tribuna socialista

domingo, novembro 23, 2008

REGRAS APERTADAS NO CRÉDITO FÁCIL (*)

(*) título de primeira página do Jornal de Notícias, de 23.Nov.08


Depois do que aconteceu no Millennium Bcp, do que (ainda!) acontece no BPN, do que vai acontecendo no BPP (e será que não acontecerá mais nada em mais nenhum banco e/ou empresa financeira?...), parece que o Banco de Portugal prepara-se para introduzir regras mais apertadas no acesso ao crédito.


Medidas que até se poderiam aplaudir, não fosse chegarem num momento em que o comentário mais apropriado é ... casa roubada, trancas à porta!


Ou seja, parece que, mais uma vez, a atitude por parte da entidade supervisora do sistema financeiro é reactiva e não pró-activa.


Toda a gente sabe as dificuldades por que passam as famílias e os consumidores ... dificuldades motivadas por:
  • taxas de juro (ou seja, os spreads praticados por bancos e empresas fiannceiras) elevadíssimas e definidas dentro do principio de "quem tem posses, tem uma taxa mais baixa, quem não tem, tem uma taxa mais alta"...

  • campanhas de publicidade bancárias extremamente agressivas num contexto de informação escassa, nula ou duvidosa para o consumidor;

  • completa apatia por parte da entidade supervisora, desde há demasiados anos;

  • contínua prática de contenção de salários para rendimentos de trabalho mais baixos e lucros a subir para empresas financeiras e particulares com rendimentos mais altos ... Portugal é um dos países europeus onde o fosso entre ricos e pobres tem vindo a aumentar de uma forma exponencial!

É neste contexto que o chamado "crédito malparado" tem vindo a aumentar ao mesmo tempo que os escandalos/gestão danosa nas empresas financeiras também aumenta com a descoberta de reformas e desvios super-milionários!

Ao consumidor/trabalhador de baixos rendimentos é sómente oferecido um contexto de medo e de nula informação sobre as saídas que pode ter para situações de autêntico aperto e sufoco económico-financeiro. É impossível que este cenário não produza situações simultaneamente de desespero e de revolta ...

As anunciadas medidas do Banco de Portugal para travar o crédito fácil, acabam assim por correr o risco de se virarem contra as pessoas de mais baixos rendimentos. É incontornável que muito do chamado crédito fácil, com taxas medonhas, acaba por se tornar uma espécie de balão de oxigénio para muitas pessoas, trabalhadores/consumidores, com baixos rendimentos, com súbitas dificuldades no dia-a-dia, sem recurso a qualquer poupança, impossível de existir quando salários e empregos são escassos e precários.

Para o endividamento, para o crédito malparado, as soluções terão/teriam de ser políticas e deveriam vir da parte do governo, não fosse este estar atado de pernas e mãos a compromissos neo-liberais e provavelmente a lobbies financeiros (a avaliar pela conduta do governo no que diz respeito ao caso BPN).

O próprio Banco de Portugal, enquanto entidade supervisora do sistema financeiro, precisa de uma outra atitude mais pró-activa, dependente também da iniciativa política do governo. Numa perspectiva socialista, a supervisão teria também de incorporar a inicitiva dos sindicatos bancários e até das associações de defesa do consumidor, num quadro de abolição do sigilo bancário, a começar pelas grandes fortunas.

Todas as medidas que agora se anunciam, ficam mais próximas de soluções policiais e muito longe de soluções que ataquem a raiz de todos estes problemas financeiros e sociais.

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