tribuna socialista

quarta-feira, agosto 26, 2009

FRANCISCO LOUÇÃ: ENTREVISTA A LER NO JORNAL DE NEGÓCIOS DE HOJE!

A entrevista de Francisco Louçã, inserida na edição de hoje do JORNAL DE NEGÓCIOS é uma excelente peça para se compreender melhor as ideias e as propostas do Bloco de Esquerda.

Eis algumas ideias que selecionamos:


O APOIO ÀS PMEs


"Pergunta: E como combatia a crise que afecta as pequenas e médias empresas?

Resposta: O que as pequenas e médias empresas precisam é do acesso ao crédito. Temos de trasnformar o sistema de crédito. A proposta que fiz foi que os quatro mil milhões de euros, destinados à capitalização dos bancos e que não foram usados, fossem utilizados para um aumento de capital da CGD. Para o banco público promover o suporte da economia, cobrando o crédito à taxa que lhe permita remunerar o capital e pagar os seus custos"


O BPP E O BPN E O SECTOR FINANCEIRO


"Pergunta: O que faria de diferente no BPP e BPN?

Resposta: O Banco Privado Português devia ter encerrado as portas. Devia ter pago as suas garantias e dívidas e devia ter-se levado aos seus accionistas a responsabilidade, no âmbito legal, pelo buraco que está criado. Esta situação de suspender os pagamentos significa incapacidade de de decisão. E perante uma crise no sistema financeiro, a incapacidade de decisão é o pior dos pecados possíveis. A nacionalização do Banco Português de Negócios trasnformou-se numa imensa contaminação das contas públicas. Ainda não chegou lá porque é, para já, a CGD que está a financiar o banco. Mas acho extraodinário que, quando se colocava a opção de nacionalizar ou não a Sociedade Lusa de Negócios ou só o BPN, a escolha do Governo foi "vamos nacionalizar o prejuízo". Quando devia ter sido sobre o conjunto do grupo"

"Pergunta: Com o discurso que tem assusta os grandes capitalistas e isso pode prejudicar ainda mais a economia ...

Resposta: Não me venha com isso. Eles é que estão a assustar o País. Os melhores capitalistas, que eram homens com cursos de cristandade e da Opus Dey, assaltaram o seu banco, o BCP. Não me venham dizer que assusto por falar do que eles receberam. Jardim Gonçalves tem 40 guarda-costas pagos pelo BCP, para a vida inteira. Depois de ter sido corrido por ter as contas falsificadas."

NACIONALIZAÇÃO DAS ENERGIAS

Pergunta: E a nacionalização da Galp e da EDP não destruía a bolsa ?

Resposta: É inaceitável pensar em nacionalizar ou privatizar qualquer empresa por causa dos seus efeitos no mercado financeiro. Com essa lógica tinha de se privatizar toda a segurança social.


Pergunta: Esta "desprivatização" da Galp e EDP seria um confisco ou uma compra ?

Resposta: Há várias formas possíveis. De Gaulle nacionalizou sem indemnização"


"Pergunta: Uma política coerente à esquerda não faria cair a bolsa, fugir os capitais ...

Resposta: O que o Bloco defende são políticas sensatas. Não se vê nelas nenhuma que prejudique que não os interesses dos que vivem do saque económico ou do não pagamento de impostos. O levantamento do segredo bancário provoca a fuga de capitais? Desde quando? Temos de ter um controlo sobre as trasnferências de capitais. Porque é que, se compro um carro, tenho de o registar e alguém que aplica um milhão de euros pode fazê-lo secretamente?"

BLOCO DE ESQUERDA E PCP: AS DIFERENÇAS ....

"Pergunta: O que diferencia o Bloco do PCP?

Resposta: O projecto. Para o Bloco, o socialismo é o anti-capitalismo, é o combate à exploração social, é uma política de justiça, transparência e democracia económica. E é ao mesmo tempo de rejeição do modelo da China ou da União Soviética. O socialismo não é compatível com uma polícia secreta ou com a censura ou com a proibição de sindicatos. O socialismo é uma forma de democracia e só pode ser democrático"

NÃO A ALIANÇAS PÓS-ELEITORAIS

"Pergunta: Coloca a hipotese de fazer parte de um Governo de José Sócrates?

Resposta: Já disse que não. Sou opositor à política deste Governo que considero de irresponsabilidade económica, ingovernabilidade e instabilidade social.


Pergunta: Pode haver maioria absoluta nas próximas eleições?

Resposta: Não há nenhuma hipotese.


Pergunta: Um governo minoritário significará instabilidade política?

Resposta: Não. Instabilidade temos agora."

COMENTÁRIO TRIBUNA SOCIALISTA:


De uma forma geral, as posições de Francisco Louçã são muito claras e objectivas relativamente ao sentido das políticas propostas pelo Bloco de Esquerda. São claras e propiciam condições de um debate sério não só à esquerda , mas também no plano nacional.

Um único comentário mais critico, voltamos a fazer no que diz respeito aos cenários pós-eleições.

É hoje um dado, mais ou menos, aceite por todos os quadrantes que as próximas eleições legislativas não darão uma maioria absoluta ao PS nem a nenhum outro partido.

Partilhamos também a oposição a qualquer aliança com o PS de José Sócrates, o responsável pelo estendal de políticas neo-liberais e de submissão aos lobbies económico-financeiros desenvolvidas nos últimos quatro anos.

Mas numa perspectiva de esquerda, o Bloco, na nossa opinião, deveria assumir uma posição clara de defesa de uma alternativa de governo de esquerda, apelando à convergência entre socialistas, comunistas e todos os que querem outras políticas. Não se trata de um mero somatório de deputados da nova Assembleia da Republica para uma "maioria parlamentar de esquerda", mas antes, uma consequência de uma maioria social de esquerda que exige outras políticas de sentido inequivoco democrático e socialista.

Há uma imensidão de pessoas que têm sofrido os efeitos da crise e que não compreendem porque é que a direita se une e as esquerdas passam a vida a falar cada uma para seu lado, cada qual, falando numa "alternativa" que ninguém vê explicada, nem que tem qualquer tradução em políticas que combatam eficazmente o desemprego, a precariedade e que qualifiquem a democracia e os serviços públicos.

4 comentários:

Nuno Cardoso da Silva disse...

Correndo o risco de ser novamente acusado de críticas pouco honestas ao BE, não posso deixar de comentar a seguinte afirmação de Louçã:

"A proposta que fiz foi que os quatro mil milhões de euros, destinados à capitalização dos bancos e que não foram usados, fossem utilizados para um aumento de capital da CGD. Para o banco público promover o suporte da economia, cobrando o crédito à taxa que lhe permita remunerar o capital e pagar os seus custos."

O que me choca é a aceitação do princípio da remuneração do capital. A não ser que seja um "lapsus linguae", o que seria de estranhar da parte de um economista. O que seria aceitável seria uma taxa para cobrir o risco de incumprimento por parte do devedor, mas isso não pode nunca ser classificado de "remuneração do capital". Na visão de esquerda o capital - produto da apropriação das mais valias do trabalho - não pode nunca ser remunerado. Ou será que os conceitos de esquerda já não têm pleno cabimento no Bloco de Esquerda?

João Pedro Freire disse...

A remuneração capital por parte de uma instituição financeira pode incluir o cumprimento da expectativa de rentabilidade por parte do(s) accionista(s) e/ou pode limitar-se ao pagamento dos "seus custos". No caso de uma CGD pública e gerida de uma forma democrática e voltada para o interesse público, não se coloca nunca a remuneração do capital no interesse do(s) accionista(s). E isso teria, desde logo, repercussões muito positivas na formação das taxas sentidas por particulares e empresas, numa óptica de dinamização e de desenvolvimento da economia.

Nuno Cardoso da Silva disse...

Caro João Pedro Freire,

Não quero esfregar sal na ferida, mas o que o Louçã disse foi: "...cobrando o crédito à taxa que lhe permita remunerar o capital "e" pagar os seus custos."

Ou seja, não se trata apenas de cobrir os custos da actividade da CGD (inclusive o risco de incumprimento), mas também de permitir uma remuneração líquida do capital. Pelo que o meu amigo escreveu, parece-me que concorda com a inaceitabilidade dessa remuneração, e que portanto tem, pelo menos, dúvidas quanto à correcção da formulação do Francisco Louçã. Com o que me congratulo.

Mas espero que isso o ajude a campreender a razão pela qual não me sinto confortável com a acção política do BE. O convívio diário com a burguesia capitalista e seus representantes na AR parece estar a arrastar o BE para cedências perigosas, ou pelo menos para a adopção de uma linguagem que se presta a equívocos. É por isso que, tendo chegado a pensar em apoiar o BE, acabei por me decidir pelo apoio à candidatura do PCTP/MRPP.

Anónimo disse...

E já agora esta ao Expresso:
http://aeiou.expresso.pt/a-nossa-disputa-e-com-o-ps-e-o-psd=f532998
e
http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/533000

Paulo F. Silva