tribuna socialista

domingo, setembro 24, 2006

SOARES & CARLUCCI: aprender com a História ...

A edição do Público de Sábado (23 do corrente) deu grande destaque ao (re)encontro de Mário Soares com Frank Carlucci. Titulavam a notícia com um pomposo "Reencontro com a História" !

Mário Soares e Frank Carlucci são apresentados como tendo sido os responsáveis pelo triunfo, em Portugal, de uma democracia de tipo ocidental contra a tentativa de imposição de uma ditadura de tipo soviético. Juntos teriam conseguido convencer Henry Kissinger (o então secretário de Estado de Nixon) que já tinha dado Portugal como perdido para a órbita soviética.

Estamos a falar de Portugal em 1975, um ano depois do 25 de Abril. Estamos a falar de um momento em que se assistia a grande mobilização popular. Se assistia à tentativa de construção de uma democracia que não fosse sómente formal. E é verdade que nessa mobilização popular, decorriam também intensos debates sobre o melhor caminho a seguir. Houve, de facto, correntes políticas que queriam reeditar modelos originaram deformações totalitárias noutras experiências revolucionárias. Como existiam outras que pugnavam por genuínas formas de poder democrático dos trabalhadores, pela criação condições directas para o exercício da vontade dos trabalhadores e dos cidadãos.

À margem dessa mobilização popular, à margem do debate democrático, decorriam também tentativas para o fim dessa mobilização e o abafamento desse debate. Mário Soares e Frank Carlucci personificaram uma dessas tentativas. E, de facto, conseguiram triunfar.

Mário Soares, então secretário-geral de um Partido chamado Socialista, trinta e um anos passados, é, de facto, um dos principais coveiros da Revolução portuguesa, enquanto experiência que apontou para um caminho de democracia socialista.

Hoje, alguma retórica radical do discurso de Mário Soares é insuportável para quem tenha vivido fortemente os tempos de 1975. Todos sabíamos que Carlucci nunca esteve interessado em qualquer processo revolucionário em Portugal. Para ele chegaria que Marcelo Caetano se tivesse convertido à democracia. Como tantos do seu regime fizeram ... Mas, quanto a Mário Soares, trinta anos depois, dá para ver quais as reais responsabilidades deste dirigente de um partido formalmente de esquerda no triunfo do liberalismo em Portugal! Meteu um dia o socialismo na gaveta e hoje ainda tem a distinta lata de se fazer exibir com o representante de uma Administração norte-americana que ostensivamente obstruiu a vontade de mudança de portuguesas e portugueses, como tinha já assassinado no Chile outra vontade de mudança e um Presidente eleito ... Posted by Picasa

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