tribuna socialista

terça-feira, novembro 22, 2005

ESPECTACULO LASTIMÁVEL: CAMPANHA CONTRA OS PRÓPRIOS!!

Manuel Alegre vs Mário Soares OU Mário Soares vs Manuel Alegre ... não mais que uma triste guerrazinha pessoal entre duas personalidades!

Um espectáculo que exibe o estado a que o PS de Sócrates chegou: não há debate democrático, as grandes decisões são tomadas por uma direcção que se comporta como uma espécie de "conselho de administração" sem qualquer intervenção dos militantes, directa ou indirecta!

No caso concreto da escolha do candidato presidencial do PS, não houve qualquer debate entre os militantes socialistas. Houve, tão-sómente, uma decisão da direcção de Sócrates que resolveu ficar-se pela audição das direcções distritais, como se isso equivalesse a ouvir a vontade dos militantes!

Manuel Alegre, o candidato "traído" pela direcção do PS, e, Mário Soares, o candidato da direcção Sócrates e do governo, dão agora um muito triste espectáculo que só serve de campanha contra eles mesmos e marca pontos a favor de Cavaco Silva!

No final de contas, parece que tudo se conjuga para que Sócrates possa governar tendo por Presidente o seu candidato preferido, Cavaco Silva, e, no PS, não tenha a oposição de socialistas que apresentará como "derrotados", Mário Soares e Manuel Alegre!

Como seria se as esquerdas tivessem tido capacidade e vontade políticas para a escolha de um candidato de unidade e de projecto de esquerda?

3 comentários:

Elisiário Figueiredo disse...

Pois é caríssimo, quando foi da escolha do secretário-geral para o PS eu advoguei a teoria de que Sócrates seria uma escolha "agradável" para a direita, que as medidas que iria tomar se fosse governo, "coraria" de vergonha o PSD, e que nas presidenciais nada me admiraria que ele, Sócrates, apoia-se Cavaco Silva.

Sem querer ser Profeta da Desgraça, até porque não tenho muito jeito para "aturar" profetas, aqui cheguei, ao culminar das "profecias".

Arrebenta disse...

GRANDE ENTREVISTA DE CAVACO SILVA A KATIA REBARBADO D'ABREU (4ª Parte) - "As Finanças de Seda do País de Tanga"

(Continuação)

K.R.A – Do seu ponto de vista, Professor, quando se inicia o período da “Economia Medíocre”?...

C.S. -- … bom… vejamos (bebe um copo de água)

K.R.A. – Posso ajudá-lo? Com o Eng. Sócrates, não foi, de certeza, porque só leva 9 meses de governação. A verdade é que, quando Durão Barroso diz que o país “está de tanga”, certamente já se estava a referir a algo parecido com economia medíocre, porque um país de sólida economia, rapidamente recuperaria do ponto de vista financeiro público...

C.S. -- … sim… é uma evidência.

K.R.A. – Poderá dizer-me que a culpa foi do período em que António Guterres ocupou o cargo de Primeiro-Ministro

C.S. – Minha senhora, eu sou candidato presidencial, não sou um político profissional, e um dos meus compromissos para com os Portugueses foi, justamente, o de não vir aqui dizer mal de ninguém, portanto, também não virei aqui dizer mal do período do Eng. António Guterres…

K.R.A. – Então, compete-me a mim dizer-lhe que só sobram os dez anos em que o Professor foi Primeiro-Ministro de Portugal para situar, cronologicamente, o começo da Economia Medíocre!...

C.S. – A senhora, sabe, por acaso, quanto crescíamos ao ano, durante o período em que governei Portugal?... Mais de 4%, minha senhora, mais de 4%!...

K.R.A. – … com “deficits” e taxas de desemprego de 9%, com um agravamento brutal do fosso entre ricos e pobres, com o aumento da exclusão, com a generalização de fenómenos sociais, como os salários em atraso, as chamadas “greves patronais”, as falências fraudulentas, e sem punição, a multiplicação dos processos sub-reptícios, que permitiam a uma empresa fechar portas hoje, colocando no Desemprego centenas de trabalhadores, para logo no dia seguinte, reabrir ao lado, onde a mancha de miséria do Vale do Ave e da Península de Setúbal chegou ao extremo, onde mães de família eram lançadas para a berma da estrada, para se prostituírem, como única fuga possível à miséria, onde encerraram empresas emblemáticas, como a Fábrica de Cristais Irmãos Stephens, que durava desde o tempo do Marquês de Pombal, a célebre C.U.F., que datava do mais longo período de estabilidade política português, o do Dr. Salazar, e mais dezenas e dezenas de outras que não poderíamos enumerar aqui…

C.S. -- … minha senhora…

K.R.A -- … e tudo isto, com uma permanente injecção financeira, propiciada pelos Orçamento folgado do Estado, pelo dinheiro proveniente das privatizações, e, acima de tudo, dos Fundos Estruturais, que, em grande parte desapareceram, sem deixar rasto, ou deixando rastos duvidosos, como a proliferação de carros topo de gama, de barcos e aviões de recreio, de casas de gosto duvidoso, de moradias com piscina, de contas abertas no estrangeiro, de circulações de capitais por tudo o que era “off-shore”, por um escândalo tal, na Bolsa de Valores, que o próprio Professor foi chamado a intervir, de modo a que não se tornasse pública a operação de branqueamento que ali diariamente se processava, e não chegássemos a uma situação de colapso próxima do Grande “Crash” de 1929. E tudo isto, muito alegremente, com os Portugueses a presenciarem, a cada dia passado, que os dinheiros enviados pela União Europeia eram esbanjados e espalhados por todo o tipo de canais de circulação. Deixe-me dizer-lhe, Professor, que quem analisasse seriamente este período, lhe poderia dizer que a sua especialidade doutoral não seriam as Finanças Públicas, mas, sim, as Finanças Privadas…


C.S. –- Minha senhora, deixe que lhe diga que agora, passados dez anos, eu próprio não terei dificuldade em me pronunciar, dizendo que terá havido alguns excessos nesse período... Todavia, e como acho que devo serenar os Portugueses, e fazê-los voltar a acreditar, porque os Portugeses devem acreditar, e devem voltar a ter confiança no futuro, e devem estar certos que, comigo na Presidência, voltará a haver um rumo e uma expectativa nacionais, devo dizer-lhe, como em tempos respondi a um seu outro colega da Comunicação Social, que me interrogava sobre o hipotético desvio de Fundos, que eu nada sabia disso, mas que de uma coisa estava certo: é que continuavam em Portugal. É fácil criticar a melhor ou pior aplicação dos Fundos Estruturais, eu poderia mesmo dar uma aula, ou escrever um livro sobre isso, agora, do ponto de vista da minha análise positiva, uma coisa é certa, esses Fundos, uma vez vindos para Portugal, ficaram mesmo nas mãos de Portugueses, e eu nunca poderei ser acusado de os ter distribuído, de alguma forma, mesmo que inconscientemente, por outros povos, sei lá, minha senhora, sei lá, pelas mãos de Espanhóis, de Franceses, ou de Ingleses, por exemplo…

K.R.A. –- Acabou por o fazer a seguir, quando, não renovado, não preparado para a competitividade, ou, simplesmente, destruído, o tecido empresarial, obrigou os Portugueses a importar a maior parte do que consomem. O desequilíbrio da Balança Comercial mostra como hoje, dez, ou vinte anos passados, grande parte do dinheiro que deveria ser investido para desenvolver o nosso país, se some imediatamente, no fluxo de pagamento das importações. É um facto que o período em que o Professor foi Primeiro-Ministro se caracterizou, justamente, por uma concentração desse Fundos em mãos portuguesas, mas nalgumas, poucas mãos…

C.S. – Minha senhora, objectivamente, costuma dizer-se que, no meu tempo, entrava em Portugal um milhão de contos por dia. Um milhão de contos, dividido por dez milhões de Portugueses, dava, por alto, cem escudos, dos antigos, a cada um... Ora..., a senhora tem consciência de que ninguém poderia viver, mesmo naquele tempo, com cem escudos por dia... Julgo que foi uma opção inteligente, e deixe-me dizer-lhe que não me arrependo, aliás… digo-lhe mesmo que o voltaria a repetir, hoje em dia… julgo que foi uma opção inteligente ter dado um pouco mais a quem manifestava alguma iniciativa, optando por dar, digamos…, um pouco menos… a quem não manifestava qualquer tipo de dinâmica, e acabaria por esbanjar esses recursos precisos em operações sem qualquer impacto na Economia ou no Mercado Financeiro, como seria o de um cego consumir, que, infelizmente, nos continua a caracterizar…

K.R.A. – Explica assim o aparecimento súbito, e do nada, de instituições bancárias, que vieram alterar por completo o panorama financeiro português?...

C.S. – Alterar, e bem, na minha óptica… Atente-se, por exemplo, no Banco Comercial Português, minha senhora, seja de que ponto de vista o observe, ele é um exemplo positivíssimo, o exemplo de uma iniciativa privada, que, em menos de duas décadas, se transformou na instituição financeira mais sólida de Portugal…

K.R.A. -- … e recentemente, como deve estar recordado, ligada a uma suspeita de branqueamento de capitais… Como encara, Professor, a suspeita de generalizado branqueamento de capitais que paira sobre grande parte dos fluxos financeiros portugueses?...

C.S. –- Posso dizer-lhe que discordo profundamente da expressão “branqueamento de capitais”… aliás… (faz uma careta e bebe um copo de água) posso adiantar-lhe, em primeira mão, que, quando, como espero, for eleito Presidente da República, uma das primeiras coisas que farei será endereçar ao Governo de então…

K.R.A -- … ao Governo do Eng. Sócrates, portanto…

C.S. -- … esse, ou qualquer outro, que possa estar em funções, o pedido para a elaboração de um Livro Branco sobre o… enfim, chamado “branqueamento de capitais”, com o pedido expresso, e urgente, de que essa expressão alarmista seja retirada do léxico corrente da Comunicação Social. Não entenda isto como uma lição, veja simplesmente como fica mais bonito, e eu prometo aqui isso aos Portugueses: erradicar a expressão “branqueamento de capitais” e substituí-la por uma outra, muito mais dentro da nossa linguagem de Finanças Públicas, que é a de Circulação de Capitais de Origem Difusa, ou Indeterminada. Vê como fica imediatamente mais bonito?...

(continua)

Arrebenta disse...

GRANDE ENTREVISTA DE CAVACO SILVA A KATIA REBARBADO D'ABREU (5ª Parte) - "Cultura"

(Continuação)

K.R.A. — Professor Cavaco Silva, falemos de Cultura. Para muitos Portugueses, quando se fala de “Cultura” a ideia que têm do Professor é a mesma que têm de Goebbels: saca logo do revólver… (risos)

C.S. – (risos) Por amor de Deus, minha senhora, isso é um disparate!... Leia o meu manifesto “As Minhas Ambições para Portugal”, e verá quantas vezes lá aparece a palavra “cultura”...

K.R.A. — Esse é um manifesto abstracto, que fala de um futuro que só poderá acontecer, na eventualidade de ser eleito. Eu gostaria de o interrogar sobre o passado, ou seja, sobre o tempo em que o Professor, quando, de facto tinha poderes realmente interventivos, como Primeiro-Ministro. Como resumiria a sua acção cultural, durante 1985-1995?...

C.S. – Olhe, minha senhora, antes de mais, aquilo que considero o maior testemunho cultural da minha governação, o Centro Comerci… perdão, o Centro Cultural de Belém. Quer melhor obra do que ter colocado à disposição dos Portugueses o Centro Cultural de Belém?...

K.R.A. — Uma excelente obra, que custou umas quantas vezes mais do que o inicialmente previsto, que ficou incompleta, dadas inconfessáveis cumplicidades que existiam entre Governo, Câmara Municipal de Lisboa, Lojas Maçónicas e outros interesses ocultos, como mais tarde se veio a demonstrar, enfim… a tentar demonstrar, no Processo da Universidade Moderna. Resumindo: até o Centro Cultural de Belém ficou incompleto, posto que os módulos finais, que se deveriam construir sobre os barracões "ataveirados" da Universidade Moderna, foram obstruídos pelos jogos de poder que já ali se digladiavam…

C.S. – Mas fiz lá uma ópera, minha senhora, a segunda grande ópera construída de raiz, desde o séc. XVIII. Parece-me que estou a ver a minha senhora, a Doutora Maria, a virar-se para mim e a dizer-me…, permita que confesse este momento da minha intimidade a todos os Portugueses… “Aníbal, agora, que és Primeiro-Ministro, gostaria de entrar, acompanhada por ti, pela primeira vez, num Teatro de Ópera”, e eu lembro-me de lhe ter respondido, “Maria, 40 000 000 de contos nos separam desse pequeno gesto”.

K.R.A. — Ou, como diria, o Poeta, a Maria sonha, o Aníbal manda, o Erário paga, a Obra nasce…

C.S. -- … isso.. Isso!... (bebe um copo de água)

K.R.A. — Falando de ópera: recentemente descobriu-se que eram ambos fervorosos melómanos, e que foram assistir à “Traviata”…

C.S. -- … de Wagner. Deixe que lhe diga, minha senhora, que saí de lá com os cabelos completamente arrepiados: aquele momento em que a Traviata, já tuberculosa, vem, Ta Tã Ta ta Tã!..., na Cavalgada das Valquírias, e depois se deita, já morta, com a sua lança num anel de fogo. Uma coisa gloriosa!... A minha esposa, em contrapartida, chorou muito na parte final, em que o Grande Wotan cantou “Di Provenza, il mar, il suol!...”

K.R.A. — Uma das críticas, que se faz ao seu período de governação, foi a de ter tornado o Teatro de S. Carlos no palco de uma parada de vaidades dos novos-ricos, de lá afastando os verdadeiros melómanos. Pensa, como Presidente, re-democratizar o acesso aos espaços culturais?...

C.S. – Minha senhora, com certeza de que não estava à espera de que eu pensasse, como o António Silva, daquele célebre filme (risos), que a Ópera era para os operários. Obviamente que, muito discretamente, o São Carlos foi redireccionado para as pessoas que tinham triunfado na nova dinâmica económica. Como sabe, os recursos são escassos, pelo, que na dinâmica de uma sociedade aberta, de livre comércio, só deve ter acesso a determinados patamares quem se bateu para lá chegar. A senhora, de certeza que não me estava a pedir que enfiasse, nas poucas centenas de lugares do Teatro Nacional de São Carlos, 10 000 000 de Portugueses!...

K.R.A. — Estava apenas a questioná-lo sobre se essas escassas centenas de lugares eram ocupadas pelas pessoas certas, ou por pessoas que iam sistematicamente utilizar esse espaço para rituais alheios à sua função…

C.S. -- … e deixe-me que lhe diga, também abri ao grande público o Teatro Nacional D. Maria II, se bem se lembra, colocando em cena, durante meses e meses a fio, com enormes filas à porta, aquilo que, confesso, considero a minha grande contribuição para o panorama artístico português, o imortal “Passa por mim no Rossio”, de Filipe la Féria, que, aliás, como sabe, também integra a minha Comissão de Honra.

K.R.A. — Quanto à Literatura, Professor, para além do ridículo episódio entre Sousa Lara e Saramago, pouco ficou…

C.S. – Minha senhora (olha para o papel)… houve Maria Roma, Pedro Paixão, Inês Pedrosa…

K.R.A. — Tudo nomes de primeiríssimo plano…

C.S. – Exactamente, e ainda bem que também aí me dá razão.

(Continuação)