tribuna socialista

domingo, janeiro 30, 2005

A DITA CONSTITUIÇÃO EUROPEIA: O PS DE JOSÉ SOCRATES É ALTERNATIVA AO PSD E À DIREITA???


O referendo sobre a Constituição Europeia não é para já! Primeiro, em 20 de Fevereiro, teremos as eleições para a Assembleia da Republica. Mas convém lembrar que a chamada Constituição Europeia também serve para definir diferenças - se existirem ... - entre os partidos concorrentes. Mais particularmente entre os dois principais partidos que se assumem como alternativos entre si: o PS e o PSD.

Infelizmente, também quanto à Constituição Europeia as semelhanças entre os dois partidos são maiores que as diferenças. Que o PSD se identifique com um texto que foi redigido por uma comissão não-eleita e com uma composição marcadamente liberal, tal como o próprio conteúdo quanto ao texto, não é surpresa. Surpresa é um partido que se assume como "esquerda", como "moderno", como oposição às políticas de direita de consumo interno, assumir uma posição favorável a um texto coloca o social como secundário e assume uma profissão de fé quanto ao modelo económico liberal que impõe para o espaço europeu.

José Sócrates e a sua direcção estão objectivamente a transformar o Partido Socialista num partido que querem ver alheado do combate político pela mudança de sociedade num sentido democrático e socialista. É um partido que querem ver mais próximo de abstractas "elites" do que daqueles que, no dia-a-dia, têm protagonizado acções decisivas contra a ofensiva do capitalismo/liberalismo globalizado. Como são os trabalhadores das empresas deslocalizadas que resisitem às sabotagens patronais! Estes trabalhadores não são considerados elites pela direcção do PS e não são convidados para o Fórum Novas Fronteiras ...

José Sócrates tem em relação à dita Constituição Europeia a mesma posição da direita. Tal como tem sobre o Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, uma posição que não é agua nem vinho. Tal como em muitas outras posições em que a retórica não dá mesmo nenhuma garantia de que uma maioria absoluta do seu PS não venha a descambar nos mesmos erros e políticas que levaram Guterres a ser derrotado pela direita!

Por isto, como socialistas que somos, comprometidos com uma posição de transformação democrática e socialista da sociedade, defendemos claramente um governo de esquerda com um programa e políticas de esquerda. Um governo que resulte do esforço convergente do PS, do PCP e do Bloco de Esquerda e que represente a maioria social que derrotará a direita nas próximas eleições de 20 de Fevereiro.

Na Europa como em Portugal, o nosso posicionamento é do lado da transformação social !Posted by Hello

sexta-feira, janeiro 28, 2005

FREITAS DO AMARAL QUER O PS COM MAIORIA ABSOLUTA: ALGUNS SINAIS!

Uma maioria absoluta do Partido Socialista representa, antes de mais, uma enorme rejeição social dos anos de governação liberal e de direita. O PS é o partido de esquerda identificado por todos e, principalmente, por aqueles que sofreram os efeitos e as consequências das políticas dos governos de direita, como aquele que mais probabilidades tem de ser governo em vez da direita. Devido ao sistema eleitoral que vigora, o PS acaba por recolher, em zonas do interior do País, ou melhor, fora dos grandes centros urbanos, a concentração de votos não só de socialistas, mas também de comunistas e de outros votantes de esquerda.

É importante, é decisivo, que o Partido Socialista conquiste o maior número de votos contra a direita e, neste sentido, a maioria absoluta do PS é a expressão da vontade por outro governo com outras políticas que não representem uma repetição do que se rejeita!

Todos os votos são benvindos se representarem vontade de mudança política. Mas há novos votos novos que podem motivar uma reflexão. E a declaração de Freitas do Amaral de apelo a uma maioria absoluta do PS , motiva várias reflexões. É que Freitas do Amaral não é um homem de esquerda. Nunca foi e nunca o escondeu. Mesmo nos momentos em que tomou posição contra a aventura belicista de Bush. Sempre se afirmou à direita com uma posição do "centro"! E agora, as razões que o levam a votar PS, são razões que elegem o lado mais liberal do programa - já de si demasiado liberal para quem se diz socialista - do PS de José Sócrates.

Será que há algum acordo, traduzido numa hipotética participação de Freitas do Amaral num governo PS ou até de apoio do PS a uma candidatura presidencial de Freitas, caso António Guterres não avance?

E que políticas salienta Freitas do Amaral no programa do PS? As que abrem portas a medidas liberais (mais privatizações, mais aperto do cinto, emagrecimento da Função Pública à custa da dispensa de trabalhadores ...) ou aposta em políticas sociais e em aumento do investimento público?

E se o PS não tiver maioria absoluta, qual o apelo que fará então Freitas do Amaral para a obtenção de uma maioria estável no Parlamento?

Como socialistas teremos de ser muito claros relativamente aos apoios que se conquistam para que uma maioria absoluta seja capaz de agir políticamente por uma mudança clara e sem ambiguidades!




quinta-feira, janeiro 27, 2005

AUSCHWITZ: NUNCA MAIS !


60 anos depois Auschwitz deve ser lembrado com acção contra os que hoje são os herdeiros dos torcionários nazis: os racistas, os que promovem novas formas de apartheid, os que fomentam perseguições a ciganos, a homossexuais, a judeus, a palestinianos sem direito a uma pátria, os que promovem o militarismo e as ocupações ... Nos nossos dias, os dias da globalização capitalista, 60 anos depois, Auschwitz é a memória de dias de terror, de medo, de genocidio que não podem voltar NUNCA MAIS!

Está nas NOSSAS MÃOS, na NOSSA ACÇÃO COLECTIVA E INDIVIDUAL, impedir que a besta nazi ou outra qualquer do mesmo calibre volte. É uma luta que deve continuar, até porque pululam por esse Mundo e aqui bem perto, muitos herdeiros da besta que quer ressuscitar!

Seria bom que, mesmo em pré-campanha, os partidos e os políticos falassem de Auschiwitz! Posted by Hello

quarta-feira, janeiro 26, 2005

PS E PSD : ONDE ESTÃO AS DIFERENÇAS ?

Começa a ser PREOCUPANTE o que vamos vendo no dia-a-dia da pré-campanha eleitoral: o PS de José Sócrates TEIMA em não se diferenciar nas propostas que faz daquilo que foi a política dos governos de direita (Barroso & Santana).

Parece que às políticas da direita, o PS de Sócrates limita-se a juntar uma coloração rosa e umas pitadas de mais diálogo. Mas, no essencial, o que Sócrates propõe é o mesmo daquilo que o PSD propõe.

Esta não é, de certeza, a melhor forma de se assumir como ALTERNATIVA nem a melhor forma do PS se afirmar como esquerda, mesmo que com o adjectivo "moderna". Aliás, parece que o termo "moderna" serve sómente para acentuar o pendor liberal do programa e das propostas de Sócrates, a mesma matriz do programa e das propostas de Santana Lopes.

Veja-se o que se passa em matéria de "reforma fiscal", em matéria de privatizações, em matéria de "crescimento económico" ... para percebermos que estamos perante um dos perigos alertados por Manuel Alegre quando apresentou a candidatura a secretário-geral: o perigo da igualização/não diferenciação entre os dois principais partidos do sistema parlamentar português. Só que Manuel Alegre parece que também já se esqueceu do que disse e escreveu com toda a solenidade ...

A entrada em cena de António Guterres, também não augura nada de bom. Parece que o que José Sócrates pretende é a reposição das políticas guterristas que deram cabo do PS. As políticas dos governos de Guterres não foram nem são alternativas à direita!

José Sócrates e a sua direcção do PS ainda podem vir a comprometer a "maioria absoluta" que tanto pedem. Ninguém quer substituir políticas por políticas iguais, só que executadas por outras caras ...

domingo, janeiro 23, 2005

Ainda a propósito de Manuel Alegre ...


Entrevistado por Maria João Avillez, na SIC-Notícias, hoje à noite, Manuel Alegre a uma pergunta sobre o que é feito do movimento criado pela candidatura a secretário-geral, pareceu confirmar que esse movimento se diluiu no actual discurso unicitário imposto pela direcção de Sócrates.

Manuel Alegre assume a postura de "não fazer ondas" em nome da "unidade no PS". Porque razão, em tempos de campanha eleitoral, o PS (e também os outros partidos parlamentares) fingem unidade e deixam aos chamados "independentes" ou às "elites" o papel de ensaiarem críticas timidas e inofensivas? Será que haveria menos unidade se o PS continuasse a mostrar a mesma capacidade de unidade na diversidade que mostrou quando mobilizou milhares e milhares de militantes nas eleições para secretário-geral?

Será que se Manuel Alegre tivesse dado corpo organizativo ao movimento dos 6.000 militantes que o apoiaram, não teria motivado a adesão de mais militantes com vontade e opinião de esquerda? E isso não teria fortalecido o PS e até uma maior concentração de votos de esquerda para uma maioria absoluta ?

Manuel Alegre será que abdicou das responsabilidades políticas de organizar as vontades de esquerda do PS ? Posted by Hello

Onde está o movimento criado à volta de Manuel Alegre???


Onde está o movimento político criado à volta da candidatura de Manuel Alegre a secretário-geral do Partido Socialista? Que influência conseguiu na organização das listas de candidatos a deputados do PS? Que influência conseguiu na elaboração do Manifesto Eleitotal do PS?

Manuel Alegre em todas as intervenções que faz, não se esquece de lembrar que continua a ser um homem de esquerda. Claro que é ! Mas será que essas declarações têm servido para algo de concreto dentro do Partido Socialista? Que organização criou para a intervenção dos que o apoiaram na candidatura para secretário-geral?

À semelhança do que aconteceu num passado recente com outros importantes militantes socialistas, a intervenção de uma corrente de esquerda na vida do Partido Socialista fica sempre adiada, esquecida e diluída nas unicidades que as direcções conseguem impor !

Manuel Alegre interviu nas "Novas Fronteiras" e, na nossa opinião, não acrescentou nada de novo, nem se notou que tenha influído o que quer fosse. Foi mais um discurso de um dirigente que não consegue imprimir uma dinâmica tão forte quanto as palavras que ficam só pela retórica...Posted by Hello

E UM CHOQUE ANTI-CAPITALISTA? ...


Entre tantos choques já anunciados - o tecnológico, o de gestão e o fiscal - fica por saber se alguém terá a coragem política de anunciar um choque anti-capitalista!

Todos parece que se limitam a anunciar medidas e mais medidas, nenhuma delas nova ou inovadora, todas elas situadas nos limites desta economia a que chamam de mercado.

Que a direita continue a descobrir "soluções" num sistema que só tem gerado crise, não nos espanta. Limitam-se, com maior ou menor retórica, com maior ou menor demagogia & mentira, a defender o seu sistema, a sua ordem das coisas!

À esquerda, nas esquerdas, a opção quase que acritíca pela(s) lógica(s) da economia de mercado, é já mais preocupante. Porque economia de mercado e reformas sociais profundas que são urgentes, é algo de contraditório. A Física tem um principio que se aplica aqui: o da impenetrabilidade que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo!
Em matéria de reformas sociais, as políticas e as formulas políticas para as conseguir esbarram, não podem ocupar o mesmo espaço, dos que condicionam tudo ao discurso do "corte" nas despesas públicas.

O Partido Socialista, partido com mais responsabilidades políticas porque com mais possibilidades de formação de um novo governo, corre o risco de, com o programa que apresentou, voltar a repetir, para pior, as políticas que levaram Guterres à derrota. Para a direcção de José Socrates e dos principais convidados das "Novas Fronteiras", parece que, para lá da economia de mercado, não existe mais nada! As receitas são preocupantes para quem queria ver o PS a defender políticas de esquerda e de afirmação socialista:

  • anunciam-se cortes na despesa pública, sendo o mais saliente a anunciada redução dos efectivos da Função Pública. Fala-se em reduções de 75.00o trabalhadores, mas não se explica como é que isso acontecerá tendo em conta sectores onde há escassez de trabalhadores, como é o caso da Saúde ou da Educação.
  • na saúde fala-se em "avaliar" a experiência dos hospitais SA transformando-os em "Entidades Públicas Empresariais", mas nada se diz de concreto sobre o reforço e a qualificação do Serviço Nacional de Saúde.
  • na Segurança Social levantam-nos muitas dúvidas a anunciada contratualização com privados da gestão de uma parte do "Fundo de Equilibrio Financeiro da Segurança Social"
  • a anunciada liberalização do mercado de gás natural, deixa também no ar a possibilidade do PS continuar a onda de liberalização abravada pelos govenos de direita.
  • a anunciada revisão do Código Laboral é vaga e, por isso mesmo, preocupante para qualquer trabalhador de qualquer sector.

São alguns exemplos de receitas com eficácia duvidosa, desde um ponto de vista socialista, para se atacar uma crise que é endémica ao sistema de onde surge. Mas se há receitas preocupantes, o caminho que a direcção do PS escolheu para as explicar é também preocupante. José Sócrates e a sua direcção inisistem na escolha das chamadas "elites" para conseguirem ganhar um efeito mobilizador na sociedade portuguesa. Só que falar em "elites" numa sociedade onde a grande maioria social continua a sofrer os efeitos do liberalismo, é dialogar com uma minoria (que, muitas vezes, só se representa a si mesmo ...) esquecendo o que a grande maioria tem para dizer e propor. É persistir num modelo onde a participação cidadã continua relegada para um plano secundaríssimo. Por exemplo, vemos sempre grande inciativa da direcção de José Sócrates para debater e reunir com as tais "elites" e com entidades empresariais/patronais, mas já não se vê a mesma iniciativa para se organizarem encontros com o movimento sindical, com o movimento de opinião cidadã ou até com os trabalhadores que têm sofrido os efeitos das deslocalizações que irão continuar mesmo com um governo de José Sócrates.

São dúvidas que colocamos, tal como, de certeza, deverão surgir em muitos cidadãos que não querem ver repetidos os erros do chamado guterrismo. O PS não pode continuar a ser sómente a face "mais dialogante" de um mesma moeda da qual faz parte também, na outra face, a direita liberal.

Daí que, ao Partido com mais responsabilidades políticas para a formação de um governo alternativo à direita, perguntemos: não há coragem para um choque anti-capitalista? Uma pergunta que também estendemos a socialistas como Manuel Alegre, já que, parece, que a exigência de políticas de esquerda tem vindo a diminuir à medida que a unicidade no PS impõe um discurso único e perigoso ...

Posted by Hello

sábado, janeiro 22, 2005

TRIBUNA SOCIALISTA - Democracia & Socialismo

A partir de agora, TRIBUNA SOCIALISTA e DEMOCRACIA & SOCIALISMO passam a ser um só espaço:

TRIBUNA SOCIALISTA - Democracia & Socialismo

Este é um espaço socialista onde o debate se faz à esquerda e pela renovação do Socialismo. O Socialismo como a alternativa ao capitalismo/liberalismo. O Socialismo como alternativa de liberdade e de democracia. O Socialismo construído pela iniciativa organizada dos trabalhadores, dos jovens, de todos os que querem uma alternativa à chamada economia de mercado. Sem dirigismos, sem burocratismos, sem estatismos, sem totalitarismos: um SOCIALISMO LIBERTÁRIO!

Estamos na esquerda e é nela e com ela que queremos debater as questões que se colocam ao dia-a-dia dos tempos de hoje. Nunca esquecendo o vasto património histórico do movimento socialista.

Na esquerda assumimo-nos como SOCIALISTAS LIBERTÁRIOS. Rejeitamos todas as formas de totalitarismo, de burocratismo e de dirigismo, tal como rejeitamos o liberalismo e o capitalismo, mesmo quando se apresentam com as roupagens de "economia de mercado"!
A alternativa socialista por que lutamos, tem de surgir da capacidade de auto-organização e esta tem de ser iniciativa do movimento dos trabalhadores e dos movimentos de cidadãos que hoje constestam as consequências do liberalismo nacional e globalizado.

Na vespéra de mais uma campanha eleitoral, apelamos e apelaremos ao voto contra a direita, ao voto pela derrota implacável do governo PSD/CDS. Defendemos uma ALTERNATIVA DE ESQUERDA COM PROGRAMA E POLÍTICAS DE ESQUERDA ao actual governo de Santana e Portas. Não temos nada contra uma maioria absoluta do PS, desde que isso não signifique a repetição dos erros que motivaram a derrota de Guterres perante a direita. Consideramos, no entanto, que a melhor solução seria um governo que traduzisse a maioria social deste País que quer mudança! Esse governo teria de assentar no esforço unitário dos principais partidos de esquerda, o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda.

Para o teste do voto, consideramos correcto que as esquerdas assumam a sua diversidade e consigam mobilizar, pelo esclarecimento das propostas eleitorais, mais e mais trabalhadores, mais e mais jovens, mais e mais cidadãos, para que no momento de formação de um novo governo, a esperança ajude, de novo, à mobilização pela mudança política, social e económica ! Lutaremos para que seja uma mudança com um sentido democrático e socialista!

segunda-feira, janeiro 03, 2005

QUE SINAIS SÃO ESTES QUE O P.S. DE SÓCRATES ESTÁ A DAR?

Já aqui criticámos a ressuscitação da co-incineração. Uma critica não tanto pela validade ou não dessa opção, mas pela forma autoritária e algo até arrogante como José Sócrates a (re)apresentou.

Temos criticado também a tentativa da actual direcção socialista liderada por José Sócrates de ressuscitar o "guterrismo" - nas figuras públicas e nas políticas - como se fosse nessa faceta da história do PS que residisse a alternativa à direita.

Hoje, a imprensa noticia outra medida que estará definida já para um futuro governo PS: a subida do IVA de 19% para 20% como forma de se compensar o regresso dos beneficios fiscais dos chamados PPRs.

É notícia também a próxima realização da primeira sessão do Fórum Novas Fronteiras, dedicada a matéria económica, convidando-se, segundo a imprensa de hoje, para essa sessão ilustres economistas provenientes dos EUA, um ex-ministro do governo de Aznar derrotado por Zapatero e outro ex-ministro, este do governo brasileiro de Fernando Henrique Cardoso derrotado por Lula.

Há algo que não se percebe: será que um governo P.S. irá continuar a falar economês colocando em segundo plano reformas, políticas e medidas sociais? será que um governo P.S. vai também usar a mesma lógica do discurso orçamentista que dominou os governos de Durão Barroso e de Santana Lopes? será que rigor para um governo socialista tem o mesmo significado que para um governo de direita?

Uma alternativa do PS à direita precisa de saber cortar com as lógicas empresariais e liberais da direita. Precisa de dar protagonismo a quem a direita nunca dá: às organizações sociais e sindicais que representam a vontade dos cidadãos e dos trabalhadores. Precisa de dar sinais que não cede às influências dos lobbies e dos interesses de direita instalados. Precisa de mostrar coragem de saber definir novas e outras políticas que motivem mobilização e apoio sociais. Precisa mais de saber a opinião e a vontade dos que votam na mudança e menos a dos que sómente querem defender os seus interesses há muito instalados.

É que se não for assim, veremos o PS a repetir erros antigos que implicaram derrotas severas! E, além do mais, estaremos a desiludir a vontade da maioria social que tinha mostrado, mais uma vez, esperança em ver um governo do PS comportar-se como um governo de esquerda com programa e políticas de esquerda!

Pela nossa parte, continuaremos a apelar ao voto no P.S. para que uma governação de esquerda e à esquerda possa ser uma realidade!

domingo, janeiro 02, 2005

PERANTE A TRAGÉDIA NO SUDOESTE ASIÁTICO

Uma vez mais a morte e a desolação atingiram os mais débeis e os mais pobres, ceifando a vida de mais de cem mil pessoas, a maioria crianças. O tsunami que teve o seu centro na ilha indonésia de Sumatra atingiu todos os países do sudoeste asiático: Indonésia, Sri Lanka, Índia, Tailândia, Ilhas Maldivas, Malásia, Birmânia tendo chegado até à Somália e à costa africana. A tragédia pode continuar a avançar com o perigo da extensão de epidemias aos que sobreviveram.

E tudo isto não se resume somente a desastres naturais. Como têm chamado a atenção muitos peritos em maremotos, não se pode separar as suas causas e efeitos das acções humanas. A urbanização descontrolada nas praias, a desflorestação … aumentam os riscos de que este tipo de terramotos se desencadeiem, aumentando, sobretudo, a ampliação dos seus efeitos. Se tivesse existido uma rede de alerta , muitíssimas vidas teriam sido salvas. O maremoto chegou à Índia e ao Sri Lanka quatro horas depois de se ter produzido. Como diz Tad Murty, da Universidade de Manibota: “Não há razão para que um só individuo morra por causa de um tsunami (…) As ondas são totalmente previsíveis. Dispomos de gráficos das ondas que aconteceram em todo o oceano Indico.” De resto o movimento sísmico foi detectado desde o Pacífico mas não existiam sistemas de comunicação para avisar. Tivesse sido possível afastar as populações algumas centenas de metros das praias, subindo aos terraços e lugares elevados e teriam sido salvas dezenas de milhares de pessoas.

Os desastres “naturais” não são independentes da realidade do sistema de dominação em que vivemos. Por um lado, os Estados que possuem os sistemas de detecção de desastres naturais (como os EUA e o Japão) não os colocam à disposição dos restantes países. Por outro lado, os Estados e as classes dominantes dos países do sudoeste asiático preferem investir os seus recursos em armamento ou então acumulam capital em vez de salvaguardarem a vida das populações. Diz-se que estes Estados não podiam investir os seus recursos em tecnologia que evitasse a morte de pessoas. E, no entanto, a Índia é um dos poucos Estados que dispõe de recursos para desenvolver a sua própria indústria de armamento nuclear. Os interesses e objectivos do sistema político, burocrático e militar que domina este mundo estão em contraposto com o desenvolvimento da humanidade. Esta é a crua realidade do domínio e devemos enfrentá-la de frente dando respostas que acompanhem a imensidão de mensagens e informações que nos chegam. Por exemplo, o cinismo dos meios de comunicação – porta-vozes do poder – é significativo deste facto: no inicio do desastre, a notícia nos telejornais colocava ao mesmo nível a onda de frio que chegou à Península (Ibérica) e o que ia ocorrendo no sudoeste asiático e, mais tarde, a informação deslocada da tragédia, ocultava e muito as responsabilidades que nada tinham a ver com as “naturais”. Algumas das razões para este tipo de procedimento são claras: não há responsáveis, não se podia nem se pode fazer nada, os desastres naturais não se podem evitar e as pessoas só podem observar e sofrer as consequências. O único recurso de solidariedade é a doação a ONGs ou organizações similares, extraindo os bancos dos respectivos depósitos benefícios incríveis, chegam a cobrar entre dois a quatro euros de comissões por cada transacção feita, como já foi denunciado por muitas pessoas.

Ocultadas as causas e neutralizada a actividade humana – pouco se fala dos actos de heroísmo e do “sentir comum” de muitas pessoas que salvaram centenas de vidas – pouco poderemos fazer, para além de nos lamentarmos e delegar noutros – instituições internacionais, governos, etc – a solução dos problemas, precisamente nos mesmos que não quiseram colocar todos os meios para se evitar, não o desastre natural, mas as consequências nas vidas humanas. Este é o crime que nos ocultam, esta é a responsabilidade que não assumiram.

Por outro lado, a sociedade, a gente comum, não pode escudar-se na “impotência” para evitar a reflexão e o necessário protagonismo, mesmo que seja de pensamento e de sentimento de proximidade humana com as vítimas ou enfrentando a situação de subdesenvolvimento dos países afectados – basta verificar como funcionou o Estado numa emergência menor como o temporal de neve.

A solidariedade que está a nascer espontaneamente por parte de muitíssimas pessoas, muitas delas comprometidas em associações de voluntariado é um sinal de reacção fundamental. Solidariedade que se deve estender a dezenas de milhar de irmãos imigrantes indianos e bengalis … que habitam mesmo ao nosso lado e de quem nunca se lembra. Reclamamos o direito inalienável para que possam abandonar os seus locais de origem, fazendo-o livremente, tendo ou não documentação, podendo voltar quando o desejarem.

Desvendar a verdade sobre este sistema e os seus governos e assegurar a mais ampla e protagonista solidariedade, desde baixo, desde os locais de trabalho, de estudo, nos bairros, etc … é fundamental para se conquistar uma dignidade humana, para além dos Estados e do sistema, e, para se garantir a nossa vida e dos nossos semelhantes.

In, Socialimo Libertário, 30 de Dezembro de 2004

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