tribuna socialista

domingo, março 07, 2004

NOVOS RUMOS PARA A REGIÃO:

UMA BOA INICIATIVA DO PS MATOSINHOS COM MOMENTOS DE PREOCUPAÇÃO!

A Comissão Política de Matosinhos (CPC) do PS com o apoio da Federação Distrital do Porto (FDP) realizou no Sábado, 06 do corrente, um debate sobre “Rumos para a Região no Século XXI”. É uma boa iniciativa no quadro de uma série de debates que se encontram planeados. São iniciativas que demonstram que a CP do PS de Matosinhos está mais interessada em debater o concreto do que envolver-se em polémicas que só servem os que têm da política uma visão arrivista e fulanizada...

Manuel Seabra referiu e bem que “Nós preferimos assumir que há problemas por resolver em Matosinhos. Em vez de nos envolvermos em tricas prolongadas, concentramo-nos na discussão das políticas que verdadeiramente interessam ao desenvolvimento do concelho.”

A iniciativa da CPC do PS de Matosinhos levanta contudo, desde logo e para quem assistiu ao debate, uma questão importante: até que ponto uma boa iniciativa pode ter um impacto político positivo hipotecado pelo excesso de tecnicismo/tecnocratismo que domina grande parte das intervenções.

Coloca-se a dúvida sobre a capacidade política dos chamadas “grupos de trabalho” e/ou “Gabinetes de Estudo” que estão por detrás da organização logística destas iniciativas. Não se dúvida da sua capacidade técnica, duvida-se, isso sim, da sua capacidade política. Por exemplo: como se podem discutir “rumos para a região” sem o envolvimento de organizações de trabalhadores (ex.:sindicais) e só com organizações de empresários e empresários individualmente? Como se pode falar em cooperação Norte de Portugal/Galiza só com a presença de um empresário ...castelhano? Será que não seria de convidar o PSG/PSOE ou mesmo o BNG? Será que só os empresários é que podem falar de economia ou de políticas de desenvolvimento??...

O PS como partido politico socialista e de esquerda não pode sistematicamente cair, como tem caído, no distanciamento das suas iniciativas relativamente à intervenção na realidade social ou ao contacto directo permanente com a sua base social de apoio.

Boas iniciativas não podem nem devem servir para mera exibição mediática ou até como mais uma arma de arremesso das eternas guerras fulanizadas que continuam a massacrar e a enfraquecer o Partido Socialista.

Os jornais de Domimgo que se referiam ao debate não perderam a oportunidade para relembrar a guerra na autarquia matosinhense e para descobrir uma nova (?) na Federação do Porto que envolve o seu Presidente Francisco Assis e o Manuel dos Santos. Narciso Miranda, por exemplo, conseguiu marcar pontos já que conseguiu aparecer notícia com o título “Entregar 537 casas até ao final do ano” que relatava uma sua visita ao Bairro da Biquinha!

Acabem com estas guerras que não levam a nada. Deixem a democracia interna e a vontade dos militantes resolver o que burocratas já provaram que não têm capacidade para resolver.

Voltando ao debate organizado pela CPC do PS de Matosinhos.

Ideias importantes merecem ser sublinhas e trabalhadas politicamente no futuro:

• Reintroduzir a necessidade da REGIONALIZAÇÃO como instrumento de desenvolvimento e de maior democratização e participação dos cidadãos na vida política política nacional e local;
• O Partido Socialista deve abrir um debate interno e um debate nacional sobre a Regionalização como forma de explicar o seu projecto e mobilizar os cidadãos, evitando erros crassos que cometeu no passado;
• A Regionalização no quadro europeu não pode passar ao lado da necessidade de reordenamento de novas regiões com claras complementaridades, como é o caso do Norte de Portugal e da Galiza. Ou seja o novo reordenamento é, no quadro da União Europeia, supra-nacional e não só nacional. Esta é também uma forma de se contrair as novas teses sobre a “Ibéria” que alguns patrões resolveram avançar...
• As Juntas Metropolitanas, nomeadamente as de Lisboa e do Porto, devem ser eleitas por sufrágio directo. Esta é também uma forma de envolver a participação dos cidadãos num órgão que deve ser um espaço democrático de ligação política entre os diferentes concelhos.

A intervenção de alguns dos convidados revelou o perfil político de alguns deles. É importante que o PS demonstre abertura e capacidade de diálogo. Mas também aqui há algo que deve ser reorientado.

Não é verdade nem subscrevo que o relançamento económico deva assentar nas empresas e na chamada “economia de mercado” .Ou que se deva ter tanta antipatia como aquela que Oliveira Marques demonstrou relativamente a medidas planificadoras. Como socialista, considero que uma economia assente nas empresas e fora de qualquer planificação é o caminho para continuar a existir e a acontecer o que tem sido relatado em todo o lado: desemprego, deslocalização de empresas, crise, inflação, desinvestimento, especulação, evasão fiscal ...

Numa perspectiva socialista, a planificação democrática da economia é o caminho para se conseguir uma outra perspectiva de desenvolvimento económico. Garantido-se uma participação qualificada e decisória dos próprios trabalhadores. Nada disto tem a ver com perspectivas abstractamente estatizantes ou dirigistas. Não tem também nada a ver com o actual cenário imposto pela globalização liberal-capitalista.

Todos os quadros técnicos juntamente com os trabalhadores devem poder participar e decidir sobre as políticas de desenvolvimento económico e social. Uma realidade estranha ao que se verifica hoje. E que continuará a ser estranha se o Partido Socialista não tiver a coragem de demonstrar que o que defende não tem nada a ver com a direita e os modelos liberais.

João Pedro Freire – Militante nr.3760

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