tribuna socialista

domingo, janeiro 23, 2005

E UM CHOQUE ANTI-CAPITALISTA? ...


Entre tantos choques já anunciados - o tecnológico, o de gestão e o fiscal - fica por saber se alguém terá a coragem política de anunciar um choque anti-capitalista!

Todos parece que se limitam a anunciar medidas e mais medidas, nenhuma delas nova ou inovadora, todas elas situadas nos limites desta economia a que chamam de mercado.

Que a direita continue a descobrir "soluções" num sistema que só tem gerado crise, não nos espanta. Limitam-se, com maior ou menor retórica, com maior ou menor demagogia & mentira, a defender o seu sistema, a sua ordem das coisas!

À esquerda, nas esquerdas, a opção quase que acritíca pela(s) lógica(s) da economia de mercado, é já mais preocupante. Porque economia de mercado e reformas sociais profundas que são urgentes, é algo de contraditório. A Física tem um principio que se aplica aqui: o da impenetrabilidade que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo!
Em matéria de reformas sociais, as políticas e as formulas políticas para as conseguir esbarram, não podem ocupar o mesmo espaço, dos que condicionam tudo ao discurso do "corte" nas despesas públicas.

O Partido Socialista, partido com mais responsabilidades políticas porque com mais possibilidades de formação de um novo governo, corre o risco de, com o programa que apresentou, voltar a repetir, para pior, as políticas que levaram Guterres à derrota. Para a direcção de José Socrates e dos principais convidados das "Novas Fronteiras", parece que, para lá da economia de mercado, não existe mais nada! As receitas são preocupantes para quem queria ver o PS a defender políticas de esquerda e de afirmação socialista:

  • anunciam-se cortes na despesa pública, sendo o mais saliente a anunciada redução dos efectivos da Função Pública. Fala-se em reduções de 75.00o trabalhadores, mas não se explica como é que isso acontecerá tendo em conta sectores onde há escassez de trabalhadores, como é o caso da Saúde ou da Educação.
  • na saúde fala-se em "avaliar" a experiência dos hospitais SA transformando-os em "Entidades Públicas Empresariais", mas nada se diz de concreto sobre o reforço e a qualificação do Serviço Nacional de Saúde.
  • na Segurança Social levantam-nos muitas dúvidas a anunciada contratualização com privados da gestão de uma parte do "Fundo de Equilibrio Financeiro da Segurança Social"
  • a anunciada liberalização do mercado de gás natural, deixa também no ar a possibilidade do PS continuar a onda de liberalização abravada pelos govenos de direita.
  • a anunciada revisão do Código Laboral é vaga e, por isso mesmo, preocupante para qualquer trabalhador de qualquer sector.

São alguns exemplos de receitas com eficácia duvidosa, desde um ponto de vista socialista, para se atacar uma crise que é endémica ao sistema de onde surge. Mas se há receitas preocupantes, o caminho que a direcção do PS escolheu para as explicar é também preocupante. José Sócrates e a sua direcção inisistem na escolha das chamadas "elites" para conseguirem ganhar um efeito mobilizador na sociedade portuguesa. Só que falar em "elites" numa sociedade onde a grande maioria social continua a sofrer os efeitos do liberalismo, é dialogar com uma minoria (que, muitas vezes, só se representa a si mesmo ...) esquecendo o que a grande maioria tem para dizer e propor. É persistir num modelo onde a participação cidadã continua relegada para um plano secundaríssimo. Por exemplo, vemos sempre grande inciativa da direcção de José Sócrates para debater e reunir com as tais "elites" e com entidades empresariais/patronais, mas já não se vê a mesma iniciativa para se organizarem encontros com o movimento sindical, com o movimento de opinião cidadã ou até com os trabalhadores que têm sofrido os efeitos das deslocalizações que irão continuar mesmo com um governo de José Sócrates.

São dúvidas que colocamos, tal como, de certeza, deverão surgir em muitos cidadãos que não querem ver repetidos os erros do chamado guterrismo. O PS não pode continuar a ser sómente a face "mais dialogante" de um mesma moeda da qual faz parte também, na outra face, a direita liberal.

Daí que, ao Partido com mais responsabilidades políticas para a formação de um governo alternativo à direita, perguntemos: não há coragem para um choque anti-capitalista? Uma pergunta que também estendemos a socialistas como Manuel Alegre, já que, parece, que a exigência de políticas de esquerda tem vindo a diminuir à medida que a unicidade no PS impõe um discurso único e perigoso ...

Posted by Hello

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