tribuna socialista

domingo, agosto 22, 2004

PALAVRAS OCAS ...

Mesmo em férias, é impossível ficar insensível ao debate que percorre (ainda bem!...) o Partido Socialista, a propósito do seu Congresso Nacional.

Neste debate, algumas intervenções de mediáticos apoiantes de José Socrates resumem-se a autenticos ... jogos de palavras. Palavras que, tornadas ocas, podem ser utilizadas para as mais variadas finalidades!

Sempre foi assim e assim sempre o será: aqueles que há muito abandonaram o socialismo como programa e como referencial para a luta diária e para as políticas que se propõem, gostam de promover autenticos branqueamentos da História e de factos que, com o tempo, pensam que podem voltar a ser usados de uma forma que contradiz o momento em que aconteceram!

Alberto Arons de Carvalho veio ao Público elogiar os governos de António Guterres como os governos "mais à esquerda" que o PS alguma vez conseguiu. É claro que Guterres é muito diferente de Durão Barroso ou de Santana Lopes. Mas, convém não esquecer, que as políticas dos governos Guterres não são alternativa às políticas de Durão ou Santana. Até porque foram as políticas de Guterres que abriram o caminho aos governos da coligação de direita. Quanto às políticas desses governos, convém também lembrar que:
  • políticas sociais, como o Rendimento Mínimo Garantido, foram bem depressa atacadas pela direita e esvaziadas/destruídas pelo governo da coligação de direita;
  • políticas económico-financeiras, do tipo "queijo limiano", de cedência aos lobbies da banca e de muito pouca firmeza para uma reforma fiscal radical, foram, em quase tudo, adoptadas pela direita...

Os governos Guterres não foram os governos "mais à esquerda" que o PS teve ... é verdade, que também é muito dificil encontrar outros governo PS à esquerda ... Acabou-se sempre, por este motivo ou pelo outro, por se avançar com políticas que a direita não teria coragem de realizar ... Coragem ? Patriotismo ? Não e não! Tão-só, incapacidade política para se mostrar como é que um partido de esquerda, como o PS, resolveria situações de crise económica ou outras!

O processo que levou à eleição de Guterres como primeiro-ministro, com os Estados Gerais, é uma experiência que merece ser aperfeiçoada para ser repetida. A experiência dos governos Guterres, quanto às suas políticas (ressalvando as àreas sociais), não deve ser repetida, deve ser evitada!

José Socrates, por seu lado, recuperando o lado mau das políticas dos Governos Guterres, resolve fazer oposição a Santana, usando uma linguagem abstracta que prenuncia uma perspectiva de governação igualmente abstracta, ou seja, distante do que deve ser uma governação de esquerda com políticas comprometidas com uma perspectiva de transformação democrática e socialista da sociedade. Segundo o Público, Socrates considera que Santana é "mau" porque "não governa bem"!... Elucidativo!!

Extraodinário e hilariante, na minha opinião, continua a ser o uso e abuso do termo "moderna/moderno" sempre que se usam os termos "esquerda" e "socialismo" ... Quando explicam essa "modernidade" fica sempre a dúvida: será que moderno é aquilo que se baseia na manutenção da economia de mercado, como se nada pudesse existir para além dessa matriz?

Economia de mercado, i.e. capitalismo, i.e. liberalismo, i.e. realidade contra a qual se ergueu o Socialismo como a alternativa sinónimo de melhor democracia, mais participação, mais igualdade!

Lembro-me, dos meus tempos de militante da Juventude Socialista (no tempo de Arons de Carvalho e também do Paulo Pedroso, do António José Seguro, do José Apolinário e da Margarida Marques) , quando definiamos e precisávamos o que era o Socialismo rejeitando-se as caricaturas estalinista e social-democrata. Uma totalitária e a outra sem capacidade para cortar com o liberalismo. Na minha opinião, trata-se de uma noção de Socialismo actualissima. Mais, que elege o Socialismo como o mais jovem, inovador e mobilizador desafio!

João Pedro Freire

Militante nr.3760

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