tribuna socialista

sábado, abril 25, 2009

25 DE ABRIL COMO SOLUÇÃO PARA A CRISE DO NEO-LIBERALISMO! (*)

Há 35 anos, em 1974 também se falava em crise. Numa crise considerada do petróleo, mas que, tal como a actual, tinha a ver com o próprio sistema capitalista internacional. A inflação, a estagnação, as ameaças de desemprego, …, aí estavam todos os ingredientes de uma crise financeira para se transformar numa profunda crise social …

Seis anos antes de 1974, o lado ocidental de um sistema considerado próspero saído da 2ª guerra mundial (a França, a Alemanha, os Estados Unidos da América, …) , tinha também dado sinais de que a crise pode também aparecer por onde menos se pode esperar. Pode aparecer do lado da profunda insatisfação por um dia-a-dia transformado em autentica prisão ditada por tradições, modos de vida, leis bafientas, por tudo um pouco que pode tornar a liberdade, as liberdades, como algo somente formal, como algo que não se respira, não se sente e nem força anímica nos dá, a todos e a cada um, para tentarmos mudar. E mudar para algo que mude mesmo!

Há 35 anos, por cá, a crise económica e financeira dita do petróleo, também se sentiu. Mas foi enfrentada com um outro ânimo, com uma outra vontade. Cada um e todos, sentíamos que, aquela liberdade e aquela democracia, dava para assumirmos a nossa força colectiva e, nessa força, encontravamo-nos também individualmente.

Enquanto as elites de então, não encontravam o fim da crise, até porque também nunca, como agora, tinham percebido o seu inicio, eu, tu, nós, nós todos pegávamos na nossa imaginação e na nossa capacidade para começarmos a mudar um País.

Demonstrámos que liberdades e democracia devem e podem ser motores para mudar e não só para exibir sem nada acontecer. E para mudar, tentou mudar-se mesmo, começando por mudar, mandando embora os que só fizeram asneira na economia, na finança, na política … afinal foi por nunca antes ter havido liberdades e democracia que tudo estava como estava: marasmo, analfabetismo, caciquismo, tudo muito na linha daquele que dizia que o vinho dava de comer a um milhão de portugueses!

O mesmo que por estes dias e aproveitando o feriado do 25 de Abril, vai continuar a ter direito a nome numa praça que será (re)inaugurada na sua terra natal. Um acontecimento que é um acto de revisão da História, um atentado miserável à própria democracia e um insulto a todas e todos os que lutaram antes e depois do 25 de Abril de 1974 por uma sociedade de mulheres e homens livres.

Este povo que, os políticos dominantes da altura, consideravam não preparado para a democracia, conseguiu mostrar e demonstrar a sua imensa sabedoria para pegar na suas mãos o destino que só a ele pertence e que só ele sabe construir.

Há os que hoje, 35 anos depois, perante nova crise de um mesmo sistema, teimam em reduzir o que aconteceu em 25 de Abril de 1974, a excessos. São afinal os mesmos que entretanto nunca quiseram ver e nada fizeram para que o saque, a corrupção, as gestões tipo gansgster voltassem a dominar os mesmos sectores da sociedade – como o sector financeiro – que controlavam o poder político e parece que o voltaram a controlar.

35 anos depois, podemos constatar que afinal os ditos excessos cometidos no pós-25 de Abril, eram afinal a resposta popular para se construir um País novo apesar da crise económica e financeira que também existia no Mundo desses dias.

É também usual alguns falarem em “estatização” quando se fala na Revolução de Abril. Algumas mentes que até comemoram o feriado do 25 de Abril, mas só o feriado, entenda-se, associam sempre os tais “excessos” à esquerda que só pensaria no Estado. Esta é mais uma falsidade, porque, a seguir ao 25 de Abril de 1974, o que aconteceu foram inúmeras acções que representavam auto-iniciativa social, auto-iniciativa dos trabalhadores e dos cidadãos, nas empresas, nos locais de residência … porque quem afinal acabou por recorrer ao Estado foram os que especularam no sector financeiro enquanto puderam … E enquanto especulavam foram também ocupando o Estado, tornando o Estado uma autêntica coutada de uma só classe social!
Hoje, em 25 de Abril de 2009, é urgente que o povo, a energia colectiva dos trabalhadores, dos jovens, das mulheres, de todas e todos os que sofrem os efeitos da crise neo-liberal , volte a tomar em mãos a capacidade de decidir como se combate a crise, num ambiente de retorno às liberdades e à democracia que a Revolução criou.

Quando ouvimos diariamente as notícias que anunciam fechos de empresas, que multiplicam o número de desempregados, quando tomamos conhecimento dos relatos dramáticos do que é ser precário, quando ouvimos os dramas do dia-a-dia e os comparamos com as outras notícias dos bancos e das grandes empresas onde as administrações autenticamente saquearam milhões e milhões, só podemos concluir que o 25 de Abril que hoje se relembra só pode ser comemorado por todas e todos, aquelas e aqueles, que continuam a lutar para que a democracia seja efectivamente o poder exercido e controlado pelo povo e não uma espécie de circo de vaidades onde o povo só é convidado a assistir à distância.

VIVA O 25 DE ABRIL DE 1974!

QUE REVIVAM AS COMISSÕES DE TRABALHADORES, AS COMISSÕES DE MORADORES, AS ASSSOCIAÇÕES DE ESTUDANTES E TODAS AS EXPRESSÕES PRÁTICAS E CONCRETAS DE UMA AUTÊNTICA DEMOCRACIA!

VIVAM AS LIBERDADES DEMOCRÁTICAS!

(*) JOÃO PEDRO FREIRE ; intervenção como representante do Bloco de Esquerda na Assembleia de Freguesia da Senhora da Hora, Matosinhos, em 24 de Abril de 2009)



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