tribuna socialista

domingo, outubro 24, 2004

BUTTIGLIONE, ANTÓNIO VITORINO E O DEBATE NECESSÁRIO SOBRE A EUROPA!

" O futuro presidente afirmou por outro lado que atribuiu a pasta da Justiça a Buttiglione por sugestão do actual titular, o ainda comissário português António Vitorino. "Foi ele que que me aconselhou o senhor Buttiglione como comissário para a Justiça", afirmou Barroso, sublinhando, para provar que convicções não determinam políticas, que se trata de um socialista laico, ou seja, com ideias nos antípodas das do comissário italiano" (in Público, Sexta-Feira, 22.10.04)

Tudo o que já tem sido dito e escrito à volta da indigitação de Rocco Buttiglione para a pasta da Justiça da Comissão Europeia presidida por Durão Barroso, revela que a discussão sobre a construção europeia deve ser retomada, relançada ou reiniciada com a participação o mais alargada e democrática de todos os cidadãos europeus.

A escolha de Buttiglione, um italiano da direita mais reacionária, por Durão Barroso, não é surpresa. Corresponde e confirma o que já sabiamos de Durão Barroso enquanto primeiro-ministro português e líder da coligação de direita no governo em Portugal: a construção europeia que pretende nada tem a ver com uma perspectiva de Europa Democrática e Social!

Mas o texto do Público que inicia esta peça e o que ouvimos na TSF na boca do próprio António Vitorino, é inquietante para qualquer socialista. Porque continuamos sem aceitar que um socialista possa ter a mesma visão de construção europeia que tem um político de direita. E também, pior ainda, não podemos aceitar que os socialistas possam ser confundidos com uma Europa que se tem esquecido da participação democrática e cidadã e da prioritária vertente social para as reformas e políticas que preconiza.

A actual "construção europeia" foi severamente punida com os níveis de abstenção verificados nas últimas eleições europeias de Junho passado. As cidadãs e os cidadãos europeus, pura e simplesmente, desinteressaram-se de uma Europa, construída como os liberais e a direita gostam, que também não revela interesse pela participação cidadã. O "espectáculo" mediático em torno da escolha da próxima Comissão Europeia só contribui, ainda mais, para o afastamento dos cidadãos da construção europeia e coloca, ainda mais longe, a vertente social.

Esta "construção europeia" não é nem pode ser apresentada como a "única possível" ou como aquela que "inevitávelmente" os socialistas apoiam. Os socialistas devem discutir clara e abertamente como deve ser a Europa Democrática e Social que pretendem. Por exemplo, dois factos merecem discussão no seio do PS:
  • A abstenção preconizada por António Costa, da nova direcção do PS e eurodeputado, face à escolha de Durão Barroso para Presidente da União Europeia, só porque "é português". Será que o que é mau cá dentro, passa a bom lá fora? Será que o "ser português" é sinónimo de execução de políticas que os socialistas devam apoiar?
  • Porque razão António Vitorino, socialista e actual responsável pelo pelouro da Justiça na Comissão Europeia, sugere para seu sucessor um individuo conotado com o que de mais reacionário existe? Porque razão, não aproveitou a oportunidade para manifestar a sua oposição à futura Comissão Europeia de Durão Barroso, vincadamente liberal e de direita? Porque razão não foi solidário com as críticas à escolha de Buttiglione que surgiram do lado dos eurodeputados socialistas?

São dois factos que exemplificam a necessidade de um debate sobre a construção europeia e a Europa no seio do PS. Porque também quanto a esta questão, as sucessivas direcções socialistas e, particularmente, a actual de José Socrates, se têm encarregado de tornar o PS cada vez mais igual com o PSD. E fazem-no, evitando o debate com os militantes. O que é inaceitável, já que estamos perante um tema de evidente importância nacional.

Num momento em que se começa a falar de marcação de um referendum nacional sobre o chamado Tratado Constitucional Europeu (redigido por uma comissão não eleita e presidida pelo liberal Giscard D'Estaing), é lamentável que os novos dirigentes do PS, continuem a evitar o debate ao mesmo tempo que lançam, como verdades, ideias sobre a Europa que em nada se diferenciam das da direita e do seu governo.

Deixamos um APELO: repitam sobre a Europa, o debate que se conseguiu para a eleição do secretário-geral!

João Pedro Freire

(Editor de DEMOCRACIA & SOCIALISMO)

Militante PS nr.3760

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