tribuna socialista

segunda-feira, maio 31, 2010

O PROTESTO SOCIAL E AS CANDIDATURAS PRESIDENCIAIS ...

150 mil ou mais de 200 mil que se manifestam numa tarde de sol em Lisboa, não é um acontecimento qualquer. Manifestações já aconteceram em que os que se manifestavam, parecia que não sabiam ao que tinham ido. Na de Sábado, os entrevistados aleatóriamente pelas diversas televisões, sabiam o que queriam e mostravam convicção no seu protesto.

As "soluções" que os governos da União Europeia, com conselhos/pressões das agências de rating e do FMI, impõem, levam muita gente a concluir que insistir sempre no mesmo, não pode levar à resolução de uma crise que, embora mais grave que outras, é um sucedâneo de outras que já aconteceram.

Sócrates repete "soluções" semelhantes às aplicadas por Zapatero, por Berlusconni, por Papandreou, por Sarkozy, por Merkl ... primeiro-ministros de governos que já o eram antes desta crise. Governos que também já o eram quando injectaram milhões e milhões para estancar a bolha especulativa do sistema financeiro e que, não obstante isso, voltam agora a advogar cortes e mais cortes afectando prestações sociais e sistemas de protecção social.

Estas contradições começam a ser percebidas por muita gente. É um facto! Mas também é verdade que essa crescente percepção, não tem modificado politicamente um sistema que continua, nesta Europa, a priveligiar a alternância entre "soluções" politicas "genéticamente" muito semelhantes e com resultados muito parecidos.

Por cá, dizem as sondagens, que o PSD estará com um resultado próximo de uma "maioria absoluta", e, logo todos os chamados "fazedores de opinião" vieram a terreiro acrescentar que o somatório BE e PCP descia ligeiramente e a direita voltava a ter 52% no seu conjunto! No fim-de-semana da grande manifestação promovida pela CGTP, onde se falou da possibilidade de uma greve geral!...

Façam os desenhos que fizerem, inventem o que já está inventado, a realidade é que o movimento social das esquerdas só se tem baseado no protesto e muito pouco na capacidade de afirmação de uma nova alternativa.

Até as presidenciais, revelam a pouca capacidade de afirmação unitária das esquerdas. No fim-de-semana da grande manifestação da CGTP, a direcção do PS deu o seu apoio à candidatura de Manuel Alegre, mas nada se ouviu do candidato do PS, do BE e do PDA sobre os 200 mil que protestaram contra os diversos PECs.

Era suposto que Alegre fosse o candidato da "grande unidade das esquerdas". Por razões diferentes, as direcções do PS e do BE, falavam nisso. Mas o certo é que, perante a realidade, essa "grande unidade" não acontece e até divide os principais apoios partidários do candidato.

À esquerda não há transparência no debate, não há capacidade unitária de afirmação. Por isto, o protesto acaba por ser inconsequente!

Como é possível construir unidade quando perante questões que merecem protesto social não há consenso possível? A construção de uma maioria social ganhadora não é uma conta de somar!

Como não é possível construir projectos mobilizadores na base de abstracções de "apelo à cidadania", não se discutindo também nada de concreto. Fica, neste caso, uma "unidade" construída (!) com um populismo primário!

Manuel Alegre não acrescenta nada a Fernando Nobre, tal como Fernando Nobre não acrescenta nada a Manuel Alegre. Abstração e populismo até convivem muito bem!

Entre os 200 mil que se manifestaram no Sábado, haveria pessoas de todo o espectro partidário. A crise, nas suas consequências, não escolhe cores partidárias. Como haveria também apoiantes de todos os actuais e futuros candidatos presidenciais. Mas a unidade só durou enquanto durou a manifestação!

A crise precisa de uma solução política, nos planos europeu e nacional, que não repita fórmulas gastas nem alternâncias dos mesmos. Essa solução precisa de partir do movimento social que consegue unidades nos protestos, para uma nova relação entre todas as correntes e pessoas que se consideram de esquerda e que conseguem estar de acordo relativamente às causas da actual crise económica e financeira.

Enquanto isso não acontecer, ganharão as alternâncias dos mesmos e as "soluções" reutilizadas! À esquerda é urgente que o social e o político voltem a dar as mãos ...

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