tribuna socialista

terça-feira, junho 08, 2010

CONVERSA DA CRISE (*)

A conversa da crise tem muito que se lhe diga. Depende do fio por onde se queira puxar o novelo e, claro, da perspectiva de cada um.

Na Comunicação Social, por exemplo, vai uma crise danada. Os despedimentos dos últimos anos chutaram centenas de profissionais que, sem alternativa, agradecem à Segurança Social o subsídio que lhes vai caindo na conta no fim de cada mês, sendo que alguns, poucos, têm logrado mudar de actividade e manter um mínimo de decência na vida que construíram. Neste sector, em Portugal, não há aquilo a que o bom senso manda designar de mercado de trabalho, pelo que uma vez na vida “marcado” por um dos três barões da Comunicação Social, “marcado” para todo o sempre. Acresce a tudo isto xis centenas de jovens licenciados que, todos os anos, são despejados pelas faculdades e que, justificadamente, lutam por um lugar ao sol. O caso é tal que a imagem comum de um grupo de hienas em disputa pelo seu pedaço de carne putrefacta se ajusta cada vez mais.

É por isso curioso, no mínimo, que, no contexto da dita crise, exista em Portugal um jornal – a “Folha de Portugal” – interessado em admitir um “Jornalista, fem./masc.s, para trabalhar em Lisboa, com disponibilidade para entrada imediata”. A “Folha de Portugal” é o semanário gratuito da polémica IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), um jornal que assume o seu ecletismo em 24 páginas com notícias de desporto, política, educação, economia, religião…

Os verdadeiros donos do mercado, que são apenas três e ocuparam as suas posições no tabuleiro há anos, não têm postura semelhante ou aparentada. Optam por outros caminhos, outros favores. O que não deixa de ser uma piada hipócrita, sobretudo quando se ouve tantos a falarem tanto de moralização e de comportamentos exemplares na vida em sociedade.

(*) Publicada por Paulo F. Silva em 8.6.10 (It's always Jalalabad)

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