tribuna socialista

domingo, junho 19, 2005

100 dias de Sócrates: golpe de estado liberal no PS, mais e o mesmo liberalismo no País!


Os primeiros 100 dias do Governo Sócrates são a história do não cumprimento das promessas eleitorais feitas há quatro meses mas também o não cumprimento de outras promessas feitas por Sócrates aos militantes socialistas durante a campanha interna no PS para a eleição de secretário-geral.

José Sócrates teve uma eleição histórica como secretário-geral do PS, mas a sua direcção política não soube continuar a onda de democracia e de participação dos militantes que a sua eleição representou. Depressa, demasiadamente depressa, os militantes foram colocados em segundo plano e as decisões passaram a ser exclusivo de ilunimados dirigentes. O PS, por culpa da direcção de Sócrates, voltou aos dias da inexistência de debate político. Exemplo dessa falta de debate é o que se passa com a preparação das eleições autarquicas (o caso do concelho de Matosinhos é ilucidativo do modo como a opinião dos militantes é desprezada e não ouvida) ou com a questão europeia.

José Sócrates conquistou pontos a seu favor, nos primeiros dias de primeiro-ministro, mostrando contenção no que dizia e no modo como falava. Todos ainda nos lembrávamos do reinado de Santana Lopes. Mas passados 100 dias, o silêncio de Sócrates começa a ser excessivo e muito misturado com estudos encomendados a "doutas" e "independentes" comissões, com conclusões que parecem servidas como justificação para a implementação de medidas que nunca constaram do programa eleitoral de Sócrates como candidato a secretário-geral do PS ou como candidato a primeiro-ministro.

Enquanto isso, a direcção do PS encarrega-se de promover, no interior do partido, o deserto de ideias, a falta de debate e o desaparecimento de qualquer restia de democracia. O próprio processo de eleição do secretariado de secções e núcleos é adiado por forma a não se correr o risco de se mostrar para o exterior qualquer voz ou vozes dissonantes!

José Sócrates como primeiro-ministro é, de facto, e no plano pessoal, diferente de Santana Lopes. Mas isso, só por si, não o torna alternativa, já que, no plano das políticas, em nada se diferencia de Santana Lopes. Um parece a continuação do outro só que ... mais contido!

José Sócrates e a sua direcção no PS parecem estar a desenvolver algo comparável a um "golpe de estado" interno no sentido de tornar um partido com uma base social trabalhadora e com vontade política de esquerda, limitado/atado aos ditames de políticas e lógicas liberais, cheio de fraseologia social e de esquerda, mas só isso!

Olhem para o modelo de PS que Sócrates e os actuais dirigentes socialistas querem impor e, a partir daí, podem imaginar também o que pretendem para o País.

O que mais impressiona é a aparente passividade de Manuel Alegre e dos seus apoiantes mais próximos. Onde está a força de ideias que mobilizou um importante número de militantes para um PS colocado à esquerda, comprometido com a sua base social, comprometido com o socialismo democrático, comprometido com um projecto de mudança? Onde estão as promessas de organização desses militantes para que o movimento criado à volta de Alegre não morresse? Será que o preço para esse aparente (será?) silêncio de Manuel Alegre encontra justificação na nomeação por Sócrates de dirigentes socialistas que lhe estão próximos para lugares de reponsabilidade no parlamento e no governo?

O Partido Socialista tem um património construido pelos seus militantes que não pode ser ignorado sempre que vai para o governo. Um património de mudança política e social num sentido democrático e socialista que tem sido sempre esquecido, sempre que o PS é governo. Porquê? Será inevitável? Será que o PS enquanto Partido Socialista tem sempre de situar as suas políticas governamentais no mesmo quadro das políticas dos governos de direita? Será que mesmo perante um cenário de crise, as respostas do PS no governo têm de ser sempre parecidas/semelhantes/iguais às dos governos de direita?

Os trabalhadores têm razão quando se manifestam e chamam "mentiroso" a José Sócrates. É que não há paciência para se ver o que vê quatro meses, isso, só quatro meses, depois de uma campanha eleitoral em que foram feitas promessas que, até parece, Sócrates já sabia que não as ia cumprir!

Este País precisa urgentemente de um governo de esquerda com um programa e políticas socialistas e de esquerda. É que também há políticas de esquerda e socialistas para o combate a crises económicas e financeiras!

Para esse governo alternativo, é fundamental, é imprescindivel, a participação e o contributo dos militantes do Partido Socialista. Mas não da sua actual direcção liberal !...

Posted by Hello

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