tribuna socialista

sábado, janeiro 16, 2010

SOBRE A RE-CANDIDATURA DE MANUEL ALEGRE

Não tenho nada, absolutamente nada, contra uma candidatura de Manuel Alegre que representasse um passo unitário das esquerdas nas presidenciais. Até já votei Manuel Alegre. E , quando estive no PS, ajudei na sua campanha para secretário geral.

Mas o percurso de Manuel Alegre, desde as últimas presidenciais e até depois da candidatura a secretário geral do PS, levanta muitas dúvidas. É um facto que fez muitas declarações contra aspectos políticos da governação de Sócrates. Mas também votou sempre, nos momentos politicos mais substanciais, a favor do governo PS. E, nas últimas eleições legislativas, até fez campanha ao lado de José Sócrates. Ora José Sócrates é um factor de divisão à esquerda, porque é responsável por políticas nada de esquerda e muito menos socialistas. José Sócrates tem essa monstruosidade do Código do Trabalho que não é nada que não se note e que não doa. Mesmo depois das últimas eleições legislativas, e, com uma maioria confortável à esquerda no Parlamento, José Sócrates e a direcção do PS têm preferido localizar a governação nos braços de um "bloco central", PS/PSD, nunca sufragado!

Por isto, Manuel Alegre deve algumas explicações ao povo de esquerda sobre os compromissos que assumiu ou que assumirá com a direcção do PS. Porque uma candidatura comum das esquerdas não é propriedade de nenhum partido e tem de ser clara e transparente! E o povo de esquerda espera que, finalmente, uma candidatura desse tipo inverta o sentido das políticas dos últimos anos. Espera-se que uma candidatura vitoriosa das esquerdas abra um novo período de políticas e de vontades a favor dos trabalhadores e de todas e de todos os que passaram a vida a apanhar com as consequências de políticas neo-liberais, mesmo quando executadas por políticos ditos socialistas.

Manuel Alegre é candidato. É um facto ! Mas convém frisar que a sua candidatura é o resultado, não de um movimento social que o exigisse à esquerda, mas da pressão dos seus próprios apoiantes do MIC e da corrente do PS "Ops!".

É por isso que é muito importante, fundamental, que essa candidatura abra as portas ao debate à esquerda, a todas as esquerdas. Para que seja uma candidatura que emane do social e não do cozinhado de qualquer estrutura partidária.

Um processo desse tipo, mobilizará !

Sem esse processo, e, só com declarações de quase veneração ao candidato, sem se saber qual o seu programa, os seus apoios e os seus objectivos, não haverá unidade das esquerdas e, no plano social, os resultados serão muito pouco mobilizadores!

Na minha opinião, é muito redutor que os apoiantes que se perfilam em torno de Manuel Alegre, reduzam o seu programa e objectivos a uma derrota de Cavaco Silva. É preciso muito mais! É preciso derrotar Cavaco Silva (se ele se recandidatar!), é preciso derrotar qualquer unidade da direita, mas também é preciso derrotar as políticas de direita de um governo dito de esquerda.

Um candidato a Presidente pelas esquerdas não pode ficar pelo que todos os presidentes fazem: jurar a Constituição! Já vimos e sentimos que, na prática, isso nada significa !

Será que um Presidente com vontade de esquerda não apelaria à cooperação entre os partidos da maioria de esquerda no Parlamento, para vencer a crise? ou ficaria também, como fez Cavaco Silva, por um apelo abstracto "entre todos", dando, a partir daí, ânimo à formação do actual "bloco central" da governação ?

Um candidato das esquerdas a Presidente tem de ser firme, convicto e mobilizador num sentido democrático e socialista. É um Presidente de todos os portugueses! Mas, neste momento, para atingir esse objectivo, precisa de ter coragem e tomar o partido da maioria social que busca à anos e anos uma nova geração de políticas e por uma cidadania onde a participação democrática e social passe a ser exercida sem restrições.

Para já, pergunto: será que Manuel Alegre está disponível para este combate ?

João Pedro Freire

3 comentários:

oga disse...

Nunca votei em Manuel Alegre, mas apoio a sua candidatura. A união da esquerda é uma questão importante e possivel, não desperdissemos esta oportunidade.
Contem comigo de forma activa.
Orlando Almeida

Nuno Cardoso da Silva disse...

A situação política, económica e social em Portugal exige o reaparecimento de uma proposta política revolucionária, no sentido de provocar uma ruptura com o actual sistema. Para isso é preciso um Partido de esquerda que se assuma como revolucionário, e um candidato à Presidência da República que faça o mesmo. Manuel Alegre não corresponde a essa necessidade. E o BE corresponde?

Francisco Gonçalves disse...

Que ninguém sinta qualquer comichão em dizer que não vota Manuel Alegre, eu não voto e isso não perturba as minhas convicções.
E porque a Esquerda não é nenhuma tribo nacional, entendo que o seu candidato deva ser uma figura que possa unir os Portugueses, que vá para lá dos nossos interesses partidários (para aqueles que os têm), não precisa obviamente de ser um “merceeiro” pois certamente “há vida para além do défice”, menos para aqueles a quem a Banca vai fechando as portas, ou para aqueles outros a quem o “défice”, implicará no curto prazo, um maior valor do empréstimo da casa…
A Esquerda não pode ser refém dos “galões” deste ou daquele anti-fascista de longa data, nem os Portugueses merecem ser conduzidos por gente que passa o tempo a olhar pelo retrovisor, e a lembrar-nos daquela acidente que ultrapassamos à mais de 35 anos, detesto gajos desatentos com aquilo que supostamente deveriam estar a fazer…
Portugal não tem problemas com a sua história, qualquer que seja a visão que dela temos, os nossos problemas estão centrados no presente e no futuro que queremos legar aos nossos filhos.
O candidato das Esquerdas deverá ser alguém que tenha moral e credibilidade suficiente para dizer basta ao desvario de alguns tipos que entenderam fazer da política profissão, pois eventualmente perdemos uns bons maquinistas e ganhamos uns maus guarda freios…