continuo a defender esse governo de esquerda. E considero que as esquerdas deveriam, desde já, começar a trabalhar para que esse governo seja possível, como alternativa antes de eleições legislativas. Estou convencido que isso mobilizaria muito mais que a situação que sempre tem existido à esquerda, ou seja, todas as esquerdas falam, mas nunca concretizam esse governo!
Quando falo em esquerdas, falo tanto das que estão representadas na Assembleia da República – Bloco de Esquerda e PCP -, como daquelas que estão só nos movimentos sociais. Na minha opinião, é possível um diálogo amplo e conclusivo entre as esquerdas, sociais e políticas, entre activistas. Essa possibilidade é também um enorme desafio.
Excluo deliberadamente o PS, enquanto partido comprometido com o memorando da troika e com as políticas de austeridade e de ataque aos serviços públicos. Não excluo, no entanto, o contributo, a participação e o activismo dos militantes do PS que se queiram associar a uma convergência social e política para um governo das esquerdas.
Se a direcção do PS assumisse claramente o corte com as politicas de austeridade e rasgasse o memorando da troika, seria o primeiro a saudar esse gesto que significaria mais força social e política para a constituição de uma maioria social de esquerda para uma alternativa de governo das esquerdas.
Defendo, como defendi, que o Bloco de Esquerda deverá tornar mais horizontal a sua organização. Defendi e continuo a defender que o Bloco de Esquerda se deveria abrir à participação de grupos e movimentos sociais que, no seio do nosso partido-movimento e no respeito pelos seus Estatutos, quisessem connosco dar mais força à pluralidade do BE para uma convergência política mais forte. Esse é também o bom exemplo que nos dá o Syriza, na Grécia. A pluralidade não é um problema, antes uma mais-valia fundamental para uma organização de esquerda ligada ao pulsar social e com capacidade para uma intervenção permanente e efectiva em todos os planos das lutas sociais e populares.
O Bloco de Esquerda é um partido-movimento da esquerda socialista, democrática e anti-capitalista. Tem de ser também um partido-movimento que incorpora os movimentos ligados à intervenção ecológica e à intervenção libertária. Um partido-movimento que faz da pluralidade a base para uma forte convergência social e política, não poderá nunca ceder a velhas e inoperantes fórmulas do dito “centralismo democrático”, abafando nos períodos pós-Convenção Nacional a participação de correntes, grupos e tendências minoritárias.
Todos os fóruns de comunicação do Bloco de Esquerda devem espelhar permanentemente a pluralidade do nosso partido-movimento. Ninguém, seja corrente ou tendência, seja militante considerado individualmente, poderá ser excluído da sua opinião, do seu contributo, da sua proposta.
Os fóruns de comunicação do Bloco de Esquerda, nomeadamente o esquerda.net, deverão estar abertos à participação de grupos e movimentos sociais e de cidadania, mesmo que não façam parte formalmente do nosso partido-movimento.
Uma organização horizontal no Bloco de Esquerda não impõe, nem tem a pretensão de controlar, movimentos sociais como sistematicamente fazem partidos de orientação estalinista. O Bloco de Esquerda, enquanto partido-movimento, não intervém formalmente nos movimentos sociais, mas incentiva os seus militantes a participarem individualmente nesses movimentos sociais. Ao mesmo tempo que deveria abrir-se à adesão desses movimentos e grupos sociais que aceitem os seus Estatutos.
Outra área que privilegiaremos na Moção a apresentar à VIII Convenção Nacional é a intervenção nas eleições autárquicas. No plano das freguesias, não vejo qualquer problema em defender candidaturas amplas das esquerdas, considerando mesmo, neste nível autárquico, o PS. Como defendo que o Bloco de Esquerda, em vez de apresentar uma lista ou apoiar uma lista unitária de esquerda, poderá apoiar simplesmente a intervenção independente de cidadãos que demonstrem possuir uma perspectiva claramente de esquerda.
Já no plano das Câmaras Municipais (Executivo e Assembleia Municipal), defendo o mesmo, para as listas a apresentar, que defendo para um Governo das Esquerdas. Excluo o PS, enquanto partido que integra os apoiantes da troika. No plano municipal, uma lista unitária das esquerdas com o PS, correria sério risco de ser usada pela propaganda troikiano do chamado “consenso nacional”. O PS para ser considerado como parte de uma solução das esquerdas nas autárquicas, deverá rasgar previamente o memorando que subscreveu.
Este texto é a apresentação de um compromisso para o desenvolvimento de uma Moção de Orientação a apresentar à VIII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda. Uma Moção que a vejo como desenvolvimento da Moção B submetida à última Convenção Nacional.
Começa por ser um texto assinado unicamente por mim. Espero contar com os camaradas que apoiaram a Moção B à última Convenção Nacional. Gostaria de provocar debate e com esse debate ganhar o contributo e o apoio de mais bloquistas.
Não apresento uma Moção obcecado com a conquista (!!!) de lugares na Mesa Nacional. Também não ficarei impávido ao debate mais geral que se desenvolverá sobre a próxima Convenção.
O meu objectivo é contribuir para mais debate em torno do socialismo como alternativa internacional para o século XXI. Decorre também daí o contributo para um Bloco de Esquerda mais combativo, mais plural, mais democrático, mais socialista e anti-capitalista.
Não estou contra qualquer outra Moção que se vier a posicionar para a VIII Convenção Nacional. Somos todos(as) bloquistas e como bloquistas acredito que estaremos todas e todos empenhados no fortalecimento do nosso partido-movimento.
Venha de lá um bom e frutuoso debate!
Saudações bloquistas,
João Pedro Freire
Núcleo de Matosinhos.