tribuna socialista

sábado, outubro 08, 2005

A propósito das autarquicas 2005 ...

VOTOS DE ESQUERDA CONTRA A DIREITA E AS POLÍTICAS DE DIREITA!

De França chegam novamente notícias sobre o movimento social do NÃO à dita Constituição liberal europeia, desta vez, a recusar as políticas liberais do governo de direita de Villepan.

Notícias que mostram também como é possível fazer convergir a pluralidade das esquerdas e de todos os sectores sociais que recusam o liberalismo e as suas políticas, ao mesmo tempo que exigem a defesa dos serviços públicos, a defesa das conquistas sociais e afirmam possível outra realidade política, económica e social.

Em França, convergiu nas ruas a afirmação de uma cultura unitária social e das esquerdas!

A concretização de uma alternativa que emerge dessa cultura, é a única forma de se conquistar a maioria da população para o combate ao liberalismo e às suas políticas.

Quando as esquerdas adoptam a “clubite” típica do parlamentarismo liberal, muito pouco conseguem.

Esta é a lição que se deve tirar do exemplo francês e que interessa à reflexão sobre as eleições autárquicas em Portugal.

São eleições locais, é um facto! Mas são eleições locais em todo o território nacional com a intervenção activa de todos os líderes nacionais dos diversos partidos concorrentes. Acrescem ainda as declarações dos dirigentes e candidatos afectos ao partido do governo Sócrates que fazem questão de afirmar serem “amigos” do governo! Isto é, amigos das suas políticas!

Ou seja, para além da intervenção local, há sem dúvida, uma avaliação das políticas governamentais. E, sendo assim, estas eleições serão uma oportunidade para todas e todos avaliarem o impacto social das medidas do governo Sócrates.

E essas medidas vindas do principal partido das esquerdas em Portugal, prejudicam muito seriamente a possibilidade imediata de uma grande convergência unitária das esquerdas em Portugal.

A direcção do PS desbaratou completamente o efeito social e político dos resultados eleitorais de 21 de Fevereiro último!

O governo Sócrates, o governo da direcção liberal do PS, será também avaliado em 09 de Outubro pelas suas políticas liberais, como foi em Fevereiro último, o governo de direita de Santana Lopes e Paulo Portas.

Essa avaliação terá um peso determinante nas opções eleitorais em Lisboa e no Porto. Pelo peso desses concelhos, mas também pela dinâmica nacional que as direcções partidárias nacionais deram com as suas intervenções permanentes a nível local.

Mas ao mesmo tempo que se avaliam as políticas liberais do governo Sócrates, convém frisar que a alternativa a essas políticas não estão naqueles que foram derrotados em Fevereiro, como é o caso de Marques Mendes, de Carmona Rodrigues, de Rui Rio. Marques Mendes é o actual líder do PSD mas integrou o governo de Durão Barroso. Carmona Rodrigues, candidato do PSD à Câmara de Lisboa integrou o governo de Santana Lopes e foi seu número 2 na Câmara a que se candidata. Rui Rio colecciona lugares de número 2 de todos os últimos líderes do PSD. Não são alternativa a políticas que também defenderam (e defendem…) e praticaram.

As políticas de Sócrates não foram votadas em 21 de Fevereiro e, mais não são, que a continuação das políticas derrotadas nesse dia. Sócrates, tal como Durão Barroso,  Santana Lopes e Marques Mendes,  representa a Europa do “sim” à Constituição europeia liberal e, vem daí, a semelhança das políticas que defendem!

O grande drama, para uma alternativa de esquerda, reside na contradição de essa alternativa ter de rejeitar a actual direcção Sócrates do PS, mas não pode prescindir da participação, do contributo e da vontade dos militantes e eleitores socialistas! Por este motivo, o PS continuará a ser um partido imprescindível para a definição de uma alternativa de esquerda em Portugal.

As eleições autárquicas têm registado uma luta escusada e desgastante, numa perspectiva de esquerda, entre o Bloco de Esquerda e o PCP (CDU). É uma mera disputa eleitoral ditada pelos timings do parlamentarismo liberal (que as direcções desses dois partidos parece terem assimilado), mas que só adia a criação de uma cultura unitária das esquerdas que possibilite a definição de uma alternativa de esquerda. Diríamos que falta às esquerdas mais intervenção social e menos adaptação a guerrazinhas parlamentaristas.

Recuando ao inicio da campanha eleitoral autárquica, todos estaremos também recordados dos diversos episódios acontecidos em Lisboa e no Porto protagonizados pelo PS, pelo PCP e pelo BE quando parecia que todos queriam uma solução unitária de esquerda nas maiores Câmaras do país, mas que acabou por prevalecer a divisão. Pelo caminho ficou visível que a actual direcção do PS entende por “unidade” a submissão às suas políticas, enquanto entre o BE e o PCP mas não se passa que uma disputa para ver quem tem mais peso eleitoral que o outro. Afinal todos falavam em unidade, embalados pela lição política que os resultados eleitorais de 21 de Fevereiro revelaram: uma imensa derrota da direita, uma votação impressionante nos partidos de esquerda! Ou seja, mais uma vez, as direcções dos partidos de esquerda – todas elas! – foram ultrapassadas pelos movimentos sociais!

É num quadro de guerras partidárias entre as esquerdas e de crise das democracias liberais que vão ganhando expressão, correntes populistas claramente reaccionárias. Como as candidaturas de Fátima Felgueiras, em Felgueiras, de Isaltino Morais, em Oeiras, de Valentim Loureiro, em Gondomar, e de Ferreira Torres, em Amarante. Nada têm para oferecer em termos de programa, a não ser o aproveitamento da insatisfação de muitos sectores populares perante sinais de crise das democracias liberais: excessiva centralização do poder político, inexistência de mecanismos de participação popular fora do quadro parlamentar, excessiva partidocracia com partidos sem democracia interna.

A previsível vitória destas candidaturas nos concelhos em que se apresentam, é uma derrota dos que procuram respostas no quadro de um sistema que cria/tem criado as condições para o aparecimento de tais candidaturas. A incapacidade das esquerdas para se apresentarem de uma forma alternativa, é também responsável pela vitória dos populistas.

Mais uma vez, o exemplo francês que demos no inicio desta reflexão, prova que a concretização de uma outra cultura de relacionamento político entre as diversas correntes das esquerdas, pode criar as condições de maior credibilidade e apoio social para uma alternativa que possa emergir do que chamamos cultura unitária das esquerdas. Ou seja, a substituição de um relacionamento mais baseado na intervenção convergente junto de problemas concretos com capacidade de afirmação politica de alternativas.

Nas eleições de 09 de Outubro, o nosso apelo vai para os votos que rejeitem o liberalismo e as políticas liberais. Votos à esquerda, não obstante a postura lastimável e pouco apelativa das direcções das esquerdas.

Não é um apelo abstracto. É um apelo a todas as cidadãs e a todos os cidadãos que têm demonstrado, em muitos momentos, muito mais discernimento político que os jogos de aritmética parlamentar das diversas direcções das esquerdas.

A nível local ou a nível nacional, a emergência de uma alternativa das esquerdas com um programa democrático e socialista, fora do quadro político e económico do liberalismo, é o desafio que se coloca às esquerdas, é o desafio para o aprofundamento da própria democracia, é o desafio capaz de ganhar o apoio social maioritário.

João Pedro Freire

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