tribuna socialista

quarta-feira, janeiro 25, 2006

DEPOIS DAS PRESIDENCIAIS ... TUDO NA MESMA?

Pela primeira vez depois do 25 de Abril de 1974, a direita (unida...) conseguiu colocar o seu candidato no Palácio de Belém à primeira volta.

Fala-se agora em eleição por uma "unha negra" ... mas foi eleito!

E destas eleições fica, das esquerdas, mais um exemplo de incapacidade política para se conseguirem convergências, para se conseguirem estabelecer pontes. Uma parte significativa do chamado povo de esquerda terá ficado em casa ... farto de um cenário de hiper-parlamentarização que se tem vindo a impor na relação entre os diversos partidos e correntes das esquerdas portuguesas!

O discurso de alguns dirigentes do partido de Sócrates, no pós-eleições, só pode ser definido como perfeitamente hilariante! Queixam-se agora da desunião da esquerda, depois de terem tentado impor um candidato que se veio a revelar como políticamente incapaz para unir as esquerdas ou até para se opor consequentemente a Cavaco e ao que ele representa! E o mais caricato e dramático é que Sócrates não só tentou impor o candidato Soares a todas as esquerdas, como o impôs mesmo e anti-democráticamente no interior do seu Partido.

Mário Soares teve uma votação que advém do facto de se ter apresentado, desde o ínicio, como o candidato do governo que vinha "explicar ao povo" as "medidas corajosas" do governo Sócrates. Este Mário Soares esteve em oposição ao Mário Soares participante no Fórum Social Mundial e interveniente activo na luta contra a guerra no Iraque. E ... como resultado, acabou por ter a votação que merecia!

Jerónimo Sousa e Francisco Louçã foram, do principio ao fim, candidaturas de partido. Surgiram para reafirmar e consolidar os seus espaços partidários e (até) conseguiram. Provavelmente se não tivessem surgido estas candidaturas, no quadro de uma esquerda dividida, muitos dos seus votos teriam alimentado a abstenção ou os votos em branco... O PCP e o Bloco de Esquerda continuaram a sua luta ombro-a-ombro para ver quem tem mais votos ... ambos continuaram, cada um à sua maneira, a contribuir para a já referida hiper-parlamentarização das esquerdas...

Manuel Alegre é, se dúvida, a grande novidade política das presidenciais. Não tanto pela sua personalidade, mas sobretudo pelo que significa quanto ao movimento de votantes que acabou por criar. É importante a análise quanto ao que significa de sintomático, politicamente falando.

Manuel Alegre é dirigente do PS, é vice-presidente da AR, afirmou que até votaria ao lado do governo Sócrates quanto ao Orçamento Geral do Estado. Mas o seu discurso e o seu posicionamento político ao longo da campanha eleitoral foi-se moldando à quantidade e à qualidade política do apoio popular que conseguia reunir num sentido claramente transversal, crítico da falta de participação democrática e cidadã, critico do afunilamento da democracia crescentemente partidarizada.

20% ou um milhão de votos em Manuel Alegre - enquanto candidato que pede o "poder dos cidadãos" e à margem de qualquer grande aparelho partidário - é um facto que merece ser tido em linha de conta, reflectindo-se sériamente sobre o seu significado.

A eleição de Cavaco Silva e a derrota de Mário Soares, marcarão nos próximos anos o triunfo do chamado "bloco central" a ocupar a Presidencia da Republica e o governo. Este domínio do bloco central será a continuação do afunilamento da democracia, a continuação da hiper-parlamentarização da vida política. Perante isto e a perspectiva de agravamento da situação económica e social, a votação em Manuel Alegre é um claro sinal de esperança quanto à capacidade de mobilização popular contra as políticas liberais do governo Sócrates e pela afirmação de um movimento que pugne por mais e melhor democracia, que consiga recolocar como alternativa um programa socialista de transformações sociais e políticas.

Não temos muitas ilusões naquilo que Manuel Alegre fará. Até porque no interior do PS, também não fez grande coisa depois das últimas directas para secretário-geral. Mas entre os seus apoiantes e eleitores é possível que surja algo que possa surpreender. Não necessáriamente para a repetição de qualquer modelo partidário, mas através de alguma outra forma organizativa que intervenha sobre problemas concretos. Afinal o Forum Social Mundial não é um partido, nem tem de o ser, mas não deixa, por causa disso, de ter intervenção política e social ...

A agudização da situação económica e social nos próximos 3 anos, condicionará a estabilidade desta legislatura. Condicionará também as relações entre o novo Presidente da Republica e o governo Sócrates. Mas o mais importante, serão as consequências no plano da afirmação política de novas realidades. Essas nova realidades começaram já com as eleições presidenciais e, na nossa opinião, terão influência, no futuro próximo, na (re) organização política das esquerdas portuguesas.

E, além do mais, é desejável que assim seja ...

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