tribuna socialista

domingo, dezembro 18, 2005

PRÉ-CAMPANHA DESINTERESSANTE E NÃO MOBILIZADORA...

Neste espaço a intervenção sobre a pré-campanha para as presidenciais tem sido muito reduzida. Na proporção directa da qualidade e do interesse de debates mais voltados para a contabilização de votos e nada para o esclarecimento das diferenças políticas e/ou para o vincar de alternativas.

Os candidatos ou discutem acções que nunca desenvolverão ou demonstram que, afinal, um Presidente só se pode remeter a "moderações" ou ao abstracto "garante do bom funcionamento das instituições democráticas".

Diriamos que as alas direita e esquerda desta democracia crescentemente formal, parlamentarizada e inimiga da participação directa dos cidadãos e dos trabalhadores, acabam sempre por convergir em dinâmicas que confirmam a impossibilidade de qualquer um poder manifestar, individual ou colectivamente, a sua vontade ou exercer a sua acção cívica e política.

Todos os candidatos parecem ter algum receio de criticar a crescente parlamentarização/partidarização da acção política em Portugal. Todos se afirmam com candidaturas "acima" ou "ao lado" dos partidos, com candidaturas "nacionais". Mas no momento de sugerirem alternativas para além dos partidos, todos, sem excepção, fazem vénias e mais vénias ao actual sistema partidário. O mesmo sistema que afunila e condiciona a participação social, cívica e cidadã.

Uma eleição presidencial pode potenciar o aparecimento de movimentos de intervenção política, social e cívica, para além dos partidos ou até alternativo aos partidos. A critica ao actual sistema partidário não pode ser confundido com crítica anti-democrática. O sistema democrático português surgido com o 25 de Abril de 1974, não se reduz aos partidos. Para além dos partidos, apareceram outras formas de intervenção directa, de organização popular, de auto-organização dos trabalhadores, de associativismo estudantil e juvenil, que o sistema partidário tem abafado e anulado, com a ajuda objectiva de todos aqueles que fazem hoje, da direita à esquerda, um autentico culto do parlamentarismo e da partidocracia.

Neste espaço, tivemos alguma esperança no efeito social e politicamente transversal da candidatura de Manuel Alegre. No entanto, Manuel Alegre tem dado sinais preocupantes de se ficar pela mera retórica quando declara que nada fará no futuro - no PS, no Parlamento, na intervenção cívica - se não for eleito Presidente. Manuel Alegre defrauda assim, as expectativas dos que o apoiam, tal como já o fez em relação ao movimento dos militantes socialistas que o tinham apoiado para secretário-geral do PS.

Mário Soares revela-se como candidato presidencial uma autentica contradição em relação ao Mário Soares interveniente no Fórum Social Mundial. É um Mário Soares preso a um Governo com políticas neo-liberais mais próximas de Cavaco Silva e dos partidários derrotados do "sim" à Constituição europeia , do que do programa que deu a maioria absoluta ao PS em Fevereiro deste ano! É um candidato que se afirmou, desde o ínicio, com a estranha missão de "explicar ao povo português" as medidas do actual governo contra a crise!!...

Como é que um candidato como este Mário Soares pode unir a pluralidade das esquerdas?

Jerónimo Sousa e Francisco Louçã são excessivamente candidatos "de partido", presos a uma disputa parlamentar no seio da esquerda portuguesa. Candidaturas assim que contributo objectivo podem ter para uma outra cultura de relacionamento entre as diversas correntes da esquerda em Portugal?

Cavaco Silva revela-se portador de uma pobreza tal de ideias e de projectos que acaba por ser incompreensível como consegue, neste momento, tão elevado score nas sondagens. Embora as sondagens se revelem mais "trabalhos à medida" do que própriamente estudos sérios de medição da opinião dos eleitores!

Cavaco Silva é uma espécie de candidato a Presidente para qualquer governo, sendo certo que, uma vez eleito, será um Presidente com o mesmo projecto que defendeu quando foi primeiro-ministro. Para já, fala pouco, exprime poucas opiniões ... tudo isso, fará como Presidente!

Nestas eleições presidenciais, o objectivo, numa perspectiva de esquerda, não deveria ser só a derrota de Cavaco Silva. Deveria ser também a eleição de alguém que, com um projecto claro e com ideias claras relativamente à mobilização social, política e cívica dos cidadãos e dos trabalhadores, significasse um sinal que obrigasse o actual governo de Sócrates a rever as suas prioridades em matéria de políticas económicas e sociais.

Derrotar Cavaco e eleger alguém que não questionará objectivamente a orientação neo-liberal do governo, é o mesmo que não derrotar Cavaco!

Um Presidente não é, óbviamente, mais um primeiro-ministro. Mas a eleição de um Presidente é um momento culminante na mobilização de cidadãs e de cidadãos com determinada vontade política e cívica.

Para já, a pré-campanha presidencial tem sido desinteressante e não mobilizadora!

1 comentário:

Geosapiens disse...

Caro...a minha candidata acaba de entregar as assinaturas no tribunal constitucional...veremos se com os "pequenos" esta começa a animar...mesmo que sejam os "grandes" que ás vezes mobilizem...