tribuna socialista

domingo, julho 26, 2009

RUÍDO & ALGAZARRA ...

Quando as preocupações imediatas dos que se dizem "à esquerda" se reduzem
à discussão de lugares em listas ou a tentativas de contratação do tipo futebolistico, isso quer dizer que "à esquerda" o parlamentarismo também começa a ser mais importante que a discussão de políticas e de programas e a luta de classes é algo a que já não se liga muito.
Antes de mais, convém reafirmar que debates sérios entre correntes de esquerda em Portugal, não tem existido. Mesmo entre os que se dizem da esquerda socialista - espaço que corta transversalmente a esquerda do PS, o BE, a Renovação Comunista e muitos e muitos sem partido - o debate está muito reduzido ao grupo de cada um e nunca se viu algo a que pudessemos chamar de debate inter-grupo/inter-correntes ou qualquer coisa do género.
Os militantes de cada partido, grupo ou movimento parece que pertencem a cada direcção, não por culpa, só, das direcções, mas porque os próprios militantes também se põem muito a jeito!...
À esquerda, a política não deveria estar reduzida a um jogo de xadrez e, muito menos, a uma guerra do tipo clubes de futebol. A intervenção nos movimentos sociais, no processo de luta de classes, que origina programas e políticas, deveria ser o que determinaria o debate!
Claro que não é nada assim, e, quem pensa uma coisa destas, acaba por ser considerado "lunático", "idealista" e outros piropos do género ...
Já aqui defendemos a importância das esquerdas terem capacidade para definirem uma alternativa de democracia e de socialismo de poder. Já aqui apelámos, muitas vezes, ao diálogo e discussão sérias entre partidos, correntes, grupos e militantes das esquerdas.
No entanto, em véspera de eleições, o que agora surge, é um grande ruído entre dirigentes à esquerda sobre convites cruzados a militantes de um partido para integrarem as listas de outro partido.
É claro que o modo como são feitos determinados convites a troco de contrapartidas, revelam muito o carácter e a visão política de quem os fez! Mas os comentários posteriores, as acusações cruzadas, o ruído deveriam ser breves, muito breves ... toda essa algazarra perturba o debate que se quer, perturba e afugenta muita gente que já não suporta, aquilo a que a opinião pública chama de "guerras entre políticos" ...
Falamos sobre o possível/hipotético/certo convite que o PS dirigiu à bloquista Joana Amaral Dias a troco (ao que dizem!) de traficâncias no poder de Estado.
Não vemos grande problema no convite de um partido a um militante de outro partido. No caso da Joana Amaral Dias, até, ao que parece, recusou o convite. Ponto final, parágrafo!
Também não vemos grande problema no convite a Miguel Vale Almeida, ex-bloquista há três anos, que, no caso, aceitou integrar as listas do PS.
O que está em causa, foram as possíveis contrapartidas que o ACTUAL PARTIDO NO GOVERNO terá oferecido a Joana Amaral Dias para aceitar um lugar de eleição certa nas listas desse partido. Isso, a ter acontecido, é, de facto, traficar influência no aparelho de Estado por parte de um partido que, nos últimos quatro anos, ocupou (!) esse aparelho estatal.
Mas ... a Joana Amaral Dias NÃO ACEITOU!
O que seria muito interessante era ouvir, ela mesmo, a Joana Amaral Dias a contar o que aconteceu! Seria uma forma de se acabar com a algazarra e podermos discutir, à esquerda, programas, políticas e diferenças!

4 comentários:

Nuno Cardoso da Silva disse...

Há um outro partido da esquerda, que irá concorrer às eleições de Setembro, mas do qual ninguém gosta de falar: o PCTP/MRPP. Porque será que tanta gente que se diz de esquerda gostaria de o fazer desaparecer do quadro de alternativas à esquerda?

João Pedro Freire disse...

Caro Nuno Cardoso da Silva,

Pela minha parte pergunto: o que é que há a falar ou a recordar do PCTP/MRPP ? O seu actual líder ? O seu antigo "grande educador da classe operária" A.Matos? O seu programa chauvinista e patrioteiro? O culto do José Estaline ? Ou são eles que se auto-excluem ?
Uma alternativa de esquerda precisa de uma maioria social de esquerda e não, NUNCA, de auto-proclamadas "vanguardas" da classe operária!
Abraço,
João Pedro Freire

Nuno Cardoso da Silva disse...

Vejamos:

1. Qual é o problema do actual líder do PCTP/MRPP, Garcia Pereira?

2. Em que é que o PCTP/MRPP é hoje influenciado politicamente pela figura do seu antigo líder, Arnaldo de Matos?

3. Que pontos do programa do PCTP/MRPP podem ser considerados chauvinistas?

4. Se há no PCTP/MRPP quem admire Estaline - o que também acontecia na UDP, hoje integrada no BE - nunca dei por que essa fosse uma posição assumida actualmente pelo partido.

O que eu noto em Garcia Pereira e no actual PCTP/MRPP (que já me integrou em candidaturas suas, apesar de saber que sou monárquico e que cheguei à esquerda mais radical por via da Doutrina Social da Igreja e da Teologia da Libertação, e que simpatizo com o socialismo libertário) é uma enorme vontade de promover políticas autênticas de esquerda, sem concessões a oportunismos situacionistas. É uma total impermeabilidade aos aliciamentos das áreas do poder, o que tem levado ao boicote mais rigoroso por parte dos orgãos da comunicação social, e ao ostracismo a que é votado pelos outros partidos (inclusive o BE) quando se trata de debates em período eleitoral.

Se, como espero, Garcia Pereira for eleito por Lisboa para a AR, veremos como se faz oposição com base em valores e na coerência dos princípios.

Um abraço

Nuno Cardoso da Silva

João Pedro Freire disse...

Caro Nuno Cardoso da Silva,

Novamente sobre o PCTP/MRPP ... espero que valha a pena!
A actividade de Garcia Pereira como advogado é, na minha opinião, das melhores. No entanto, como líder do PCTP/MRPP, continua muito preso a determinados tiques estalinistas e outros muito snobes (lembro-me de uma entrevista à revista Expresso há dois ou três anos). Acho sintomático que mantenham no seu portal a consigna "Por um governo democrático popular". Como é sintomático que continuem a considerar como textos marxistas os textos de Estaline e de Mao Tse-Tung...
Respeito as tuas simpatias monarquicas, mas custa-me entender como é que se pode ser socialista, libertário e ao mesmo tempo monárquico.
No quadro do Bloco, sabes que pertenço a uma corrente que nada tem a ver com a UDP. A UDP também já foi estalinista, mas, neste momento, considero que tem tido uma evolução política muito interessante, nomeadamente na capacidade que já tem de fazer uma critica anti-estalinista.
Pela minha parte, como socialista libertário, as minhas referências ficam-se pelas "decorações" que encontras no TRIBUNA SOCIALISTA.
Pela minha parte, não teria qualquer problema em debater com uma corrente "PCTP" no seio do Bloco. Tenho dúvidas é que os dirigentes do PCTP queiram integrar aquilo que consideram "vanguarda" (na linha do mais puro estalinismo) no seio de um partido-movimento como o Bloco. Como já recusaram em tempos ...
Até sugiro: pergunte aos militantes do PCTP/MRPP, que conhece, porque razão não entram, como corrente autónoma, no seio do BE?
Abraço,
João Pedro Freire