tribuna socialista

sexta-feira, agosto 04, 2006

A MENTIRA E A VERDADE, do Director do Público

O Editorial de hoje do Público, assinado pelo director do diário da Sonae, é mais uma peça igual a tantas outras escrita por quem só vê dois lados no que se passa no Líbano, e, perante eles tem de optar "inevitávelmente" por um.

O director do Público apoiou a intervenção dos EUA no Iraque e agora apoia todas as acções do Líbano ... sempre pelas mesmas "razões": lutar contra o terrorismo, lutar contra os "extremistas" que parecem ser todos os que não estão ao lado dos EUA ou de Israel.

José Manuel Fernandes (JMF) quando fala em massacre cometido pelo governo israelita, coloca sempre a palavra - massacre - entre aspas ... Porque afinal, segundo JMF, as intervenções militares israelitas não têm provocado tantas mortes, como a imprensa divulga ...

E nesta "mentira na verdade" pintada por JMF, nem a ONU escapa ... porque os soldados das Nações Unidas mortos na sequência de um ataque israelita, até "sabiam" que estavam a ser utilizados como "escudos humanos" pelo Hezbolahh ... Provavelmente a vontade de JMF era escrever que os capacetes azuis que morreram, morreram ... porque quiseram ...

Já quando escreve sobre o Hezbolahh, a escrita sai certeira contra uma organização que não tem uma mílicia, mas um grupo de soldados bem treinados e com armamento sofisticado, escondido entre a população civil ... aqui talvez quisesse escrever que os civis libaneses que morrem, morrem pelas mesmas razões que morreram os capacetes azuis ...

O que escreve JMF não acrescenta nada de novo à argumentação dos que apoiaram e continuam a apoiar o argumento belicista para a "normalização" das relações que pretendem impor no plano internacional.

De um ponto de vista socialista, há comentários a fazer:
  • Desde a segunda guerra mundial, o planeta não tem conhecido um único momento sem guerras. Guerras regionais ou locais. Para evitar essas guerras - como a do Médio Oriente - as diplomacias do tempo da "guerra fria" e as dos tempos actuais do único gendarme EUA, falharam em toda a linha. A ONU acaba por parecer um sucedaneo da inoperante Sociedade das Nações ... A sua inoperância é o espelho dos jogos e das relações de força que existem no seu Conselho de Segurança...
  • No Iraque e no Médio Oriente, o argumento belicista usado pelas partes em confronto nada resolve. Antes adia qualquer solução durável e acentua o sofrimento de populações inteiras.
  • A alternativa às políticas dos governos israelitas e dos EUA para o Médio Oriente não está em grupos fundamentalistas islâmicos ou de outro qualquer credo religioso. A alternativa tem de ser encontrada na capacidade de mobilização e de resistência pela Paz que todos os povos do Médio Oriente têm demonstrado.
  • A alternativa às políticas internacionais do liberalismo não está na consolidação das posições islâmicas ... a solução para a guerra não está no aumento de "bombas-humanas" ... a solução está mesmo na capacidade de se construir a Paz!
  • A luta por uma solução de Paz, pressupõe a capacidade de organização de uma rede plurinacional, plurireligiosa, pluriétnica que consiga fazer a ruptura com o actual cenário dominado por uma espécie de gémeos que se guerream, mas que, na prática, têm o mesmo corpo ...
  • A luta por uma solução de Paz passa também pela capacidade de ruptura com uma realidade internacional onde a capacidade de invadir e de desenvolver e manter cenários de guerra, está muito ligada à posição dominante que existe em todas as organizações mundiais que determinam o comércio e a finança.

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