tribuna socialista

segunda-feira, setembro 26, 2005

A URGÊNCIA DE UMA ALTERNATIVA SOCIALISTA!

A URGÊNCIA DE UMA ALTERNATIVA SOCIALISTA!


As democracias europeias estão ingovernáveis!

Este é o comentário mais ouvido e lido, pronunciado da direita à esquerda. As recentes eleições alemãs vieram acentuar o que os referendos francês e holandês sobre a chamada Constituição europeia já tinham mostrado: as soluções governativas no quadro do liberalismo e dos seus mecanismos de democracia parlamentarista formal são cada vez mais precárias e instáveis. Pura e simplesmente, não são soluções para nada!

Mas, da direita às esquerdas, todos constatam o referido facto, mas todos, também da direita às esquerdas, parecem persistir em soluções baseadas no mesmo quadro de formalismo democrático parlamentar.

O liberalismo, i.e., a democracia servida segundo os ditames da chamada economia de mercado, tende a criar, entre crescentes sectores populares, sentimentos contra a própria democracia, quase sempre, associada aos jogos parlamentaristas de políticos profissionalizados e desligados da realidade social e/ou a partidos que só conseguem sobreviver alimentando jogadas parlamentares.

O liberalismo, como temos repetido, é hoje um sistema muito próximo de um novo totalitarismo, ávido de ocupar a falência do parlamentarismo que foi alimentando, com soluções securitárias, totalmente desligadas da participação social e cidadã, mas ligado a “elites” ou a providenciais iluminados com pretensões a caudilhos.

Dentro do quando democrático do liberalismo vão coexistindo a própria direita (que sustenta o sistema) e as diversas esquerdas. Entre as esquerdas, não só os partidos da chamada “Internacional Socialista” (IS), mas também o que resta dos partidos comunistas e mesmo novos sectores da esquerda, como o Bloco de Esquerda em Portugal.

De um modo geral, as esquerdas têm-se parlamentarizado. Vai faltando, cada vez mais, uma cultura unitária de esquerda. Um deficit que é da responsabilidade quase exclusiva das diversas direcções partidárias das esquerdas. É confrangedor a obsessão que parece existir entre as direcções do PCP e do Bloco de Esquerda para aproveitarem todos os actos parlamentares para verificarem quem tem mais votos que o outro.

No plano das lutas laborais e sociais esse despique – entre PCP e BE – é constantemente alimentado pelos respectivos dirigentes, evitando, muitas vezes, unidades que já se tinham estabelecido de forma espontânea. Já ninguém reivindica o ser “vanguarda revolucionária” (apesar de ainda haver muitos dirigentes desses partidos com esses tiques sectários…), mas, em vez disso, os dirigentes comunistas e bloquistas rapidamente aprenderam e absorveram as disputas cultivadas pelo parlamentarismo.

À esquerda faz muito falta uma cultura unitária de esquerda que respeite e até cultive o pluralismo, mas que saiba, nos momentos decisivos, unir de forma afirmativa todos aqueles que criticam o liberalismo, enquanto sistema global e dominante. Mas é importante que essa unidade na diversidade se faça afirmando também uma alternativa global socialista.
As esquerdas, em geral, têm vindo a perder capacidade de definirem uma alternativa ao mesmo tempo que contestam o sistema dominante. Isso é também um sintoma da referida falta de cultura unitária de esquerda. Por exemplo, a critica ao capitalismo/liberalismo é reduzida sempre às receitas de cada partido ou grupo. Será impossível as esquerdas tentarem uma resposta comum ao capitalismo que se critica?

A forma de organização partidária como instrumento de mobilização anti-capitalista e socialista está condenada. A organização de todos os que buscam uma alternativa à globalização liberal/capitalista precisa de outro desenho para além da organização partidária. Porque as organizações partidárias têm vindo também a minar e a enfraquecer as lutas sociais, laborais e populares. Têm contribuído somente para uma absurda e mortífera parlamentarização da capacidade de resposta popular e socialista.

As próximas eleições presidenciais em Portugal são também um exemplo do que afirmamos. Há já 6 candidaturas à esquerda que se têm apresentado com um único projecto: derrotar um candidato de direita que ainda não se apresentou formalmente! Ou seja, esse candidato da direita poderá ser único para toda a direita, mas isso não impede de à esquerda, já existirem 6 (seis!!) … com o mesmo objectivo!!!

As esquerdas para essas eleições, que só serão em Janeiro de 2006, nunca pararam na sua corrida parlamentarista para pensarem, discutirem, dialogarem para uma candidatura conjunta contra a direita! Cada partido, desde o maior ao mais minúsculo, resolveram apresentar o seu candidato. Até o PS, com as responsabilidades de ser o maior partido e ser governo, arranjou uma solução … contra a direita que, de certeza, faria a mesma política que o PS tem feito no governo!

Todas as candidaturas à esquerda são candidaturas de partido. Todas menos a de Manuel Alegre que pode ter uma dinâmica transversal a todas as esquerda e a todas as estruturas partidárias à esquerda.

A candidatura de Manuel Alegre, se quiser, pode prolongar em Portugal o que se tem vindo a desenvolver na Europa quanto à reorganização do espaço da esquerda socialista em função da critica ao liberalismo e à cedência das direcções dos partidos e governos de partidos da “IS” à direita e a políticas neo-liberais.

A candidatura de Manuel Alegre tem de assumir uma dinâmica transversal à esquerda. Tem de se afirmar como uma candidatura de projecto democrático e socialista. Tem de ter a coragem de lançar debates sobre as políticas do governo PS que atentam contra os direitos democráticos e sociais, e, também, sobre tudo o que interesse a uma cidadania critica, interventiva e exigente. Tem de contribuir para a tal cultura unitária entre a diverdade das esquerdas!








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