tribuna socialista

terça-feira, junho 08, 2010

QUEREM "LAVAR" A HISTÓRIA ...

Este ano comemora-se o centenário da República portuguesa.

Primeira pergunta: a república começou em 1910 e continuou, sem interrupção, até aos dias de hoje?

Formalmente, sim!

Mas, na prática, o regime do chamado "Estado Novo" prolongou a República ou interrompeu-a?

Em Aveiro, terá lugar, amanhã, um desfile público onde, a propósito do centenário da República, desfilarão meninos "mascarados" com a farda da salazarista "Mocidade Portuguesa" ... será que faz algum sentido homenagear a República centenária com símbolos de um período de ditadura policial, autoritária e fascista?

Quantos dos figurantes que incluirão o desfile sabem que a "Mocidade Portuguesa" é irmã gémea da polícia política, foi uma muleta, com a Legião Portuguesa, do fascismo salazarista ?

A "Mocidade Portuguesa" não é só a exibição de uma farda!

É claro que Salazar existiu. Não pode ser ignorado! É claro que a PIDE existiu. Não pode ser ignorada! É claro que a repressão existiu, sob multiplas formas. Não pode ser ignorada! É claro que a Mocidade Portuguesa existiu. Não pode ser ignorada!

A grande questão, é que ao fim de 36 anos depois do 25 de Abril e do retomar do espírito republicano, cheira muito a lavagem ... e há um deficit imenso de preservação da memória que não esquece a repressão, as prisões políticas, a censura, ... , a par de uma informação muito retocada e arranjadinha sobre os anos do fascismo que também dava pelo nome de "Estado Novo" ...

2 comentários:

Nuno Cardoso da Silva disse...

A minha condição de académico leva-me a relativar coisas que se preferiria não relativar. Aqui vai uma dessas coisas:

A Mocidade Portuguesa era altamente criticável na sua vertente para-militar e fascista. Mas a MP não era só isso. No meu tempo ela tinha um conjunto interessante dos chamados centros especiais cuja frequência dispensava os jovens de participar nas actividades asininas de ordem unida no páteo do liceu. Incluiam-se nesses centros especiais actividades como equitação, vela, xadrez, aeromodelismo, etc. E quantos jovens não houve que, graças e eles, tiveram a oportunidade de se iniciar em desportos reservados à elite endinheirada, como a vela e a equitação. Graças aos centros especiais da MP fez-se pela primeira vez em Portugal, um esforço de democratização desses desportos, que nunca mais foi repetido entre nós, apesar da democracia política instaurada em 1974.

Não quero com isto branquear o que de condenável havia na MP, mas gostava que se reconhecesse também o que de positivo se fez à sua sombra. Se hoje fôssemos capazes de proporcionar a crianças de meios desfavorecidos as mesmas oportunidades desportivas que então lhes estavam facultadas, talvez fosse mais fácil criticar a Mocidade Portuguesa, no seu todo.

Como podem calcular, não sou um nostálgico do Estado Novo, mas incomoda-me a tentativa de condenação sistemática de tudo o que nesse período se fez. Houve experiências que bem mereciam ter tido continuidade, uma vez restaurada a democracia.

João Pedro Freire disse...

Caro Nuno,
Não estou de acordo ... é claro que durante o fascismo também se construiram estradas, hospitais, escolas, construiram-se bairros operários, houve até uma Expo ... , mas o que está em causa é toda a matriz, a lógica, a orientação que condicionavam todas essas obras!
Na minha opinião, não é possível separar a obra (qualquer que seja) do contexto que a condicionou.
Fascismo, nunca mais! Seja light, seja hard, seja o que for ...
Abraço,
João Pedro Freire