tribuna socialista

quarta-feira, agosto 11, 2004

A ALTERNATIVA DE ESQUERDA: O QUE É ... NA NOSSA OPINIÃO!

José Socrates considerou que as propostas de Manuel Alegre sobre hipotéticas alianças à esquerda (PCP e BE) eram "erros políticos". Segundo Sócrates, tais alianças só deveriam ser ponderadas após as eleições e desde que o PS não obtivesse maioria absoluta.

DEMOCRACIA & SOCIALISMO (D&S) não está de acordo e explicamos porquê.

José Socrates tem da democracia uma visão aritmética e exclusivamente parlamentar. A democracia, na nossa opinião, é muito mais do que isso. O acto de votar exprime a opinião e a vontade de cada cidadão num dado contexto e o somatório de votos significa uma vontade colectiva, uma base social, com sinal político que deve ser correctamente interpretado.

A esquerda não é o PS só por si. Como também não é o PCP e o BE, cada um por si.

A esquerda são as esquerdas parlamentares e as esquerdas (nomeadamente as sociais e as sindicais) que não estão representadas no Parlamento e/ou em partidos.

Uma alternativa de esquerda não é representada só por um partido, mesmo que esse partido reuna uma maioria absoluta. A maioria absoluta no PS, por exemplo, no actual contexto de maioria de direita, representa a concentração de votos diversos das esquerdas no partido de esquerda com mais probabilidades de vencer, só por si, a coligação de direita.

Ou seja, há eleitores do PCP, do Bloco de Esquerda e de outras esquerdas que votam no PS numa perspectiva de concentração de votos contra a direita.

O mesmo já conteceu em todas as eleições presidenciais, nas quais a direita nunca conseguiu eleger o seu candidato. Precisamente devido à tal concentração de votos diversos das esquerdas.

A grande questão que se coloca é: como traduzir essa concentração de votos das esquerdas num novo governo alternativo à direita?

Nunca no nosso país, houve a preocupação política de traduzir na formação de um governo de esquerda a maioria social de esquerda que anseia por politicas de esquerda, de mudança social e claramente alternativas às que a direita produz.

Um governo PS sózinho não traduz a vontade dessa maioria social. Embora, na nossa opinião, seja importante que sózinho o PS consiga maioria absoluta.

Com maioria absoluta ou sem ela, o PS deveria convidar os partidos de esquerda representados na A.R. para uma discussão com vista a uma alternativa de governo. O objectivo seria a tradução na constituição do governo da maioria social de esquerda saída de eleições. Mesmo sem o objectivo da formação de um governo, esse convite às esquerdas deveria estar permanentemente organizado num Fórum das Esquerdas, onde participariam todos os partidos, movimentos e grupos sociais e políticos que quisessem, em condições de igualdade, transparencia, respeito mútuo e democraticidade.

Um governo das esquerdas estaria em condições de assegurar estabilidade política e estabilidade social para a implementação de profundas reformas sociais, políticas, económicas e culturais na perspectiva do interesse da maioria deste País.

E aqui, é preciso abordar um outro aspecto essencial desse governo: que programa e que políticas?

Somos de opinião que um governo de esquerda deve assumir um claro compromisso de respeito pela vontade e os interesses da sua base social e, como tal, deve produzir um conjunto de políticas que possibilitem reformas num sentido contrário a uma perspectiva liberal/capitalista, assegurando um respeito rigoroso pelo pluralismo, pelas liberdades democráticas e pelas diversas formas de democracia e de participação cidadã.

A questão das políticas é uma questão vital para o êxito de um governo de esquerda, já que tem sido por essa via que os governos PS sózinhos têm falhado de uma forma objectiva.

Nesta perspectiva de governo e de políticas, somos de opinião que o Partido Socialista deveria manter sempre um distanciamento crítico relativamente ao governo. Apoiando o governo, mas mantendo sempre uma ligação clara ao sentir da base social. Sendo assim, consideramos que as figuras de "primeiro-ministro" e de "secretário-geral" do PS, devem ser ocupadas por duas pessoas distintas, mantendo-se entre elas um diálogo permanente.

Esta é, sintéticamente, a nossa visão de uma alternativa de esquerda com um programa e políticas de esquerda, na qual o Partido Socialista deveria asumir uma iniciativa liderante. Lutamos por uma alternativa e não por uma alternancia entre parecidos ...

João Pedro Freire
Militante nr.3760





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