tribuna socialista

sábado, agosto 20, 2005

INCENDIOS & PRESIDENCIAIS: e o debate? e a participação cidadã?

Presidenciais e incêncios ... o que será que isto tem em comum? ...

Tem muito mais do que poderemos pensar, num primeiro momento! São temas que exibem a fragilidade/qualidade da democracia portuguesa, ou seja, são um termómetro do debate que não há e da participação cidadã que vai sendo, cada vez mais, subtraída.

Por vontade das direcções partidárias (principalmente das que têm deputados...) e/ou por vontade do governo (do de Sócrates ou de qualquer outro assegurado pela chamada alternância...), há temas - como os dois que elegemos - que parece que só devem ser debatidos por "quem sabe", pelas chamadas "elites" (tão do agrado de Sócrates) e/ou pelos "estados-maiores" dos partidos ...

Trata-se de um caminho de formalização/desqualificação da democracia, de afunilamento da participação cidadã, de deliberado esquecimento/branqueamento da História relativamente ao que foi e para que serviu o 25 de Abril de 1974 e os ventos de mudança e de participação social que se lhe seguiram!

Quanto aos incêndios: ano após ano, seja qual for o governo da hiper-repetida alternância, sucede-se a "receita" das prevenções que acabam por nunca prevenir nada de nada! As populações, aquelas e aqueles que vivem onde os incêndios se sucedem e martirizam, nunca são ouvidas quanto à sua opinião, quanto à sua proposta, quanto à sua vontade! Por entre o discurso e a lógica neo-liberal dominantes, o Estado (também dominado por liberais de todas as matrizes) vai-se demitindo das suas responsabilidades, nomeadamente quanto à necessidade de se criar uma força anti e de prevenção aos incêndios, capaz de responder ao concreto com total independência face aos interesses e lobbies privados (não só nacionais como já internacionais) ...

Quanto às presidências: a direita parece que chegou à conclusão que só tem de aguardar pela formalização da candidatura do seu Cavaco Silva! Nas esquerdas, o debate é nulo. Completamente nulo. Tanto no plano inter-partidário ou social, como no plano intra-partidário. O PS, como partido maioritário nas esquerdas, vai fazendo valer (impondo!) a visão e a lógica da sua direcção liberal: debate não há, e, parece que nem é preciso. Tudo é decidido, sem debate e sem participação dos militantes, pela direcção nacional e pelas direcções distritais (espécies de filtros da vontade democrática das bases!). Sócrates está a aproveitar as presidenciais para acabar, de vez, com Manuel Alegre. Ao ponto, de antigos apoiantes de Alegre, entretanto colocados em lugares de direcção (ex.: Augusto Santos Silva), já defenderem , sem pestanejarem , as posições da direcção liberal sócratica.

Mas no PCP e no BE, a discussão também é nula ou só para entreter os respectivos dirigentes. No BE, parece que, não obstante as decisões da última Convenção Nacional, ainda (!) não há consenso quanto ao apoio ou não apoio, na 1ª volta, a Mário Soares (se este for o candidato do PS imposto às esquerdas!). No PCP, parece que todos estão à espera da indicação pela direcção do seu candidato "mártir" (já que irá sempre desistir...)

Confrangedor é as esquerdas não discutirem entre si. Não só discussão entre as suas direcções partidárias, mas discussão entre os seus militantes, de uma forma livre, não sectária, sem clubismos e profundamente democrática.

TRIBUNA SOCIALISTA tem defendido e continuaremos a defender a bondade, numa lógica democrática, de esquerda e socialista, da candidatura de Manuel Alegre. Uma defesa para o debate, mas também para a afirmação de uma candidatura de esquerda que emerge de um sentir e de uma vontade sociais.

Incêndios & Presidenciais ... era isso que estavamos a abordar! Vejam como temas tão distintos exibem a desqualificação crescente de uma democracia que se afirmou através de rupturas e particapação social!

2 comentários:

Arrebenta disse...

Anda no ar um certo cheiro a pólvora.
Não são os incêndios,
mas o tal golpe militar de que já por aí se fala.

Natália de Andrade também apoia Manuel Alegre.
O hino da campanha já está disponível on-line em:

http://www.homophonecd.com/Natalia.wma

Arrebenta disse...

Meus caros amigos, pensem um bocadinho...
A França estava na C.E.E. desde 57, se me não falham os neurónios.
Maio de 68 foi dez anos depois,
ou seja,
nada obsta,
quando necessário,a que os regimes sejam derrubados em países do Espaço Comunitário.
Evidentemente que em Maio de 68, as pessoas tinham ideias;
hoje em dia, não têm ideias, têm dívidas,
mas nada impede que alguém as ajude a melhorar a sua esperança existencial.
E mais não digo.
Ponto Final.

P.S. - Não se esqueçam de ir a http://www.homophonecd.com/Natalia.wma
ouvir o Hino de Campanha do Manuel Alegre,antes de que
"Ça ira, ça ira!..."
recomece a soar por aí,
e apareçam algumas cabeças ensanguentadas espetadas na ponta de chuços.
É verdade que terão feito o suficiente para o merecer.