tribuna socialista

domingo, dezembro 28, 2003

O PS PRECISA DOS SEUS MILITANTES E DA SUA VONTADE!

O EXPRESSO de ontem noticiava “HÁ DÉFICE DEMOCRÁTICO EM PORTUGAL”. O texto da notícia tem por base um estudo realizado entre 1976 e 2002 por uma investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e aborda sobretudo a realidade dos partidos políticos portugueses. São, em geral, partidos governamentalizados, pouco democráticos e voltados para as carreiras!

Com o mal dos outros podemos nós bem ... no entanto, o referido estudo é a todos os títulos muito preocupante no que diz respeito ao Partido Socialista. Nada que qualquer militante já não o sinta no dia-a-dia. Só que o sentimento de cada um é agora corroborado por um estudo científico ... Vejamos então a seguinte parte da notícia:
Depois de Mário Soares, nenhum dos secretários-gerais do PS foi eleito em Congresso. Vítor Constâncio, Jorge Sampaio e António Guterres foram eleitos pela Comissão Nacional. E Ferro Rodrigues (como Guterres em 1998) foi eleito por sufrágio directo, mas numa candidatura “blindada”, à margem da reunião magna. A mudança foi um “simulacro de democratização” que, segundo a investigadora, “acaba por reforçar ulteriormente as lideranças partidárias em vez de as restringir”. O PS é o partido com mais tendência para nomear, em vez de eleger, independentes para pastas ministeriais. Os sinais desse elitismo, democraticamente deficitário, são já antigos entre os socialistas. Como faz notar a investigadora, já no Secretariado dos anos 70 o crescimento do número dos seus membros era feito com elementos do Governo. E essa governamentalização do órgão máximo entre congressos já oscilava entre 46% e os 59% nos governos de António Guterres.”

Infelizmente, este estudo retrata uma realidade! Uma realidade que se tem vindo a consolidar de uma forma preocupante. A consequência é um partido que se torna, no seu dia-a-dia, absolutamente desinteressante para os seus militantes.

O debate político deixou de ser incentivado ao nível de núcleos, secções e até concelhias. Criam-se “gabinetes de estudo” que mais não fazem que afunilar o acesso ao debate só para “elites”. Não se falando nos temas escolhidos, os quais têm muito a ver com a vida parlamentar de quem os promove ...

A elitização do PS criou também uma realidade onde a fulanização das relações entre militantes passou a ser a regra. Como os deputados, os presidentes de câmara, os presidentes de junta, ..., ninguém é submetido a processos de eleição democrática com base nas suas ideias e programas, no dia-a-dia, cada militante já não recorre a referências políticas como forma de salutar diferença, mas antes aos “ismos” adicionados aos nomes dos caciques reinantes (o termo é forte, mas é o adequado).

Por exemplo, recentemente com o pedido de convocação de um Congresso Extraodinário, feito por Manuel Alegre, como forma de se resolver uma aparente crise de liderança, o que foi que aconteceu? O debate na base do PS, não houve. Ou seja, não se promoveram reuniões de núcleos, de secções, de concelhias, para se debater aquela proposta e as suas causas. O que se viu, foi um pseudo-debate feito na imprensa por meia dúzia de dirigentes e deputados mais mediáticos (o que nem sempre significa representatividade interna!) que concluíram que não era necessário um Congresso! Onde e quando é que a direcção nacional do Partido Socialista promoveu um debate interno sobre a questão, desmontando a ditadura da mediatização da vida partidária interna do partido por meia-dúzia de iluminados?

Outro caso: o relacionado com a Casa Pia. Durante meses e meses, a direcção nacional do PS atou todo o partido a um sentimento de solidariedade com um dirigente preso. Sentimento que deve ser mostrado e exercido no plano individual de cada dirigente, militante e pessoa (como o autor destas linhas o fez!), mas nunca comprometendo o colectivo do partido que deve, em cada momento, estar apto a continuar a sua intervenção global. A direcção do PS poderia ter apelado aos militantes para que tivessem aproveitado tudo o que se gerou relacionado com o processo Casa Pia, para debaterem o estado da Justiça em Portugal e quais as mudanças democráticas que foram ou deveriam ser operadas nessa área. Poderia também ter sugerido um debate sobre a qualidade da democracia portuguesa. Mas não ... mais uma vez os militantes não foram tidos nem achados!

O Partido Socialista precisa da vontade critica dos seus militantes. Os militantes devem voltar a tomar democraticamente os destinos do Partido Socialista. Generalizando a democracia e os procedimentos democráticos, generalizando o debate político a todos os níveis, acabando com os fulanismos e a elitização de um partido que deve partir da intervenção social para a intervenção política e não o contrário!

Militante nr.3760

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