tribuna socialista

domingo, março 20, 2005

ISTO É "ECONOMIA DE MERCADO"; ISTO É ECONOMIA ASSENTE NAS EMPRESAS...

As primeiras páginas de hoje (Domingo) do Jornal de Notícias e do Público exibem dois titulos de notícias que são dois exemplos das consequências de uma economia assente nas empresas e no mercado. A chamada "economia de mercado" que muitos teimam em fazer crer como o único sistema "viável"...

Os cortes na chamada "despesa" social ao mesmo tempo que se consolidam os discursos sobre o "equilibrio das Finanças Públicas", são duas faces de uma mesma política que tem dado como resultados práticos o fecho das empresas e o aumento da fome.

A sacralização da empresa, tornada como o centro de toda a actividade económica, tem ignorado o trabalhador e a acção que os trabalhadores têm nessa actividade económica. A empresa, em si mesma, é algo de abstracto, é uma espécie de espaço que se anula pelo facto de nela existirem forças contraditórias. Mas no concreto da chamada "economia de mercado", a empresa é a negação do trabalhador (enquanto produtor e sujeito social) e a afirmação prepotente do patrão/empresário e dos seus interesses. O Estado e todos os seus orgãos tendem então a proteger os interesses dos "responsáveis" das empresas, olhando sómente depois e a um nível mais baixo para os trabalhadores.

É um pouco isto que se passa na Bombardier. Note-se no sentido da acção das forças políciais, note-se no sentido das hesitações do próprio governo.

Mas tal como já sucedeu noutras empresas afectadas pelas deslocalizações, muito pouca importância se dá à extraodinária capacidade dos trabalhadores que se mobilizam e auto-organizam para defenderem os seus postos de trabalho, para defenderem as máquinas que asseguram a produção, para defenderem a viabilidade das empresas de acordo com o conhecimento prático que têm da realidade produtiva, para defenderem também a coesão social dos espaços populacionais em que se inserem. Porque razão não é reconhecido a estes trabalhadores, capacidade de gestão, capacidade para dirigirem uma empresa?

Depois das deslocalizações, depois dos roubos da maquinaria, depois do drama mediatizado, mais ninguém se lembra do que aconteceu ... depois, o drama passa a ser a sua consequência, a fome!

Como já dissemos, as notícias do Público e do Jornal de Notícias espelham realidades endémicas à chamada "economia de mercado". Por isso, temos dito que no quadro desta economia, no quadro do liberalismo e do capitalismo, reformado ou remendado, não é possível o desenvolvimento e a aplicação de reformas e de políticas sociais sustentadas e profundas. Porque essas políticas e essas reformas precisam e alimentam-se também da participação e do contributo directos dos próprios trabalhadores. Não são obra de técnicos/tecnocratas, nem das chamadas "elites"...

Um governo de esquerda, como o do Partido Socialista, tem todas as condições para a recolocação das preocupações económicas. O centro da actividade económica deve ser o trabalhador, enquanto produtor e sujeito social. Naturalmente que isto obriga a uma redifinição profunda de todo o quadro legal existente. Impõe, por exemplo, acções que institucionalizem a participação dos trabalhadores e dos cidadãos a todos os níveis das empresas e da sociedade.

E um governo de esquerda deveria ter a coragem de aproveitar a capacidade de organização dos trabalhadores para planificar democráticamente a economia de acordo não com as necessidades abstractas do País, mas da maioria social.
Posted by Hello

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