tribuna socialista

sábado, maio 16, 2009

QUEREMOS SER GOVERNO MAS NUNCA COM JOSÉ SÓCRATES

O título desta posta é título de primeira página da edição de hoje do diário "I". E é um título muito importante e que marca um ponto de viragem.

Os chamados "fazedores de opinião" têm propalado a ideia de que a "esquerda radical", como o Bloco de Esquerda, só existe para "agrupar" descontentes e votos descontentes ...

A notícia do "I" remete para uma entrevista com Miguel Portas, primeiro candidato do BE ao Parlamento Europeu, que será inserida naquele diário na 2ª Feira. Nessa entrevista Miguel Portas dirá "Estamos a preparar o Bloco para ser governo. Vamos apresentar-nos com um programa de govermo e chegará o dia em que seremos governo". Mas a qualidade e o sentido políticos desse governo é também clarificado: "Recusamos pertencer a qualquer governo com esta liderança socialista".

São declarações, compromissos e intenções que marcam claramente uma afirmação perante a chamada opinião pública. A tal "esquerda radical" assume-se como esquerda de alternativa, como esquerda socialista e está preparada para apresentar propostas concretas de governo e não só de oposição, de protesto!

Neste sítio, sempre temos defendido que para os trabalhadores, empregados e desempregados, precários e efectivos, públicos e privados, que só servem para produzir e nunca são chamados a intervir na gestão das coisas e das propriedades, é muito importante poderem contar com uma alternativa política e social que tenha a coragem de ser governo. Em tempo de crise, é muito mais importante ter coragem para se ser governo de mudança e de alternativa do que sómente oposição ...

O Bloco de Esquerda quando afirma que se está a preparar para ser governo, está a lançar um repto mobilizador perante toda a sociedade. E mais mobilizador ainda quando define que ser governo é criar novos caminhos, novas políticas, abrir portas para respostas e soluções socialistas, muito, mas muito, diferentes do neo-liberalismo de Sócrates ou de modelos meramente estatizantes (diferente da defesa da coisa pública!) que já mostraram que não levam a nada.

É, de facto, possível uma alternativa à esquerda, com sentido de democracia e de socialismo, assente num trabalho de formiga para a mobilização de uma maioria social de esquerda!

4 comentários:

Nuno Cardoso da Silva disse...

O principal problema é que o Bloco de Esquerda propõe-se ser governo sem revelar que políticas adoptaria se o fosse. É provável que o BE tenha chegado à conclusão de que quanto menos concreto for, mais votos terá, e de que toda e qualquer afirmação programática concreta só serviria para alienar alguns desses potenciais eleitores. Por muito sagaz que tal conclusão seja, do ponto de vista táctico, o facto é que me deixa particularmente desconfortável. Não gosto de passar cheques em branco a ninguém.

João Pedro Freire disse...

Caro Nuno Cardoso da Silva,

Falo do que sei, do que tenho conhecimento e da intervenção que procuro ter como militante do Bloco de Esquerda: está mesmo em discussão um programa de politicas socialistas para Portugal!

Já não se trata só de discutir manifestos eleitorais para se ser oposição ... neste momento, há um compromisso para se afirmar que temos propostas, temos políticas, queremos ser/participar numa alternativa política de governo!

Não se pede um "cheque em branco"! Pedem-se opiniões, contribuições, ideias que enriqueçam politica e socialmente a vontade de alimentar uma alternativa de esquerda socialista!

Nuno Cardoso da Silva disse...

Caro João Pedro Freire,

Fico satisfeito por saber que se trabalha num programa de governo de esquerda, a sério. Fico a aguardar a sua divulgação. E espero que faça parte desse programa uma proposta de nacionalização de toda a banca portuguesa, e de devolução aos clientes dos bancos de todos os lucros que esses bancos venham a ter de futuro. Com efeito, os lucros da banca não são mais do que custos adicionais para as empresas e particulares que utilizam os seus serviços, o que afecta o nível de vida dos particulares e a rentabilidade das empresas produtivas. Não é possível combater a actual crise sem medidas radicais deste tipo relativamente à banca. Mas ainda há pouco tempo um quadro do BE me dizia ser contra a nacionalização da banca porque isso se traduzia apenas na nacionalização dos prejuízos. Espero que concordes comigo em que esse tipo de argumentos não nos faz ter grande esperança num programa realmente de esquerda.

Um abraço

Nuno Cardoso da Silva

Anónimo disse...

Formar uma alternativa social é o caminho. Que essa alternativa social tenha desenvolvimentos ao nível do poder político, levando a uma mudança o mais favorável possível para os trabalhadores, embora sem ultrapassar as «fronteiras» impostas ... seria esse o desejo de muitos trabalhadores.

Porém, não estou nada confiante que haja progressão nessa direcção no «povo de esquerda». De facto, as direcções dos partidos marxistas nunca se deixaram de colocar como vanguardas, nunca tomaram a atitude séria e honesta de se sentirem obrigadas a ir buscar permanentemente o mandato dos seus militantes. As soluções são difundidas de cima para baixo. Essa cultura autoritária anula toda e qualquer boa intenção que exista dentro de tais partidos.
Pior que isso, as pessoas politicamente e sindicalmente activas, na sua imensa maioria não perceberam ainda que é auto-derrotador serem os sindicatos transformados em palco de luta inter-partidária fratricida.
A ausência de uma verdadeira consciência sindical é um problema português: nos países ocidentais com os quais tenho contactos estreitos do ponto de vista sindical e político (Espanha, França, Itália, Inglaterra)a situação é bem diferente. Nestes países, é consensual de que é imprescindível, para a própria credibilidade de uma direcção sindical, manter total independência em relação a forças estranhas ao sindicalismo (nomeadamente partidos e outras organizações ideológicas)
Sou pelo auto-empossamento da classe; não pelo paternalismo, seja qual for o sentido da solução.
Já vivi o suficiente e já presenciei o suficiente para compreender que um projecto libertador depende em primeiríssimo lugar da capacidade autónoma dos trabalhadores em se determinarem; aliás, é esse o sentido da frase-lema da 1ª Internacional: «a libertação dos trabalhadores, será obra dos próprios»

Solidariedade,
Manuel Baptista