tribuna socialista

sexta-feira, junho 01, 2012

NINGUÉM É MAIS LIBERTÁRIO QUE EU ...


Existem muitos activistas libertários … existirão assim tantas organizações libertárias ?

Não! Não existem assim tantas organizações libertárias, no sentido libertário do termo: transparência, horizontalidade, sem dirigismos nem autoritarismos, permanente disponibilidade para os debates.



Uma percentagem elevada de organizações que se reclamam libertárias, adoptam posturas e comportamentos dignos de células de partidos lenino-estalinistas. Por exemplo, a disponibilidade para aceitarem abrir as organizações a novos interessados no debate, é muito limitada e muito filtrada.



O próprio relacionamento de algumas organizações libertárias com o movimento de massas é baseado em muita desconfiança. Quando a organização de algumas manifestações não se encarrega de marginalizar objectivamente organizações e activistas libertários, então são, muitas vezes,  as organizações libertárias a adoptarem uma postura de total afastamento, como se de uma “aldeia do astérix” se tratassem.

O relacionamento entre organizações libertárias do movimento anarquista é muito semelhante, por exemplo, ao relacionamento entre organizações trotskistas e estalinistas. É um relacionamento conflituoso, de desconfiança. Algumas organizações libertárias consideram-se, por comparação com outras, o “centro”, a “referência” do mundo libertário, sendo as outras consideradas como “aberrações”. Os grupos libertários desfazem-se e multiplicam-se ao mesmo ritmo do exemplo dado das organizações trotskistas.



Se a sociedade capitalista é exclusiva, alguns grupos e organizações libertárias também têm comportamentos que criam exclusão. Por exemplo, libertários vegan não toleram, não permitem mesmo, que num espaço aberto de convívio possa coexistir quem não é vegan. Outros comportamentos podem ser também apontados como assumidamente identitários de um figurino que só parece admitir quem tem o mesmo comportamento.

Um libertário não aceita pertencer a um partido. Porque, segundo ele, os estatutos condicionam a liberdade de acção individual. Mas será que algumas organizações consideradas libertárias também não possuem “códigos” e programas que condicionam a liberdade de acção dos seus aderentes ou membros? E é legítima a pergunta: qual então a diferença entre os partidos (no abstracto) e esses grupos considerados libertários? Será que esses grupos ditos libertários nunca expulsaram ninguém ou então marginalizaram até o marginalizado tomar a iniciativa de abandonar?

Pode um libertário pertencer a um partido? Pode, tal como pode pertencer a uma organização considerada libertária! Neste ponto, o que um libertário não pode nunca admitir é que a sua acção individual ou colectiva possa ser dificultada e condicionada por qualquer estatuto, programa ou princípio autoritário e vertical.
Este texto é uma proposta, uma sugestão, para um bom debate que possa envolver libertários de todas as proveniências e experiências.


É uma reflexão no abstracto, já que não cita nem identifica os nomes de qualquer grupo ou organização libertária.

Mas não é uma reflexão sem rosto. Quem a faz é militante de um partido que se reclama como “partido-movimento”, o Bloco de Esquerda. É militante partidário e considera-se socialista libertário. E como socialista libertário não abdica de, no partido a que pertence, apresentar permanentemente as suas ideias e propostas.

Não vejo nenhuma incoerência na minha militância no Bloco de Esquerda e na minha acção socialista libertária. Dentro desse partido, nos movimentos sociais, em diversos fóruns.



Exijo sempre liberdade. E ajo sempre com liberdade. É em nome dessa liberdade que considero que a acção precede a organização e é nos movimentos sociais, não condicionados, e nas lutas sociais e populares que surgirão as melhores formas de organização com capacidade de provocar mudança radical com sentido socialista e anti-capitalista.

Porto, 01 de Junho de 2012
João Pedro Freire