tribuna socialista

quarta-feira, junho 15, 2005

EUROPA: LUFADA DE AR FRESCO ?

As vontades populares francesa e holandesa foram inequívocas com o NÃO à dita Constituição Europeia.

Foram expressão popular e democrática de um NÃO que também revelou que existem discrepâncias evidentes entre as vontades parlamentares e as vontades populares directas. Se em França e na Holanda os respectivos Parlamentos se tivessem pronunciado, teriam dito SIM...

Na Europa construída pelos liberais de todas as cores, é uma evidência crescente o déficit democrático quanto à participação cidadã, é uma evidência o esvaziamento democrático do único orgão europeu eleito directamente, o Parlamento Europeu, é também uma evidência a burocratização e afastamento dos cidadãos europeus por parte de quase todos os orgãos europeus. Os dirigentes europeus exibem diáriamente tiques de burocratas colocados num pedestal inatingível pelos cidadãos europeus ...

Perante um cenário destes, é claro que os NÃO francês e holandês significam uma clara reviravolta democrática, um claro basta dos cidadãos perante uma construção europeia que tem passado ao lado da democracia enquanto expressão directa da vontade popular.

A seguir aos NÃO francês e holandês, Tony Blair pediu uma "pausa", o presidente checo declarou o fim do actual processo de consulta, o presidente alemão fez marcha atrás à decisão do parlamento alemão que tinha dito SIM, Durão Barroso também voltou atrás e adoptou a mesma posição de Blair ... ou seja e mais uma vez, eis o poder que os cidadãos têm quando resolvem intervir e manifestar a sua vontade!

É uma lufada de ar fresco! É uma machadada na construção liberal e não democrática da Europa!

Só que temos muitas dúvidas sobre a capacidade reflexiva dos dirigentes europeus que têm liderado uma "construção" europeia que nunca prestou a mínima atenção ao que queriam e querem os europeus.

A Europa precisa de uma refundação democrática! Necessita da participação democrática e cidadã de todos os povos europeus!

Os partidários do "sim" costumam dizer que o "Não" não tem projecto europeu. É claro que não!Há vários NÃO como há vários SIM. Mas a melhor forma de dar expressão democrática a essas pluralidades é convocar eleições gerais europeias para um Parlamento com poderes constituintes. Veremos então o que é que de concreto cada "não" e cada "sim" defende e qual o voto que recolhe dos cidadãos europeus.

Sem comentários: